Capítulo 2

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Olho, mais uma vez, para o rosto de cada uma das minhas convidadas. A metade não conheço, eu nem sequer já as vi em algum lugar. Elas são esposas de alguém, nomes da sociedade ou filhas de figuras importantes.

Estou me sentindo perdida no meu próprio chá de despedida.

Não era nada disso que eu havia imaginado.

Queria ir para um bar qualquer, beber algumas doses de tequila e dançar até perder a ponta dos meus dedos. Levaria comigo uma ou duas amigas que considero amigas de verdade.

A sensação de querer fugir e correr para longe de tudo isso, está me sufocando. Tento aniquilá-la com todas as minhas forças, não posso perder o juízo faltando dois dias para o meu casamento. Essa vontade vai passar, ela tem que passar. Provavelmente, seja apenas nervosismo comum de pré-casamento, ou TPM.

O que mais me apavora é que essa vontade sempre esteve aqui dentro de mim. Essa sensação de buscar liberdade me acompanha desde a minha adolescência.

Sempre quis ser outra pessoa, uma mulher livre, decidida, que trabalha, que grita, que não tem medo de falar e ser considerada inadequada.

Nunca quis ser essa mulher que me tornei, ou melhor, que me tornaram.

Odeio ter nascido com todo meu futuro traçado, ter sido tratada como princesa e precisar me portar como princesa.

Parece ridículo, mas será que eu seria menos mulher se soubesse assobiar? Se falasse alto às vezes? Ou se por ventura não estivesse vestida como uma boneca todos os dias da semana e todas às horas do dia?

Mulher deixa de ser mulher se solta palavrões quando está chocada, indignada ou apenas por que parece o momento para isso?

Lembro-me do dia que cheguei em casa com minha primeira, e única, calça jeans. Minha mãe nem surtou, apenas abriu seu sorriso frio e colocou no cesto para doações. Suas palavras foram as que ouvi minha vida toda: Isso não é feminino, Isabel.

Não estou permitida a fazer nada, ou usar nada, que ela não considere feminino. E, oh Deus, a lista dela de feminino é recheada de pérola, renda, saia lápis, sapato de salto, maquiagem, voz aveludada e cabelo fabuloso, como ela mesma diz.

— Pronta para casar, Isabel?

Olho em direção à voz ao meu lado, sorrio para uma senhora que cruzei uma ou duas vezes no clube. Não faço ideia de quem seja.

— Estamos com tudo organizado — falo simpática. — Minha mãe ajudou muito.

— Catarina sempre foi ótima em organizar eventos, sua mãe tem um bom gosto incrível!

Seu sorriso brilhante muda para uma expressão falsa quando ela volta a falar.

— Imaginei que você estava bem ocupada, percebi que não foi ao último encontro da Liga das Mulheres. — Seu tom parece de advertência.

Liga das Mulheres? Aquilo está mais para Liga das Velhas Gagas. Quando digo "Velhas Gagas" não estou me referindo à idade, mas aos pensamentos antiquados e ultrapassados. Com certeza minha bisavó, que faleceu faz mais de dez anos, iria concordar se tivesse ido comigo. Fui em uma única reunião por indicação da mãe do Ricardo, não tenho a menor intenção de continuar indo.

— Organizar um casamento dá muito trabalho.

— Agora que você vai se tornar uma mulher casada, deve cumprir com seus deveres. — Outra voz fala atrás de mim. — Toda boa esposa deve se envolver em projetos sociais. Não fica bem, aos olhos da sociedade, você ficar em casa e não ajudar ao próximo.

Pronta para Casar - DegustaçãoOnde histórias criam vida. Descubra agora