Capítulo 1, parte 5.

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Assim que chegaram à Terra, os alunos da Academia foram avisados a respeito da necessidade de se manterem camuflados, disfarçando todo e qualquer dom sobre humano. A Terra, embora fosse um dos 16 planetas aliados, preferia manter a existência de outros povos do universo em sigilo de sua população.

Ao chegarem ao Brasil, um país terrestre onde eles passaram um animado carnaval, lhes foi explicado que o tal samba era uma dança nativa muito difícil de ser aprendida por estrangeiros. Mas Keynel não dera muita atenção a este detalhe, alegando que dançar bem não era um atributo impossível a um terráqueo, e que o tal samba não podia ser mais difícil que qualquer outra dança. Após analisar os nativos em ação por 2 ou 3 minutos, ele se pôs a realizar passos elaborados. Sua eficiência era suficiente para fazer qualquer sambista nativo parecer um mero aprendiz.

Keynel era um trolk. Os trolks eram o povo mais forte e rápido entre os aliados, com a força e velocidade em grau 10. Além disso, eles eram o único dos aliados com controle corporal também em grau 10, o que os permitia executar com perfeição qualquer tarefa que dependesse do corpo.

– É verdade. Shiva concordou. – Foi o Keynel começar a sambar e ninguém mais nem ousou entrar na pista. Ele foi o show da noite!

– E eu estava dançando sozinho? Keynel indagou, uma grande ironia presente em sua voz. – Até parece que a Haysla não deu um show comigo. Quem te ouve falar 'Hay só', pensa que você dança mal pra caramba.

– Eu danço muito bem, obrigada, embora eu precise, mesmo que a contra gosto, admitir que não tanto quanto você... Mas eu disfarcei muito melhor. Haysla garantiu.

Ela e Violyt estavam bastante acostumadas a disfarçar seus dons na Terra, já que haviam morado lá por quase 8 anos. O controle corporal das duas era grau 5, o que estava longe do grau 10 dos trolks, mas que já era o suficiente para deixar os terráqueos e seus costumeiros graus 3 bastante para trás.

– Essa paradinha de dança aí não foi nada perto do show que o Keynel e a Kristin deram naquela estação de esqui, lá num tal de Estados Unidos. Lohan comentou.

– Ah, fala sério, gente! Eu não tive culpa. Keynel se defendeu. – Eles me colocaram para esquiar numa estação de criancinhas... Aí, quando eu quis ir para uma área mais interessante, eles disseram que era proibido, porque era perigoso demais. Como se alguma pista de esqui no universo fosse perigosa demais para um trolk.

– Ninguém lá sabia que você era um trolk, 'Key só'. Haysla o lembrou. – Aliás, ninguém lá nem sabe o que vem a ser um trolk.

– E essa estação aí que você diz ser de criancinhas. Shiva acrescentou, sorrindo. – Causou sérias escoriações e contusões em vários de nós, que não possuem seu controle corporal exagerado.

– Eu não fiz nada demais! Keynel garantiu.

Os alunos que estiveram presentes à tal excursão deram uma risada debochada coletiva.

– A não ter feito nada demais ele se refere a saltar de uma pista à outra por sobre um precipício altíssimo e... sei lá... a tipo uns 60 metros de distância uma da outra, ou mais. Haysla tentava manter um tom de recriminação ao narrar as peripécias de seu namorado, mas sua voz não demonstrava nada além de admiração. Fazer bagunças, quebrar regras e desafiar a coerência não eram atitudes que ela desaprovava. Aliás, coisas como essas eram a cara de Haysla.

– Mas ninguém viu. Kristin tomou para si a tarefa de defender seu irmão.

– Claro que não. Shiva concordou. – Donank não deixou.

– O que o Donank fez? Perguntou Dionísio, um kritiúnio do 3º AL.

– Quando ele percebeu o que o Keynel faria, ele lançou uma corrente elétrica numa árvore. Foi Lohan quem respondeu. – Um galho mega grande caiu em cima de uma caixa de metal.

Donank era um hestriático do 4º AL e grande amigo de Haysla e Violyt. Como todo hestriático, ele controlava a eletricidade. Além disso, Donank era monitor de laboratório e fora nomeado monitor oficial da excursão, representando a Academia Frantila.

– O barulho foi tão grande que todo mundo se virou para olhar. Violyt comentou, baixinho, um leve sorriso divertido iluminando seu rosto branco, emoldurado por seus longos e lisos cabelos de um loiro claríssimo. Seus olhos castanhos espelhavam a alegria exibida por seu sorriso suave. – Aí ninguém viu quando o Keynel deu seu super hiper mega salto.

– Tá, então vocês resolveram que só os trolks quebraram regras. Keynel disse num tom sarcástico. – Vou contar para vocês o que os portadores de controle mental grau 7 aprontaram numa boate lá...

– Aprontamos pra não deixar você aprontar uma pior. Era a vez de Haysla se defender, mas seu olhar travesso denunciava que ela não se recriminava por seu ato.

– Eu estava com tudo sob controle. Keynel se levantou da cadeira, a fim de interpretar com mais precisão sua narrativa. – Foi assim... A Sr Rhieavatre aqui resolveu ir a tal boate desfilando um vestidinho bastante curto e indecente...

– Você disse que eu estava linda. Haysla o interrompeu.

– Você estava linda. Keynel confirmou, abaixando-se para estalar um beijinho em sua namorada. Ele deixou seus olhos escaparem pelo corpo escultural de Haysla, embora, certamente, não tenha conseguido vislumbrar nem sombra dele... Ondina vivia o auge de seu inverno, e o frio e a neve obrigavam Haysla a se cobrir infinitamente mais do que gostaria... Mas os traços perfeitos do belíssimo rosto de Haysla, sua pele morena, seus olhos azuis e seus lindos cabelos descendo em uma cascata de largos cachos, já foram o suficiente para Keynel lançar um olhar sensual na direção da encantadora garota à sua frente que, para seu deleite, atendia por sua namorada. – Como sempre. O problema é que eu não fui o único a achar que você estava linda. Um cara babaca parou ao lado dela e a agarrou pelo braço. Quero ver quem acha que eu devia ter ficado de braços cruzados.

A galera se divertia com o teatro de Keynel.

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À sombra do perigo. Sob a luz das galáxias, livro 2.Onde histórias criam vida. Descubra agora