O Três Marias figurava entre os cinco melhores e mais caros colégios do Rio de Janeiro. Tratava-se de uma tradicional instituição educacional carioca fundada em meados do século dezenove por membros da colônia alemã. Esta antiguidade estava estampada na arquitetura que levantava o prédio de três andares no total.
Sua fachada era encoberta por grandes muros pintados na cor bege e fechados por um portão de ferro na cor chumbo com pouco mais de quatro metros de largura. O prédio principal era todo envolto por árvores de copas cheias que chegavam até a altura de seu segundo andar.
Apesar dos traços rústicos e dos cortes retos, a arquitetura era marcada pela presença de inúmeras janelas de madeira pintadas também na cor chumbo, o que permitia a entrada de sol em abundância no interior da construção.
Mesmo sendo uma instituição com mais de cem anos, ao longo de todo o século vinte, o Colégio Três Marias se moldou para as necessidades impostas pelo mundo moderno, porém, sem perder os seus ideais humanistas de formação integral do aluno. Por isso, todo jovem que por lá passava, deveria se envolver em um projeto social, aprender línguas e música.
Tais predicados levaram Clara a optar pela escola, além do fato de que ela ficava há pouco mais de um quilômetro de seu trabalho no Real Gabinete Português de Leitura, no centro da cidade. Saindo da Tijuca logo cedo, poderia deixar o filho no colégio sem que isso a atrasasse.
A questão do alto custo da mensalidade não pesou em sua decisão. A exposição de Hugo à mídia, o aumento na venda de seus livros e consultorias ao redor do mundo, além do ótimo salário que ela mesma recebia, permitiram ao casal proporcionar uma educação de melhor qualidade a Lino. Por tal razão, logo no primeiro ano do ensino médio, o garoto mudou-se para o Três Marias.
Na manhã daquela segunda-feira, Mouse estava sentado no meio-fio da calçada sob uma árvore que ficava de frente ao grande portão na entrada do colégio. Foi a primeira pessoa a chegar, antecipando-se inclusive, ao segurança responsável pela condução dos alunos às salas de aulas.
Estava ansioso. Ele queria falar com Lino ainda do lado de fora do prédio.
Para matar o tempo, Mouse retirou de sua mochila um pacote de biscoito de chocolate e um videogame portátil. Rapidamente, começou a jogar um de seus games preferidos enquanto mordia as iguarias feitas de leite e cacau.
Não demorou muito para que as vans escolares começassem a aparecer, estacionando em fila dupla e despejando os alunos em frente ao colégio. Por conta disso, a rua estreita não conseguiu escapar do engarrafamento corriqueiro que apesar de breve, era extremamente irritante aos moradores e comerciantes da vizinhança.
Mesmo com o aumento no volume de pessoas circulando no exterior da escola, Mouse continuou solitário. Era difícil que alguém, por livre e espontânea vontade, se aproximasse do magrelo de cabelos azuis para puxar uma conversa. Nada a que ele já não estivesse acostumado. Na verdade, ele até preferia que as coisas fossem assim.
Foi dessa forma, sozinho e com seus olhos negros vidrados na tela de seu console, que Julia avistou o garoto. Contrariando as expectativas, resolveu se aproximar do colega para sondar algumas informações sobre Lino. A morena de pele clara e longos cabelos pretos aproximou o seu corpo esguio do menino. Ela estava com uma calça jeans e com uma camiseta cinza do colégio, toda customizada por ela mesma.
Sem cerimônias, sentou-se na sarjeta e puxou conversa:
— Bom dia, gatinho!
Quando a esmola é demais, o santo desconfia.
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Lino Galindo e os Herdeiros do Trono do Sol
FantasyAndes, 1532. A sucessão ao Trono do Sol dos Incas leva à uma inevitável batalha entre irmãos e dinastias. Na disputa pelo poder, uma massa de gente é conclamada a defender os interesses de reis sádicos e príncipes ardilosos. Guerreiros virtuosos erg...