— Já falei pra você não me chamar de meu garoto!
Lino Galindo entrou apressado pela sala de estar, escancarando a porta de entrada. Carlos estava em seu encalço. Vieram discutindo ao longo de todo o trajeto, desde que saíram da escola.
Os Galindo moravam em um prédio antigo, mas de apartamentos aconchegantes, como a maioria das residências que se encontram no bairro da Tijuca. — antigo reduto da classe média alta do Rio de Janeiro. Além disso, era muito bem localizado, há menos de duas quadras do metrô na praça Afonso Pena, nos limites do território tijucano. Quando criança, Lino costumava brincar no pequeno parque que ficava junto à estação. Lá aprendeu a andar de bicicleta sem rodinhas sob o incentivo do pai e os olhos apreensivos de sua mãe.
Já a escola ficava perto da Praça Cruz Vermelha, no centro da cidade. Ainda que um pouco fora de mão, com sorte e sem trânsito, o curso entre os dois pontos não levava mais de vinte minutos de carro. De qualquer maneira, na cabeça do garoto, aquele trajeto pareceu durar uma eternidade.
Nervoso, Lino jogou a mochila com violência no sofá de tecido marrom coberto com uma manta verde, que escondia algumas manchas inconvenientes de café.
— Eu não tô nem aí pra sua atenção, Colombo! Da próxima vez eu pego um ônibus e chego aqui antes de você! — gritava para as paredes enquanto se encaminhava em direção a um batente sem porta, que servia de divisória entre a sala de estar e a cozinha.
Ao entrar no cômodo, viu sua mãe sentada diante de uma mesa redonda de madeira que ficava encostada à parede oposta à passagem. Clara estava de costas, aparentemente cabisbaixa. Vestia uma blusa de linha azul clara com as mangas arregaçadas até os cotovelos e uma calça jeans azul escura. Sempre foi uma mulher muito bonita. Tinha a pele branca e cabelos avermelhados, ondulados, até a altura dos ombros. Havia conhecido Hugo quando ele cursava faculdade e ela trabalhava como estagiária na biblioteca da Universidade. O cabelo cor de fogo sempre impressionou o estudante de História, que nunca deixou de flertar com ela entre um e outro empréstimo de livros.
Nos últimos dois anos, Clara havia emagrecido e ganhado algumas olheiras, porém, nada que prejudicasse sua bela aparência. Sem mudar um único centímetro de sua posição, Clara falou:
— Fiquei sabendo o que você aprontou na escola. — a voz estava um tanto embargada. — Não sei mais o que eu faço com você, Lino... sério.
O filho foi desacelerando os passos e encaminhando-se em direção à mesa. Puxou uma das cadeiras de madeira branca e sentou-se ao lado da mãe, que demonstrava nítida aflição. Diante deste quadro, achou melhor dizer alguma coisa:
— Desculpa. — ele falou segurando as mãos de Clara como se procurasse conferir mais credibilidade ao seu pedido. Apertou seu pulso e ensaiou um carinho com a ponta do polegar.
— Desculpas? — ela virou o rosto em direção ao filho. — Mais uma vez? — Falou, mostrando-se extenuada com toda aquela situação. — Você acha que eu também não sofro? Por acaso, você pensa que eu também não me pego questionando a Deus em minhas orações? — Soltou o braço da mão do filho e fulminou-o com os olhos. — Mas, nem por isso eu saio dando socos no meu chefe, Lino Galindo!
O garoto jogou o corpo para trás, apoiando as costas com toda força no encosto da cadeira.
Tô ferrado!
Nos últimos dois anos, a mãe nunca havia repreendido seu comportamento arredio dessa maneira e isso o assustou. Diante daquele sermão, reagiu levantando suas fartas sobrancelhas e tudo o que fez foi erguer as mãos, mostrando as palmas como quem se rende. Contudo, isso não foi o suficiente para calar sua mãe, que continuou:
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Lino Galindo e os Herdeiros do Trono do Sol
FantasyAndes, 1532. A sucessão ao Trono do Sol dos Incas leva à uma inevitável batalha entre irmãos e dinastias. Na disputa pelo poder, uma massa de gente é conclamada a defender os interesses de reis sádicos e príncipes ardilosos. Guerreiros virtuosos erg...