Submissive

11.3K 688 67
                                    

Terminava de retocar a maquiagem e colocar meus grandes brincos de argola. Já conseguia ouvir o barulho dos passos pelo corredor. O som era característico de passos apressados sobre o piso de madeira, sempre seguidos de portas se batendo com força, apenas reforçando a pressa com que entravam nos quartos para aproveitar a noite regada ao prazer pago.

Desci as escadas apoiando-me no corrimão, meus saltos eram muito altos e achei melhor não arriscar uma queda. Chegando ao salão, era mais do que evidente: a Casa já estava cheia. No balcão, alguns dos que sempre frequentam a Casa as sextas à noite, estavam se embebedando e admirando as belas garotas. Elas se aproveitavam para persuadi-los a investir em mais uma bebida, quem sabe mais outra, outra, outra, e uma quinta, talvez? Assim, estariam contribuindo nos lucros do bar e ainda poupariam muitos esforços para entretê-los quando subissem para os quartos.

— Lizzie, estão esperando há um tempão nas barras e nenhuma das garotas foi até lá ainda! – Candice disse apressada passando por mim enquanto carregava uma bandeja repleta de uísque. Candice é a mais antiga da Casa e também muito especial para mim. Sempre fora uma grande amiga. Leva uma vida muito difícil e assim como tantas das outras garotas que trabalham para Sean, teve que se render à venda do próprio corpo.

Agradeci-a por me avisar, mas acredito que passou por mim tão rápido que talvez nem tenha me ouvido. Apressei-me cruzando o salão e indo até a área reservada para as "barras". "Barras" é como Candice chama o "pole-dance". Ela veio do interior e não se adaptou muito bem a essa nomenclatura. Sorri lembrando-me das vezes que zombei dela por isso. Mas logo meu sorriso foi apagado pelo que eu teria que enfrentar. O pequeno palco estava vazio e quatro homens sentavam-se de frente para ele, esperando inquietos pelo "espetáculo". Quando notaram minha presença, viraram e começaram a murmurar, resmungando e dando início aos assédios corriqueiros.

— Já era hora, docinho! Vamos, se apresse que não temos a noite toda! – disse um deles levantando sua garrafa de cerveja já quase vazia.

— Valeu a espera, hein, boneca? Olha só como rebola... Tá de parabéns! – um deles disse num tom embriagado e hostil. Quando aproximei-me dele para poder subir ao palco, tocou com suas mãos imundas minhas pernas, lançando-me um olhar desprezível de desejo obsceno.

Todos os dias eu passava pela mesma situação, mas nesses instantes não eram cabíveis qualquer tipo de lamentação. Pelo menos ali eu estava a me exibir para homens que jamais havia visto na vida e que talvez depois daquela noite, nunca mais voltasse a ver. Subi ao palco e comecei a forçar uma sensualidade abominável, uma insinuação repugnante, uma exibição asquerosa. Movimentava meu corpo conforme a música lenta que rolava ao fundo, tocando a longa barra de metal de forma a provocar aqueles que assistiam a tudo, sem nem mesmo se dispersar em piscar os olhos. Começaram a se estirar, estendendo os braços e tocando vez ou outra, quando eu não conseguia me afastar o bastante, a minha pele. Tocavam meu corpo como se aquilo lhes causasse a maior onda de prazer de suas vidas, quando do outro lado, o lado ao qual eu pertencia, a única onda que era causada era a onda da repulsa.

Virei-me de costas, apoiando-me na barra e rebolando lentamente até ficar que ficasse agachada sobre meus calcanhares. Levantei lentamente, inclinando-me ao máximo, para que pudessem ter a visão mais explícita de meu traseiro. Quando voltei a virar-me para encará-los, começaram a lançar algumas notas no chão, próximo aos meus pés, agradecendo com sorrisos perversos e falando bobagens das quais eu não fazia a mínima questão de me atentar. O pior de tudo talvez ainda estivesse por vir, pois quando me dei conta, vi Sean parado ao fundo da sala. Ele estava de braços cruzados e seus olhos fixos em meus movimentos sobre aquele palco. Ao seu lado notei um homem já velho, porém vestido com um colete. Talvez um gangster ou membro de algum Clube. Não era de se admirar, pois são bastante frequentes esses tipos na Casa.

Biker BloodOnde histórias criam vida. Descubra agora