Hugo Galindo encostou as costas numa grande pedra. Sua calça de sarja surrada, camisa azul suja faltando botões e cabelo desgrenhado, indicavam que havia passado por maus bocados. Caminhou lentamente com passos calculados até a outra extremidade da rocha. Esticou a cabeça para fora e com o canto dos olhos, procurou por sinais de seus raptores. Seu coração batia acelerado. Não sabia como havia escapado.
Espero que tenham ido.
Com as mãos trêmulas, abriu desajeitadamente sua bolsa de couro procurando seu caderno de anotações e sua câmera.
Está tudo aqui, graças a Deus!
Tomou fôlego, deixando sua postura ereta e suspirou aliviado, passando os braços pelas alças da mochila. Precisava encontrar um local para se abrigar. Alguma caverna com água corrente e uma flora por perto. Lugares assim, nos Andes, não são fáceis de ser encontrados. A vida dos povos andinos é marcada pela busca por locais com solo fértil e uma vegetação variada. A história de suas guerras também é.
Hugo varreu o local com os olhos, buscando palpites para iniciar a sua jornada. Sem que percebesse, seu algoz saltou do alto da grande pedra onde se escondera. Era um guerreiro de traços indígenas, com uma espécie de túnica grossa na cor cinza e quadriculada que cobria o corpo até a altura do joelho.
Seus olhos estavam comprimidos e com o foco em seu alvo. Os músculos tensos e o punho firme giravam um porrete feito com cabo de madeira. Em sua extremidade aparecia um objeto de prata com seis pontas em forma de estrela. Seu grito assustou Hugo que caiu no chão. O guerreiro moveu o braço para trás das costas e com um movimento preciso...
— NÃO!!!
Lino despertou ofegante com um grito abafado. Era o mesmo pesadelo que teve nos últimos três dias, desde o fatídico evento na escola. Sempre era a mesma cena que vinha à sua mente: Hugo, Andes, guerreiro indígena. Terminava também, no mesmo momento. Desde a morte de seu pai nunca sonhara com ele e agora, o mesmo pesadelo, três dias seguidos.
— Que saco... esse sonho maluco de novo! — coçou os olhos que ainda captavam uma imagem fosca de seu quarto. — Vou conversar sobre isso com o Professor Levy na segunda-feira.
No breu do quarto uma luz que piscava de maneira intermitente chamou sua atenção. Sobre o criado mudo ao lado da cama, aceso, seu smartphone se destacava. Tomou-o nas mãos e apertou os olhos em procura de foco.
— Mouse — Lino resmungou. Havia cinco chamadas não atendidas e umas tantas mensagens não lidas. — O que o esquisito quer a uma hora dessas? — Era quase meia-noite. Lino resolveu respondê-lo.
Lino2807: Tá acordado?
A resposta veio menos de trinta segundos depois.
MouseWho: Opa o/
Lino2807: Q vc quer?
MouseWho: Preciso flr c vc... tive uma ideia \o/
Lino2807: Qual?
MouseWho: Já ouviu flr da Gruta do Carimbado?
Lino2807: WTF?
MouseWho: Gruta do Carimbado, São Thomé das Letras - MG.
Lino2807: Nunca ouvi flr...
MouseWho: V esses links então
Lino2807: blz.
Lino acessou os canais encaminhados por Mouse. Ajeitou-se na cama, apoiando o travesseiro na parede e recostou-se nele. Com o joelho dobrado, fez uma espécie de suporte para o celular. Ainda estava meio sonolento, mas acordado o suficiente para ver aquilo que o amigo chamava de urgente.
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Lino Galindo e os Herdeiros do Trono do Sol
FantasiAndes, 1532. A sucessão ao Trono do Sol dos Incas leva à uma inevitável batalha entre irmãos e dinastias. Na disputa pelo poder, uma massa de gente é conclamada a defender os interesses de reis sádicos e príncipes ardilosos. Guerreiros virtuosos erg...