Capítulo XV - Briga de Família

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Octavia.

     "Brigas familiares não obedecem a nenhuma regra. Não causam muita dor ou feridas, mas produzem fendas que não fecham."                                     
         F. Scott Fitzgerald
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Dor e luto.
Faziam apenas algumas horas que o amor da minha vida havia morrido.
Lincoln morrera por nada além de caprichos.
Pandora o matara por algo inútil, ela o chamara de Efeito Colateral.
Ainda lembrava quando o conheci. Ele não falava, era conhecido como O Mudo.
Eu estava nos aposentos da Comandante, olhando para a total escuridão que me cercava.
Dentro de mim havia morrido algo, e isto era algo irreparável.
Ainda teria que comparecer ao funeral amanhã cedo, agradecendo os pêsames, os elogios e até mesmo o ódio retorcido.
Surpreendentemente, alguém bateu na porta me despertando do devaneio.
Quando levantei e abri a porta, me assustei ao perceber que se tratava de Abby Griffin.
- Desculpe incomodar essa hora, Octavia - disse ela, séria - Mas preciso te mostrar algo.
- Agora, na madrugada ? - questionei, desconfiada.
- É sobre Lincoln - finalizou ela.
A partir dai, ela não precisou dizer mais nada.
A segui sem nem mesmo antes fechar as portas do quarto.
                       ***
O novo laboratório era frio.
Após a destruição de Arkadia, adaptamos tudo que havia lá nas instalações de Polis, e o laboratório não fora uma exceção.
- Pode dizer Abby - sussurrei - O que aconteceu ?
- Ao fazer uma autópsia, descobri que Lincoln não morreu de sua doença - disse ela.
Paralisei.
- Como assim ?
- O que Lincoln tinha era similar a um câncer, mas nenhum dos fatores cancerígenos resultou no óbito - continuou Abby - Foi falta de ar nos pulmões.
- Falta de ar ? - indaguei - Sra. Griffin, aonde quer chegar ?
- O que quero dizer, é que ele foi asfixiado - disse ela - Ele foi assassinado.
Quem mataria Lincoln ?
- Isso é impossível - disse - Estávamos todos no quarto quando ele morreu.
- O monitor cardíaco anunciou a morte ? - perguntou ela.
A resposta era não.
Lincoln havia apenas fechado os olhos quando eu comecei a chorar e sai do quarto.
Ele havia morrido pouco depois, mas não ali, não por sua doença, mas ele foi assassinado.
- Você tem filmagens do quarto, Abby ? - perguntei, furiosa.
- Infelizmente ainda não instalamos as câmeras - disse ela - Mas não se preocupe, vamos pegar esse assassino.
- Claro que vamos - disse - E quando eu pegá-lo, eu o matarei.
                        +++
No dia seguinte, após o funeral, nos reunimos na Sala do Trono.
Todos os meus amigos estavam lá, meu irmão também.
Eles deveriam saber que haviam matado nosso amigo, que tínhamos um assassino sangue frio entre nós.
Rapidamente, Abby contou o que descobrira e senti todos congelarem, assim como eu, quando escutei.
- Eu vou iniciar uma busca por toda a cidade de Polis - disse - Não vou descansar até que o desgraçado ou a desgraçada esteja em minhas mãos.
- Acha que o assassino ou a assassina ainda esteja aqui ? - perguntou Murphy.
- Sim, John - disse - Quem matou Lincoln teve acesso ao quarto dele, logo, era alguém que nós confiamos.
- Claro que sabemos que não foram nenhum de vocês - disse Abby - Mas ainda sim, precisamos alertá-los.
- Bellamy, tem alguma suspeita ? - perguntei.
Senti ele nervoso, mas não era pra menos. Lincoln também era seu amigo, e uma notícia dessas não era fácil.
Mas foi Clarke que se pronunciou.
- Acho bem suspeito que logo quando Jaha retornou, alguém tenha sido assassinado - disse ela.
- Eu concordo com Clarke - disse Abby - Não confio no Thelonious, e muito menos nas suas boas intenções.
- Ele está planejando algo grande - disse Raven - Ele aparecer pra nós definitivamente não foi coincidência.
- Jaha mandou matar a minha mãe - disse - Me deixou presa, e ainda nos enviou para esse inferno. Mas se ele matou Lincoln, ele vai se arrepender de ter voltado.
                       +++
Quando Jaha foi preso, ele parecia bem surpreso.
- Muito bem, Jaha - disse John - Vou fazer um breve interrogatório, responda com a verdade, ok ?
- Ok - disse ele - Mas, posso saber por que estou aqui ?
- Você está sendo acusado de matar Lincoln - disse.
- O terráqueo ? - perguntou ele.
- Sim, o terráqueo - respondi - É bem estranho ele ser assassinado na noite em que você voltou.
- Eu não matei seu namorado, Octavia - disse Jaha - Nem teria como.
- Octavia, pode vir aqui por favor - disse Raven.
Me dirigi para fora, enquanto John continuava o interrogatório.
- O que foi, Raven ? - perguntei.
- Tem uma pessoa que quer falar com você - disse ela.
- Olá, Octavia - disse aquela voz tênue e cruel.
- Olá, Lana - disse.
                       ***
Lana Labounair estava sorridente aquela tarde.
- O que diabos você quer ? - perguntei.
- Só queria agradecer - disse ela.
- Agradecer o quê ?  - indaguei.
- Bellamy cumpriu a parte dele no acordo - disse Lana - Afinal, ele matou Lincoln.
Meu mundo desabou.
Agora tudo fazia sentido.
Bellamy ficara frisado ao ser chamado na Sala do Trono, ele não soubera como reagir.
- Querida, você está bem ? - perguntou ela.
- Saia daqui, Lana - gritei.
Ela sorriu e então partiu.
Bellamy, meu irmão, havia matado o amor da minha vida.
Ele havia negado sua culpa, e deixaria outro pagar em seu lugar.
E por isso, ele morreria.
                     ***
- John, vem comigo - disse.
Ele sem questionar, me seguiu.
Bellamy estava andando pelo corredor com Clarke.
- Ai está ele ! - anunciei.
- O, o que foi ? - perguntou ele.
- Nada irmãozinho, vem comigo - disse.
- Octavia... - começou Clarke.
- Agora não, princesa - disse - Isso é assunto de família.
Numa sala reservada, encontravam-se meus dois irmãos, Bellamy e John.
- Octavia, o que está acontecendo - perguntou Murphy.
- Bellamy matou Lincoln ! - gritei.
- Bellamy ? - indagou ele - Como você descobriu isso ?
- Lana Labounair - disse - Ela me contou. Agora diga que é mentira, Bell !
Ele não respondeu.
- Diga !
Ele continuou calado, mas então, já não tinha controle sobre mim.
Eu parti pra cima dele, e o soquei, várias e várias vezes .
John tentou me conter, mas a minha força e o meu ódio eram superiores a ele.
Eu o derrubei no chão, e continuei socando seu rosto, e senti seu sangue na minha mão.
- Você já foi meu irmão mais velho, mas agora - disse, cuspindo no outro lado - Você não é nada para mim.
E virando as costas, eu sai do quarto sem olhar para trás.
                        +++
Eu poderia tê-lo matado, mas não faria isso agora.
Queria que ele sofresse mais um pouco...
- Octavia ? - disse uma voz familiar.
- Milo ? - indaguei - O que foi ?
- Comigo nada, mas sua mão está sangrando...
- O sangue - disse, hesitante - O sangue não é meu.
- Octavia, você está mesmo bem ? - questionou ele.
- Sim, estou bem
- Não suportaria que nada acontecesse a você - respondeu Milo.
- Milo...
Não consegui terminar, pois ele me calou com um beijo.
Um beijo doce e demorado, que quase me fez derreter em seus braços.
Ele não era Lincoln, mas nunca sentira aquilo com mais ninguém.
O cheiro de gel e canela o preenchiam por completo.
E naquele momento, ele estava perfeito.
- Eu te amo, Octavia Blake - disse ele, por fim - Me espere aqui, eu já volto.
Mas eu não o esperaria.

Tinha meus próprios planos em mente, e quando ele cruzou o corredor, eu cruzei a saída.
                        ***
Aquilo com Milo foi intrigante.
Ele a pegou e a beijou com uma segurança, com aqueles braços...
Octavia ! Meu próprio subconsciente me julgava.
Milo era proibido para mim, hoje e para sempre seria.
Naquela noite de terça feira, a casa de campo de Lana Labounair parecia agradável.
Eu nunca pensei que me encontraria ali sozinha, mas o destino era curioso.
Quando bati na porta, percebi que ela já  aberta.
Entrei na casa, e me deparei com ela olhando fixamente para a lareira.
- Octavia ! - disse ela - O que está fazendo aqui ?
- Eu preciso da sua ajuda, Lana - respondi
- Minha ajuda, para quê ? - perguntou ela
- Quero que me ajude a matar Bellamy - disse.
- Matar Bellamy ? - disse ela - Mas o que ganho com isso ?
- Vou ferir Bellamy aonde ele me feriu - disse - No coração. Ou seja, ajude-me a matar Bellamy e eu a ajudarei a matar Clarke e quem se puser no caminho.
Lana sorriu pra mim.


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