A casa, ainda meio soterrada na neve, estava silenciosa e um pouco escura. Mal havia amanhecido e o movimento na rua era pouco, o silêncio branco de um dia em que nevara mais um pouco de noite preenchia toda a paisagem. Qualquer barulho seria como uma bomba naquela manhã.
Por isso Josh, ao ouvir um barulho irritante de sininho, resmungou e abriu os olhos, que arderam em revolta. Ainda não era hora de acordar! Devia ser umas seis da manhã e por um momento passou em sua cabeça que era Natal e o Papai Noel havia se atrasado. Ou adiantado. Ele não tinha certeza. Em que ano estavam mesmo?
Enquanto fazia um esforço para se situar enquanto esfregava os olhos, a noite passada voltou à sua mente e ele recordou-se da gambiarra feita por Lester na porta com um sininho, barbante e por algum motivo, mentos. A Coca-Cola ele havia bebido por estar com sede e Marshal ter esquecido de trazer algo da cozinha para ele quando ele pedira. Aquele sininho estava ali para anunciar quando Stan passasse e deixasse a correspondência de sábado. E, considerando que agora o sininho já havia tocado, Stan já devia estar se afastando.
De um pulo, levantou-se e quase pisou em Marshal no chão, e chutou levemente Carver na canela, antes de sair correndo para chamar Stan. Perdeu tempo destrancando a porta e, assim que finalmente o fez, escancarou-a, encarando o ar congelado da manhã.
— Stan! — gritou para o senhor que já estava quase duas casas à frente. Josh tremia tanto de frio que se tocou que vestia apenas boxers, uma camiseta de manga curta com o símbolo do Flash estampado e meias, que se encharcavam aos poucos por ele estar de pé na neve branca da frente da porta. Esquecera-se completamente que fora de casa não havia aquecedor.
Stan retornava com um olhar preocupado até a casa de Josh.
— Sr. Batts, você vai pegar uma pneumonia! — ele comentou, apesar de Josh já saber disso, tremendo da cabeça aos pés e sentindo-se ficar azul de frio.
— E-eu pr-pr-preciso f-f-f-f-f-falar com v-v-v-voc-c-ê. — ele disse, tiritando. Fez sinal para que Stan aguardasse um pouco e voltou para a sala correndo, pegando os cobertores com que dormira e que ainda mantinham seu calor, enrolando-se nele e voltando para a porta, depois de enfiar os pés nas botas que estavam por ali. Stan aguardava-o, ainda com um olhar preocupado, provavelmente refletindo sobre a sanidade do rapaz.
— Aposto que assim está melhor. — o homem comentou. Josh sorriu de canto. — Como posso ajuda-lo, Sr. Batts? Algum problema com a correspondência?
— Não, senhor. Eu só estava com uma dúvida. — ele explicou, um pouco mais lento que o normal devido ao horário e ao fato de que tentava se lembrar do plano para conseguir o endereço de N.B. — Teria como rastrear uma carta que só veio endereçada a mim? Não tem mais nada escrito no envelope e eu gostaria de saber quem me enviou a carta.
— Por quê? É algum tipo de ameaça ao senhor? — o velho carteiro voltou a parecer preocupado.
— Não! Não... foi só uma carta de Natal, anônima. Eu gostei muito e queria enviar uma de volta. Teria como descobrir?
Stan refletiu por um tempo, e depois deu ombros.
— Eu não sei se eu conseguiria fazer isso pelo senhor, Sr. Batts. Você pode analisar os selos e o carimbo da região, mas encontrar o endereço exato pode ser difícil. — explicou. Depois, vendo a cara de desapontamento do rapaz, acrescentou com um sorriso mínimo. — Que eu saiba o senhor tem dinheiro e contatos. Não acho que rastrear possa ser tão difícil assim.
— É... vou ver isso. Obrigado, Stan.
— Por nada, Sr. Batts. Cuidado para não pegar uma pneumonia! — o senhor afastou-se e Josh voltou para dentro de casa.
Apesar de Stan ter dito que Josh tinha "dinheiro e contatos", isso obviamente não era verdade. Quem possuía isso era seu pai, e ele duvidava que o homem ia dar dinheiro para que ele rastreasse uma pessoa anônima só para matar sua curiosidade. Ele provavelmente diria "A curiosidade matou o gato!", o que faria Josh querer rebater com "E a satisfação o trouxe de volta"* ou qualquer que fosse o complemento daquele irritante ditado popular com suas rimas. O fato é que, pelo que Stan dissera, ele só poderia ver o carimbo e o selo, mas duvidava que ajudasse muito. Londres era enorme e, mesmo que refinassem a busca, ainda devia existir milhares de N.B. por ali.
Seus amigos resmungavam coisas aleatórias por terem sido acordados pela sua agitação e o barulho irritante do sininho.
— Josh Batts, volte para a cama. — Carver bronqueou, a cabeça enfiada no travesseiro, uma mão surgindo de baixo das cobertas e apontando para o que ele em sua semiconsciência provavelmente pensava que era o sofá onde Josh dormira, mas que na verdade era a porta pro banheiro.
Ignorando o amigo. Josh sentou-se no sofá e ficou encarando a TV desligada, pensativo. Ele conseguiria deixar de lado a vontade de descobrir quem N.B. era? Ou, melhor fraseando, ele conseguiria algum dia descobrir quem ela era? Considerou se conseguiria contratar a Interpol para ir atrás dela. Ou se colocaria um cartaz bem grande em Londres, que qualquer um veria, falando que leu a carta e que queria responde-la. Ou contrataria um avião para escrever no céu. Podia dar uma festa e distribuir sapatinhos de cristal, e o sapatinho que encaixasse no pé de uma menina, seria ela.
— Você está com uma cara engraçada. — Marshal disse, também enrolado em cobertores, provavelmente se referindo às tentativas de colocar a mente para funcionar de Josh. Deitou-se por cima dele, fazendo-o soltar uma reclamação depois de sair de seus pensamentos "Bibidi-bobidi-bu". — Quem visse poderia até dizer que você estava pensando.
— Ha ha ha, tão engraçado Marshal. — ironizou. Espreguiçou-se, considerando que desde que o recesso começara ele não havia acordado tão cedo assim. Mas não conseguia mais dormir, pensando em N.B. e sua carta.
— Está mesmo encucado com a menina, não é? — Marshal comentou, sem olhar para o amigo, quase como se lesse sua mente.
— Estou.
— Então vamos dar um jeito de fazer você descobrir quem ela é. Não se preocupe, Josha. — ele riu do apelido recém-inventado. Josh rolou os olhos. Marshal ficava ainda pior quando tinha acabado de acordar cedo.
— Obrigado. — ele deu um peteleco na cabeça do amigo, que fez uma careta em resposta. Depois, sua expressão se suavizou e ele fechou os olhos, sorrindo largamente.
— Já imaginou se ela é super bonita e vocês se conhecem e se casam?
— Marshal, chega.
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*Em inglês, a expressão é "Curiosity killed the cat, but satisfaction brought it back", que rima.
Nota da autora: Um capítulo bem curtinho, eu sei, e se possível trarei a próxima att antes do previsto pra que vocês possam saber logo se esse mistério da N.B. vai ser resolvido ou não.
O que vocês acham? Josh vai conseguir rastrear ela?
Lembrando que essa história é bem curtinha, então vamos aproveitar cada capítulo enquanto podemos hehe ♥
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Vou parar de falar antes que a nota fique maior que o capítulo, o que não é improvável. Até o próximo!
Beijos,
Anne
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Querido Estranho
Romance"Querido estranho, É, você não me conhece e ainda assim está recebendo uma carta de mim. Quem será que sou eu? Uma garota louca? Uma psicótica? Não se preocupe. Não sou traficante de órgãos e isso definitivamente não é um pedido para que você venha...