Conversas

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....

-Que rufem os tambores!

Eu me viro para ele. – O quê? Por quê?

-Ora, bolas. –ele ri. – Você está jogando..

-Ora bolas, não estou.

Ele ri.

-Não me duvides.

-Não sejas ridículo.

-Em que época estamos vivendo, mesmo?

-Século vinte e um. Por quê?

-Estás a falar estranho- ele ri.

-Estou a imitar-te.

-Ótimo. Fique assim. Cubra-se disso. Esse século promete..

-Era isso que eu precisava ouvir.


Paul me procurou pela primeira vez dois dias depois de nosso primeiro encontro. Eu não esperei isso tão afervoradamente, mas assim que vi seus dígitos soarem em minha caixa de mensagem, procurei me arrumar. A mensagem dizia que ele me ligaria à tarde, e eu não deveria ter nenhuma oscilação de que ele me levaria de fato a um encontro. Mesmo assim, o fato dele ligar deixou Suzanne em alerta, e eu, o mínimo alegre. Em pouco menos de vinte minutos, já estavam escolhidas e impecáveis, as peças estendidas sobre a cama.

-Vá com calma, Chanel- ela me avisa.

O primeiro passo tinha sido meu, então eu deveria sentar calmamente e esperar. Puxei a poltrona da sala, destronando nossos recentes livros. Os últimos dias tinham sido corridos por causa das médias que tiramos na faculdade, e agora eu precisaria dar o máximo de mim nos exames finais. Eles eram em maio, e já estávamos no final de abril.

-Amendoins, por favor.

Respondi para minha amiga quando ela pediu se eu queria alguma coisa ao bater pé para a cozinha, depois de discutir comigo. Fechei os olhos e inclinei a cabeça no encosto. Ah, é claro. A princípio, nosso apartamento era pequeno. A cozinha ficava grudada na sala de estar e precisamos vender parte do nosso sofá de canto para termos um mínimo de espaço. Ainda assim, o considerávamos o suficiente para nós duas. Suzanne era destemida, volátil e corajosa como eu, e ao unirmos as características para vir estudar em Chicago, melhoramos nosso vocabulário e conhecemos lugares encantadoramente acrescidos de cultura. Falávamos inglês perfeitamente, português, e treinávamos com boas risadas outras línguas indo-européias.

-Voilà!

Esse era nosso francês. Suzanne volta com meus aperitivos preferidos, a Mellos Peanuts, e joga-os para mim. Cato o pacote no ar. Amendoim era meu escape da dieta toda vez que eu sentava nessa velha poltrona improvisada para pensarmos e tomarmos decisões inteligentes juntas.

-E agora?

-Ele parece ser bastante inacessível, Chanel. Eu estou surpresa.

Por mais que eu me valorize, também pensei dessa forma. Ele parecia excitantemente inacessível. Mas de alguma forma, eu quebrara essa primeira barreira.

-Faça-se de difícil.

-Difícil? –explodo numa gargalhada. – Por que eu deveria fazer isso, Suzanne? Não sou movida a jogos.

-É claro que não, querida. Mas lembre-se que o começo foi seu. Agora, é vez dele- ela gesticula.

-Olhe quem fala. Acho que ele aprovou minha iniciativa- retruco, expondo meu pensamento. –Vai esperar uma nova, e aí que entro de novo.

Minha amiga faz que não com a cabeça.

-Espere por ele.

Por que ela é tão teimosa?

-Ele vai pensar que sou bipolar, Su. Assim como você.

-Ótimo- ela mostra os dentes. -A grande maioria deles lidam com mulheres assim todos os dias.

Não posso evitar. Outra grande lufada divertida sai sem que eu queira de minha boca.

-Então aí está o alerta, Suzanne. Não posso ser igual a elas.

-Você não é, Chanel. Sabe que às vezes eu me pego sussurrando que o que outros pensam da gente não é de nossa conta?

Ah. Ela tem razão. Suzanne sacode os quadris até jogá-los na outra poltrona à minha frente. É um daqueles móveis bons para tudo- olhar nossos seriados preferidos, gargalhar o dia inteiro com comédias românticas ou simplesmente folhear as revistas da Vogue italiana para aprendermos alguma nova palavra do dialeto- onde discutimos assuntos como contas apertadas ou, como fazíamos nesse instante, homens. Ela dá vazão ao pensamento.

-Você é igual à sua mãe.

-Hum – separo mais um punhado de amendoins. Minha mãe era morena, alta e bonita. – Isso parece bom.

-Pense bem, Chanel- ela se estica para frente. – Você é linda. Não tem porque ficar correndo atrás de homens. Paul vai vir atrás de você de qualquer jeito depois de anteontem.

-Me arrumar para um encontro não significa que serei fácil, Suzanne.

-Mas separar suas melhores roupas do armário, sim- ela rouba o pacote de amendoins de mim. –Você tem que ficar o mais natural possível - ela coloca alguns na boca. – O mais despretensiosa possível.

Despretensiosa. Eu me sinto uma hiena por isso, mas despisto.

-Certo- confirmo com a cabeça. –Com uma condição.

– Qual?- ela se anima.

-Sem espiar na janela, sem me encher de perguntas nas próximas cinco horas depois que cheguei, e a louça é com você durante uma semana.

-Isso não é justo. Estou ajudando você.

-Ah! E as janelas estão terríveis.

-Chanel!

-Ok. Sem janelas.

-E não me venha de ter que esperar cinco horas.

-Três então- cato de volta meu saquinho de Peanuts.

-Cinco minutos e acabou.

Inclino a cabeça de volta para o encosto, dessa vez rindo alto. –Está bem, Suzanne. Sua companhia e compreensão é fundamental.

Nos abraçamos em seguida.


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