O Consultório

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-Desocupe sua mente, Chanel- sinto a massa quente tocar por sobre meu ombro, orientando-me. -Livre-se de todo desgaste.

Respiro fundo. Não é fácil fazer isso. Posiciono-me com as costas retas sobre minhas pernas, na tentativa de aliviar-me.

-Desse jeito?

Espio por um olho, e o senhor simpático está sorrindo para mim.

-Quase isso, mocinha. Preocupe-se em não se preocupar.

Ah, droga. Eu não estava indo bem. Na verdade, estava indo péssima. Minha passada pelo consultório do Doutor Gael, situado na Rua das Laranjeiras, parecia mais uma sessão de tortura do que terapia para mim, encomendada pela gênia da minha mãe.

Ocorria que, àquela altura do campeonato, eu já estava com falta de ar há muito tempo. Não dormia direito e o cansaço passou a ser figurinha predominante. Minhas pernas doíam há exatas duas semanas, e qualquer exercício bobo, como carregar sacolas de supermercado, pareciam enormes para mim.

Por causa desses sintomas, somada à minha constante falta de apetite, minha mãe resolveu me trazer ali. Achou que era um pós- Chicago, e claro, ela estava certa. Me assustei muito com o diagnóstico. Justamente naquele dia, eu havia falado com Suzanne Tavares e me gabado do quanto estava bem, forte e predominantemente me recuperando.

-Estou perfeita, Suzanne- expliquei.

-Perfeita mesmo? Pois me parece que sua voz está mais fraca, Cha. Além disso, você na faz ideia de quem vi ontem..

Respirei fundo. Eu não queria falar dele. Eu não queria raciocinar sobre ele, imaginar ele, sequer cogitar um assunto sobre ele. Era por isso que eu estava na terapia, não era?

-Ele esteve ontem na Adallys- ela diz com a voz arrastada.

-E daí?

-Parece que olhou o tempo todo para o canto, e depois para algumas fotografias.

Reviro os olhos.

-Suzanne- suspiro, apertando a mim mesma por detrás da nuca. - Acabo de voltar do consultório. Segundo o médico, estou com depressão por isso.

-Por causa disso, estou lhe informando. A vida dele segue sem você. A sua deve seguir sem a dele.

Isso me soa irritante.

–Por isso imploro para não me falar dele. Poucas recordações dele é igual a poucas lembranças dele, ok?

-Puxa vida, Chanel. Você está mesmo emburrada.

É, eu estava mesmo emburrada.

-Pense num ceu azul, Chanel.

Ouço a voz de Gael perto de mim, e suspeito que ele esteja me rondando de novo.

Por quê? Faço um beiço e ouço ele se mexer.

-Eles são lindos, mas também não são permitidos, Chanel - sua voz de repente está muito perto, e confirmo ao abrir os olhos e ver ele se agachando perto de mim.

Uma turbulência forte, algo entre a culpa e o desconforto se debate dentro de mim.

-Ah, me desculpe, Gael- deito meus braços entre as pernas. - Me distraí um pouco. Estou um pouco ansiosa ainda.

-Ansiedade é sinal de que a ligação com o que sente ainda seja forte. Conte-me sobre como tudo aconteceu- ele diz. – Quem sabe dessa forma posso te ajudar melhor.

Eu me remexo com mais desconforto e olho para seus olhos intensos e castanhos.

-Bem.. Eu não sei. Achei que ioga já estivesse me ajudando.

-Pois eu acho que não está sendo o suficiente, mocinha. Você está com um conflito aí dentro que te impede de descansar. Que tal colocá-lo para fora?

Eu olho assustada para ele, apavorada só de pensar em tudo que sei. Ah, eu recordo. Nunca poderei dizer isso à ele. Minhas pernas ficam bambas e minha boca seca. Mas imediatamente, meu pensamento volta no tempo, e começo a relembrar tudo o que senti e vivi poucos meses atrás. 





...... 

Vem muitas surpresas por aí e quero a opinião de vocês, hein.. <3 <3

Um beijo grande,

Vanessa Preuss





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