Mercyless

8.3K 504 56
                                    

Algumas horas se passaram. Eu estava atendendo aos pedidos do bar quando vi Sean trancar sua sala e deixar a boate. Organizei o caixa e deixei a gerência nas mãos de Jimmy. Apressei-me pela rua, rezando para que Sean não estivesse faminto, pois eu ainda havia de preparar o jantar. Entrei em casa e já senti o ar pesado pela fumaça de seus charutos. Cheguei à cozinha e inevitavelmente acabei o encontrando debruçado sobre a ilha de centro, falando ao telefone.

— Sim, estão desconfiados... – ele dizia ao telefone sem ter me notado ali. – Talvez tenham recebido informações dos One-Niners, mas não quiseram entrar em detalhes... Tudo bem. Tenho algo em mente... De maneira alguma! Fique tranquilo que vai sair tudo exatamente como planejado.

— Desculpe, Sean. Eu não sabia que estava aqui e acabei entrando. –Eu disse assim que ele desligou a ligação. Sean apenas lançou-me um olhar indiferente, como se não se importasse com minhas explicações.

— É bom que tenha ouvido, assim poupo meu tempo. – disse se aproximando e acendendo um de seus malditos charutos. – Achei uma graça sua conversa com o brutamontes. Meus parabéns, Elizabeth... A cada dia me prova que tudo o que faço não lhes serve de nada. Realmente não tens medo de mim, não é mesmo? –perguntou de forma sarcástica. Eu mantinha-me calada, apenas olhando fixamente para o chão. –Hein, garota? Me responda! Além de se oferecer para o primeiro par de calças que aparece, agora também se finge de surda? –Seus dedos envolveram minha garganta e ele começou a sufocar-me, forçando-me a encara-lo.

— Sean... – murmurei por entre dentes, segurando seu pulso e tentando afrouxa-lo. Empurrou-me, liberando meu pescoço. – Eu só estava tentando ser gentil. Não aconteceu nada, apenas conversamos.

— Já que quer ser tão boa moça, irá se aproximar deles. Quero que implore por um trabalho naquela oficina. Se infiltre no meio daqueles bastardos! –Sean disse e baforou a fumaça de seu charuto diretamente em meu rosto.

— Como, Sean? Eu não posso simplesmente aparecer lá e pedir um emprego. Eles vão desconfiar... Vão querer saber porquê estou apelando a eles... –eu disse quase a sussurrar. Não queria desobedecer às ordens de Sean, mas o que me pedia era muito arriscado e eu estava com medo.

— Não me interessa, Elizabeth. Vá para cama com algum deles, diga que está apaixonada. Invente qualquer coisa! – berrou socando a mesa e fazendo-me encolher, temendo outro golpe. – Preciso de seus olhos e ouvidos lá dentro. Eles estão se envolvendo com meus negócios e não quero perder nenhum centavo por conta de um bando de motoqueiros miseráveis.

{...}

Um mês se passara e os filhos de Opie enxergavam-me como sua nova mãe. Eu havia conversado com Gemma Teller Morrow, – a matriarca dos Sons of Anarchy –, a respeito de um emprego na oficina e ela acabou me admitindo como a babá das crianças. Ela inicialmente não simpatizara comigo, mas Clay insistiu até que ela cedesse. Acabei descobrindo o motivo de Opie estar tão perturbado. Sua esposa, Donna, havia sido assassinada. As crianças eram muito jovens para entender e eu me esforçava ao máximo para entretê-las, sempre desconversando quando se lembravam de sua mãe.

Eu passava o dia todo como babá. Havia me afastado da boate e só via Sean à noite. Meus dias passavam como pétalas de Dente-de-Leão diante de meus olhos. Eu mal via o tempo passar. As crianças me faziam sorrir e me mantinham ocupada, mas no fundo eu sabia que era errado. Eu estava ali apenas para bisbilhotar o MotoClube. Na verdade eu deveria estar ali apenas para bisbilhotar o MotoClube, mas eu era estúpida demais. Havia me apegado a eles. Tratavam-me como se fosse da família. Opie havia se aproximado muito de mim e isso torturava-me ainda mais, pois eu sentia como se estivesse a usá-lo. Fui usada por aqueles que eram mais próximos de mim por toda a vida, e agora estava fazendo o mesmo com alguém que jamais mereceria.

Biker BloodOnde histórias criam vida. Descubra agora