Lino Galindo e os Herdeiros do Trono do Sol

09 - Um Café Quântico

Rio de Janeiro. Maio de 2012.

Duas semanas antes do acidente.

Lino Galindo acordou mais cedo do que o habitual naquele sábado. Ficou um tempo no colchão decidindo entre ceder à sonolência e o compromisso de se levantar. Ele e o pai haviam combinado de percorrer a Trilha do Pico da Tijuca, mas o travesseiro implorava por mais alguns minutos de sua companhia.

Consumido pela dúvida e por doses cavalares de preguiça, virou para o lado e mirou dois livros que deixara sobre a escrivaninha. Prometera a si mesmo que no final de semana, avançaria alguns capítulos de sua leitura. Na casa em que vivem uma biblioteconomista e um historiador, era quase impossível fugir do gosto pela leitura.

Lino tinha uma predileção declarada por romances históricos, principalmente sobre a antiguidade e a época medieval, como aqueles escritos por Bernard Cornwell e Conn Iggulden. Porém, ele encarava aquilo como uma distração, pois não pensava em levar adiante a mesma profissão do pai. Até mesmo porque aquelas obras, segundo o próprio Hugo, não eram fiéis aos fatos históricos e exatamente por isso, eram muito mais legais do que a própria história.

Se dependesse do garoto, ele seria professor de educação física como sua tia que vivia no interior de São Paulo. Atividade física era a sua verdadeira paixão. Na realidade, gostava muito de competir. Certa vez, no famoso interclasse de seu colégio, o Três Marias, ele passou o dia todo pulando entre disputas esportivas. Jogou vôlei, basquete, futebol de salão e finalizou o dia com uma acirrada peleja de handebol contra a turma do 1º A. Era apenas em momentos como esses que o garoto dava o ar da graça junto aos demais colegas. No mais, era o Lino Galindo de sempre, jogado no fundo da sala e afundado em sua mochila.

Evidentemente que entre tantas atividades, havia as suas preferidas. Além do arqueirismo e dos esportes de aventura que geralmente praticava com o pai, gostava muito de futebol e tudo isso ficava estampado na decoração de seu quarto. Sobre a escrivaninha, pregado na parede, havia um pôster com uma bela paisagem. No primeiro plano da imagem, aparecia uma montanha em que se podia ver uma mulher pendurada por apenas uma das mãos a uma pedra, ao melhor estilo Missão Impossível.

Ao lado da moldura, tinha duas pequenas estantes de madeira dispostas paralelamente, uma sobre a outra. Elas apareciam preenchidas por troféus e medalhas dos jogos interclasse e das competições de tiro com arco de que ele participava. Junto com elas, estavam pequenas flâmulas verdes com o símbolo de seu time de futebol do coração.

Após girar os olhos sobre o quarto e depois de muito protelar, resolveu honrar seu compromisso. Colocou uma calça de tactel, uma camiseta mais leve e tênis apropriado para trilhas. O pai gostava de sair com ele para pequenas expedições, pelo menos uma vez por mês. Era uma maneira de se manter em forma para suas pesquisas e ao mesmo tempo, um ótimo pretexto para ficar a sós com o filho.

Ao chegar na cozinha, Lino encontrou Hugo encostado no balcão da pia ao lado da televisão de quatorze polegadas presa na parede. O professor estava com uma bermuda de sarja cáqui com bolsos fartos em sua lateral, camiseta branca coberta por um colete e tênis de cano alto, com as meias brancas aparecendo. Muito semelhante aos gringos que Lino via perambulando na região da floresta da Tijuca, vez ou outra.

— Mas que ótima notícia, Mariátegui! — o professor falava em espanhol ao telefone. Com a mão, gesticulou para o filho, apontando para a mesa do café da manhã já posta com pães, torradas, queijo branco, margarina e um cesto com frutas variadas. — Assim que tiver a licença na minha universidade eu voarei para aí. Mande saudações ao Doc. Rowe. — desligou o telefone e movimentando o punho cerrado na altura do estômago, soltou um vigoroso Yes!