— Bem que a gente podia fazer algo diferente durante esse recesso. — Josh Batts comentou, meio que para si mesmo, jogado no sofá da própria casa, onde seus amigos Marshal Coel e Lester Albinson disputavam algum jogo no videogame. Ele assistia entediado Marshal perder pela sétima vez consecutiva e xingar vários nomes impróprios para a hora do dia. Carver Steed, seu outro amigo, chegou com um balde de pipoca nas mãos como se estivesse em sua própria casa, parecendo desapontado por não poder comê-la assistindo TV já que dois idiotas roubaram "sua televisão".
— Compre um pinguim. — Lester sugeriu e Josh apenas não o ignorou totalmente porque ficou surpreso que o amigo ao menos o tivesse escutado no meio de suas intensas batalhas.
Carver, chateado por não poder usar a TV como gostaria, sentou-se ao lado de Josh e consequentemente teve suas pipocas roubadas, já que era a punição geral de quem aparecia com um balde delas.
O recesso de inverno, para aqueles estudantes que não voltavam para suas cidades para passar o Natal, era extremamente entediante, como no caso dos quatro amigos. Todos eram de regiões distintas do país, exceto Josh, que morava ali mesmo mas – por algum motivo que nas horas de tédio ele não conseguia se lembrar qual era – negara o convite de seus pais de passar o recesso visitando uma tia-avó na França. Quando sua memória voltava para consolá-lo era para indicar que a tia-avó era de sua mãe, então devia ser uma velha bem velha e ele preferiria passar o Natal com seus amigos, se divertindo. O Natal na verdade havia passado, a neve do lado de fora da casa de Josh ainda estava densa e alta, o que tirava a vontade de passeios e atividades exteriores, então "se divertir" se resumia a assistir Marshal perder várias vezes no videogame. As aulas retornariam em uma semana, embora nenhum dos garotos estivesse animado para elas. Provavelmente prefeririam que, ao invés de aulas, o verão estivesse chegando na próxima semana.
Marshal perdeu pela oitava vez, soltando mais palavrões. Josh ia manda-lo calar a boca, porque nem mesmo sendo um garoto aguentava mais aquele tipo de vocabulário, quando a campainha tocou. Todos os três olharam para ele, arqueando as sobrancelhas, como se ele devesse explicar quem mais estavam esperando.
— Não estamos esperando ninguém. — ele respondeu aos olhares inquisidores de seus amigos e se levantou preguiçosamente, a barra da calça de pijama cobrindo metade de seus pés descalços que tocavam o chão frio. Roubou mais umas pipocas do indefeso Carver e correu até a porta, abrindo-a e encontrando Stan, o carteiro.
— Boa tarde, Sr. Batts! — ele sorriu, levando uma mão ao boné que mesmo no frio usava. Josh retribuiu o sorriso.
— Stan, como vai? — cumprimentou-o com um aperto de mão. — Muito frio?
— Só um pouco, Sr. Batts, só um pouco. — o homem de seus cinquenta anos deu uma risada curta. Tirou um maço de cartas da bolsa e entregou ao jovem. — Muitos recados de Natal, um pouco atrasados pelo visto. O senhor deve ser bem popular na faculdade. — comentou, piscando um de seus olhos azuis e revelando pés-de-galinha no canto deste.
— Que nada. Isso deve ser tudo para meu pai. — balançou o maço, sabendo que na verdade ele até que era popular na faculdade. Mas o assustava um pouco saber que tantas garotas assim sabiam seu endereço. — Muito obrigado, Stan. Ah, sim, espere só um minuto. — ele pediu, largando as cartas na mesinha de canto perto de onde os casacos eram pendurados e pegando uma nota de sua carteira. – Aqui está. Feliz Natal atrasado, Stan.
— Não era necessário, Sr. Batts! — o homem pareceu ligeiramente embaraçado, mas guardou a nota. — Espero que passem bem o dia! — ele disse enquanto se afastava, sorrindo e acenando. Josh acenou de volta e fechou a porta, pegando as cartas no caminho para voltar até a sala, mas não chegou tão longe. Seus três amigos o encaravam na porta que levava até ela, de olhos arregalados.
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Querido Estranho
Romance"Querido estranho, É, você não me conhece e ainda assim está recebendo uma carta de mim. Quem será que sou eu? Uma garota louca? Uma psicótica? Não se preocupe. Não sou traficante de órgãos e isso definitivamente não é um pedido para que você venha...