Harry

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Our love was a collision of two singularities, born when fields of thunder met, and we were the most beautiful storm to wreck havoc on this Earth.

William C. Hannan.


O universo deve estar ao meu favor, pois peguei todos os faróis verdes durante o caminho e, por incrível que pareça muito pouco trânsito. Estacionei em frente da pequena casa em um bairro pouco movimentado de Boston e subi correndo a escada que dava para porta de entrada, batendo com pressa.

A senhora Rosa abriu na minha quinta batida, não muito contente com minha afobação.

Rosa: Essas crianças que vêm bater e depois... Ah, oi Harry.

Harry: Boa tarde, senhora Rosa. Desculpe-me vir assim sem avisar, é que foi algo instantâneo, eu preci...

Rosa: Nossa, que friaca! Venha, entre Harry, antes que pegue um resfriado.

Ela saiu me puxando e me mostrou a sala, falando para eu me acomodar em uma das poltronas reclináveis.

Rosa: Vou fazer um chazinho para nós.

Harry: Não precisa não, senhora.

Eu não tinha tempo para aquilo, queria conversar com a Marissa.

Rosa: Claro que precisa! Que tipo de anfitriã você acha que eu sou? Que não vai te oferecer nem um chazinho.

A senhora Rosa tinha um jeito de olhar que dizia "te desafio a ir contra mim", era meio assustador, então apenas concordei com a cabeça. Enquanto ela foi para a cozinha, fiquei olhando pela casa buscando a Marissa. Não tinha muito que bisbilhotar, era uma casa bem pequena, o único quarto estava com a porta aberta e vazio. Nenhum sinal da Mar.

Dez... Quinze minutos... E nada desse chá ficar pronto. É tão difícil assim fazer um chá? Pelo amor de Deus, é só colocar a água para ferver. Estava batucando a perna, impaciente, quando a Rosa voltou com uma bandeja. Depositou-a na mesinha da sala e nos serviu do líquido.

Rosa: Um chazinho de erva-doce!

Sorvi da xícara de porcelana e, além de queimar a boca, tive que me controlar para não vomitar. Isso está horrível! Quem erra a mão num chá? Nossa senhora... Tenho minhas dúvidas se ela não estava me servindo urina. Tive que controlar o ímpeto de cuspir tudo de volta.

Rosa: Ui, está quente demais! Melhor esperar um pouco.

Inspira, expira. Ela é uma senhora de idade, e eu sou um cavalheiro. Lembre-se da educação que o seus pais te deram, Harry. Lembre-se também o porquê você está aqui.

Rosa: Diga-me, rapaz, a que devo a sua visita?

Harry: Então, senhora Rosa, eu vim conversar com a Marissa. Soube pelo Zackary que ela está passando uns tempos aqui com a senhora.

Rosa: Ah sim, aquela meni... AI DEUS DO CÉU! Meus biscoitinhos de nata!

Ela se levantou num pulo e partiu para a cozinha. Duas em cada três pessoas diriam que a Rosa está tirando uma com a minha cara. Isso não é possível. Marissa, cadê você?

Cinco minutos depois, a idosa voltou para a sala com outra bandeja, agora com biscoitos quentinhos, não quero me arriscar. Pelo jeito as habilidades culinárias dela não são as melhores.

Rosa: Pega um biscoitinho, rapaz.

Seus olhos me diziam que aquilo não era um pedido, e sim uma ordem. Já disse que essa mulher é assustadora? Agora entendo com quem a Marissa aprendeu seu olhar. Peguei um e dei uma pequena mordida. Precauções, meu povo, precauções! Fui pego de surpresa, o sabor era magnífico.

CollideOnde histórias criam vida. Descubra agora