Ele tornou a me ligar cinco horas depois, quando eu estudava alguns pintores reconhecidos em meu caderno de anotações. Ambos me chamaram a atenção, ainda que por motivos diferentes. Da Vinci por sua técnica inédita de pintura para a época, Paul por sua desenvoltura.
-Olá, garota do souvenir.
-Olá, Paul. Acho que errou o telefone. Nunca trabalhei lá.
Ele ri, se deleitando.
-Estava brincando.
-Sei disso.
-E então.. Aceita se redimir comigo?
Arregalo a sobrancelha.
-Redimir?
Ele dá uma gargalhada.
-Sair.
Fecho os olhos e respiro calmamente. Ao invés de dizer não, penso no que posso aprender.
-Acho que vou estar livre essa noite- falo por fim.
-Vou te levar para um lugar adorável.
-Ótimo. Me pegue às oito.
-Estou ansioso para isso.
Um meio sorriso bobo surge em meus lábios, e clico em off no meu visor.
-Preciso confessar uma coisa.
Minha amiga se assusta.
-Ah, meu Deus. Não é o que..
Interpelo-a com um gesto.
-Nada a ver com John e Jeffrey, não se preocupe.
Ela suspira aliviada, e acabo confessando.
-Ele é bacana.
Suzanne desmancha.
-Alguma dúvida disso, Chanel? Tenho umas dicas para você, olhe só.
Reviro os olhos. -Su, por favor.
Ela me ignora. -Comporte-se e não seja tão expansiva, Chanel. Olhe esporadicamente para seus olhos, homens gostam. Mexa no cabelo, mas não muito. É só para fazer um charme. Ah, e claro, registre pelo menos uma foto desse momento.
-Suzanne- toco nos cabelos delas, desfazendo uma rebelde mecha. -Homens gostam? Não acha mais justo me conhecerem como sou, sem teatros e especulações?
-É assim que você é. Com alguns ajustes.
Começo a rir.
-Você deveria virar guru amorosa ao invés de insistir no curso de letras.
-De gurus amorosos o mundo está cheio, Chanel. Preciso mais do que isso para sobreviver. E, a propósito, eu sou a sua- ela fala com convicção, ajeitando a franja no espelho de mão.
-Talvez por isso nenhum dos meus relacionamentos tenha dado certo – comento, avaliando minha erudição.
Ela faz um beiço. – Mentira, Chanel. Você que deixou cada um deles.
-Não foi exatamente isso, Suzanne.
Um fragmento me traz Maximiliano de volta, doce e sereno. Nossa, fazia tantos anos...
-Shh- ela me dá um tapa no ombro, rindo. – Não se culpe, Cha. Tudo tem uma razão de ser. E já são cinco horas. Precisamos te arrumar, meu bem. Despretensiosamente.
E rio mais uma vez, ciente de que aquela frase não sairá tão cedo de sua boca.
...
-Que rufem os..
-De novo isso, Max?
-Eu.. Bem.. Achei que ia gostar.
-Não, por favor. Não seja tão repetitivo.
Ele assente. – Não será você também?
-O que quer dizer?
-Nas saídas.
-Saídas?
Ele assente.
-Saídas.
Oh. – Meu bem, não é algo que eu possa prever, ok? Se cuide.
Saio a tempo de não escutar que ele deseja o mesmo para mim.
Está começando a escurecer quando Paul Thomas surge em frente a meu apartamento e disca para mim. Atendo o interfone equilibrada em saltos médios Lamboutins, e falo:
-Estou descendo.
Depois me viro e dou um abraço em Suzanne.
-Vai ficar sozinha em casa hoje à noite?
-Acho que não- ela sorri. – Vou tomar um banho e dar uma passadinha na Gourmet Country.
Nosso restaurante de comidas latinas? Faço positivo com a mão.
-Se cuide com o galanteador.
Rio e giro os ombros de desdém. – Pode deixar. Cuide-se você também.
-E mexa no cabelo. Despretensiosamente.
Dou uma risada. –Toda vez que fazer isso terei que rir por lembrar-me de você. Desculpe-me. Impossível.
-Nada é impossível para Suzanne Tavares- ela se pára na porta.
-É- aceno com a cabeça. –Sei perfeitamente disso.
Então ela ri. – Brincadeira, Chanel. Divirta-se e faça dessa noite a mais feliz. Você merece.
-Obrigada, Suzanne.
Abraço-a e me viro para sair. Tudo bem. Aceito o fato de Suzanne ser completamente articulada, e agradeço por ser minha melhor amiga e dividir todas as loucuras desse mundo com as mãos atadas às minhas. Agora, estou prestes a sair com um cara que vi uma vez em minha vida e do qual não sei nada além do nome. Isso me parecia ótimo.
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:D :D :D Comentem! Digam o que acham!! Estou super empolgada com essa história!
Beeijos,
Vanessa Preuss
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CHICAGO
RomansaUma história de amor, onde os principais capítulos poderiam ser lidos nas páginas de assassinatos do Sun Times. Chanel é intuitiva, decidida, viajante, e encontra Paul, inteligente, intrigante, perigoso. Ambos têm humor afiado. Ambos também têm des...