Capítulo XIX - Sobrevivência do Mais Apto

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Octavia.

A aterrissagem foi pacífica, ao contrário do esperado. Bellamy e Clarke foram os primeiros a sair da nave, ajudando os outros. Coloquei a mão no pescoço procurando meu colar, mas ele não estava lá.
- Droga ! - praguejei um tanto alto ao sair da nave.
Todos voltaram os olhares para mim, e senti, principalmente, o peso do olhar de Milo.
- Você está bem ? - perguntou ele, hesitante.
- Sim, só não estou achando meu colar - respondi, atordoada.
- Seria este ? - a voz grossa de Bellamy se interpôs sobre a minha.
Em sua mão esquerda, pendia o colar que Lincoln fizera para mim. Mas no momento eu não conseguia sentir tanta felicidade ao reencontrá-lo.
Ele arremessou o colar para mim e o peguei em pleno ar.
Sussurei um "obrigado", mas acredito que ele não tenha ouvido. Todos tentavam andar mais rápido, e na medida do possível, falar o menos possível. Lana tinha planos, um deles era aniquilar a Terra e este dera errado. O que será que ela planejava agora ?
De repente, Bellamy parou no meio do caminho.
- Ouviram isso ? - proferiu ele, quase sussurrando.
Olhei de soslaio para os lados, para a mata verdejante e o rio límpido abaixo, mas nada parecia estranho ou fora do lugar.
- Do que você está falando, Bell ? - perguntou Clarke.
- Esses ruídos... Eles parecem, não sei, risadas - disse ele, por fim.
Desta vez, também pude ouvi-las. As risadas.
- Que droga é essa ? - murmurou Jasper.
Harper deu um grito de dor e a vi se ajoelhar no chão. Um dardo estava instalado em seu ombro direito, que sangrava.
- Terráqueos ? - sugeriu Monty.
- Não, Octavia é a Heda, eles não a atacariam - disse Clarke, atônita.
- Olha só quem voltou - sussurrou a voz de um homem, de dentro da mata.
- Francis - disse Raven, impávida - São os Ascendentes.
- Mas os Ascendentes são nossos aliados, certo ? - disse Bellamy - Luna nos deu a localização sua localização, eles estavam...
A risada de uma garota se interpôs a fala de Bellamy.
- Façam-me o favor... - disse Luna, aproximando-se de nós - Eu sirvo apenas a minha Rainha.
- Você nos dar a localização de Raven não foi um ato de bondade, foi ? - Clarke disse, fitando-a.
- Nada é, Wanheda. - disse ela.
- O que querem ? - indaguei.
- Bem, a Rainha não quer problemas para dominar Polis...
- Um momento - disse Milo - Lana vai tomar Polis ?
- A maioria dos cidadãos da Cidade da Meia-Noite já estão com ela, marchando em direção à sua cidade - disse Francis, rindo - É o fim para vocês. Lana Labounair sempre vence.
Discretamente, retirei o dardo das costas de Harper, que abafou seu grito de dor com a mão. O segurei por entre os dedos, mirando na carótida de Luna.
- Nem pense nisso, Octavia - disse a voz embargada de Luna - A menos que queira ver seu irmão morrer na sua frente.
Suspirei, largando o dardo lentamente.
- Irmão - prosseguiu ela, sorrindo - Acho que está na hora.
Francis assentiu, e num movimento súbito, largou uma bomba de gás.
A última coisa que vi foi Milo lançando-se em cima de mim.
                            +++
Quando abri meus olhos, senti uma forte dor no meu tornozelo direito. Eu o havia torcido.
Eu estava fora da floresta, mas não estava sozinha. O lugar era escuro, inodoro e principalmente, frio. Tentei com bastante dificuldade levantar-me, indo em direção à alguma porta ou possível saída, mas só havia paredes.
- É inútil - disse uma voz familiar - Já tentamos de tudo.
Era uma voz feminina, grave e ao mesmo tempo tranquilizadora. Era a voz de uma amiga.
Era a voz de Indra.
Eu então percebi. Eu não a via desde antes da morte de Lincoln, eu nem sequer sabia se ela tinha conhecimento sobre isso.
- Indra - murmurei, tentando não chorar.
- Olá, Octavia - retrucou ela, e mesmo diante da escuridão, pude ver seu sorriso.
- O que está fazendo aqui ? - indaguei.
Indra deu uma breve pausa, sua respiração era irregular.
- Lana Labounair ordenou um saqueamento em Polis - disse ela - Muitos dos guardas foram presos ou mortos, assim como diversos cidadãos. E bom, como eu já disse ao seu irmão, eu não estou nada bem.
Gelei. Indra havia falado com Bellamy ?
- É, eu também estou aqui - disse a voz fatigada do meu irmão.
- Bellamy... - tentei processar a situação - Onde estão os outros ?
- Não faço ideia - respondeu ele - Quando acordei, apenas nós estávamos aqui.
Sentei-me no chão, envolvendo meus joelhos com os braços. Bellamy e Indra estavam sob o mesmo teto, e nada acontecera. Indra não era conhecida como uma mulher que perdoa fácil, muito menos o assassino de seu filho. A menos que ela não soubesse...
- Você soube sobre... - comecei, sendo imediatamente cortada por ela.
- De Lincoln ? Sim. - disse ela, serena - E também sei que Bellamy, com um ato de misericórdia, tirou-lhe a vida.
- Misericórdia ? - bradei - Bellamy o matou !
- Por que Lincoln o pediu - disse Indra - Ao contrário do que pensa, Lincoln nunca foi enjaulado pelo medo da morte. Ele viu a morte como uma velha amiga e também como a salvação para aqueles a quem ele amava.
- Então é verdade ? - suspirei, deixando algumas lágrimas escaparem - Lincoln pediu para que você o matasse ?
- Quando ele soube que a única maneira de me livrar da maldição era matando alguém, ele se ofereceu - disse Bellamy - Eu neguei, mas ele insistiu. Pediu-me para deixá-lo morrer como um herói, e foi assim que o vi parir. Ele nos salvou.
- Lincoln me contou tudo isso - disse Indra, dando uma risada abafada - Na verdade, ouvi pela boca de Judith, mas sei que era o meu filho.
Levantei-me, tentando digerir tudo aquilo. Meu Lincoln se fora para me salvar, para salvar a todos nós. E ao tentar achar uma justificativa para tanta dor, eu a transformei em ódio.
- Bellamy, me desculpe - disse, deixando todas as lágrimas fluírem - Sei que não mereço, mesmo depois de tudo que fiz, mas...
- Octavia, você é minha irmãzinha - disse ele, abafando um riso - Eu não preciso perdoá-la por nada.
- Onde você está ? - disse, rindo e chorando ao mesmo tempo - Preciso de um abraço.
E, tateando a escuridão, eu o encontrei. O abracei como nunca havia feito antes, e naquele abraço supri tudo o que havia acontecido antes disso.
Algo se abriu, e uma rajada de luz nos encobriu.
- Que lindos - disse Luna, segurando a porta de ferro que nos mantinha na cela. Ou ao menos no que parecia ser uma cela.
- Eu vou matar você, e vou ter muito prazer em ver seu sangue escorrer - vociferei.
- Muito corajoso de sua parte me ameaçar em minha casa, Heda - disse ela - Irmão, tire-os daqui.
Francis entrou, removendo-nos, um a um de dentro.
No lado de fora, nos encontramos com nossos amigos, com exceção de Harper e Nathan.
- Onde estão Harper e Nathan ? - questionou Bellamy.
Clarke abaixou a cabeça, deixando visíveis suas lágrimas.
- Eles não sobreviveram a bomba de gás - disse ela.
- É como dizem, não é mesmo ? - disse Luna, segurando meu ombro - A sobrevivência é garantida ao mais apto.
Num instante, deixei minha raiva controlar-me, e a segurei pela cabeça entre meus braços. Qualquer movimento dos mesmos, e o pescoço dela seria quebrado. Ao virar-me para a frente, vi Francis na mesma situação, entretanto, Indra era sua vítima.
- Largue a minha irmã, ou sua amiga vai morrer - disse ele, entredentes.
- Octavia, não se atreva - disse Indra - Meu filho morreu como um herói, e eu quero morrer da mesma forma. Mate-a, agora !
E rapidamente, quebrei o pescoço de Luna.
Quase que ao mesmo tempo, Francis fez o mesmo.
Um grito se prende na minha garganta, e tudo parece acontecer em câmera lenta.
De um lado, Bellamy segurava o revólver de Luna em direção à Francis, do outro, Milo e Clarke me puxam para o outro lado do corredor. Mas, por mais estranho que pudesse ser, eu conhecia aquele corredor. Eu estava em Polis, todos estávamos e se eu estivesse certa, Lana conseguira tomá-la.
Escutei o disparo da arma e vi o reflexo de alguém correndo atrás de nós. Bellamy.
Sorri, mas então as lembranças vieram com força. Indra, Nathan e Harper, todos eles estavam mortos. Eu não conseguia gritar, não conseguia chorar, estava impotente. Apenas esperava que, em algum, Lincoln os tivesse recebido para a paz.

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