Devaneios

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Pego o elevador e me paro em pé elegantemente enquanto sou analisada pelo meu outro lado do espelho. Estou ótima. O elevador dá um tranco e escorrego até o chão. Opa! Seguro-me firme nas paredes até finalmente chegar ao térreo. Minha alma é de criança.

-Olá, Paul Thomas.

Seus olhos estão num azul impecável e me analisam de cima a baixo.

-Chanel- sua voz é rouca. Uma voz tão bonita, que me lembra montanhas verdes e colinas de ar fresco. - Chame-me apenas de Paul.

-Tudo bem.

-É muito bom te ver de novo. Você está linda.

-Obrigada.

É gostoso esse elogio. Simples e poderoso ao mesmo tempo. Enquanto caminho até a entrada ao seu lado, reparo que não há aliança em seu dedo. Mas, balanço a cabeça. É realmente cedo para isso, e não quero percorrer os primeiros passos de nosso encontro numa roleta-russa.

–Sabe, Chanel.. -ele cobre minha mão de forma inesperada. -Que ainda me pergunto por que me dei ao trabalho de te convidar para sair?

-Por quê?

Seguro minha carteira de mão com mais força. Sua mão ainda está firme à minha.

-Fiquei tão curioso quando fora atrás de mim que não consegui pensar em qualquer outra coisa nos últimos dias.

Dois dias. Levanto os olhos para encará-lo.

-Estamos indo a um encontro para isso, não é mesmo?

-Sim - ele responde. Surpreso, mas ainda se divertindo. - Estou ansioso para isso.

Olho perplexa para ele. É sério? Então está.

-Podemos começar pela sua idade. Que tal?

Agora, ele quem me olha.

-Você é corajosa.

-Por pedir quantos anos tem?- me assombro. - As pessoas devem estar muito medrosas, então.

-Não é isso- ele se diverte. -Sabe? Me sinto muito mais velho do que a minha verdadeira idade.

-Nossa- sinto um sutil atordoamento. -Você me deixou surpresa.

-Ninguém nunca te disse isso?

-Não- confesso. - Mas sua descrição coube perfeitamente para mim.

-Também é uma idosa por dentro?- ele pergunta.

Eu saboreio minha colocação. -Você não faz ideia do quanto.


3

Na avenida de Michigan, há floreiras a cada 10 metros. Por causa delas, consigo me distrair um pouco e não ficar olhando as mãos bonitas do meu acompanhante sobre o volante, em seu carro prestativo. Ele dirige espetacularmente bem um Blentey GTC, fazendo-o parecer muito leve. Paciente e sem criar expectativas, fecho os olhos e sento o vento bater em meus cabelos.

-Então, Chanel.. Você vem de onde?

Sorrio com os cílios ainda fechados. A voz vem rouca e suave, em ondas, despertando-me.

-Brasil.

-Brasil...- ele passa a refletir.

-Brasileira- rio.

-Brasileira?- ele me olha surpreso. –A Brazilian Girl! - assovia. - O que te trouxe à Chicago?

Ele entra no quarteirão, dobra a esquina. Observo e espero, até responder.

CHICAGOOnde histórias criam vida. Descubra agora