VI.

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— Trabalho em grupo? — Marshal arregalou os olhos, virando o rosto para Josh ao seu lado direito e para Noelle, ao lado de Josh. — Eu odeio trabalho em grupo! — reclamou, afundando-se na cadeira. Josh perguntou-se por que ele odiava trabalho em grupo, sendo que era preguiçoso e provavelmente acabaria no grupo de Josh que faria tudo sozinho.

— Eu gosto. Ainda mais em uma aula que não sei muito sobre. — Noelle disse, sorrindo culpada para Josh. Ele retribuiu o sorriso.

— Eu adoro trabalho em grupo. — o que era uma mentira, porque sempre acabava fazendo tudo sozinho de qualquer forma, ainda mais quando Marshal ficava no seu grupo.

O amigo, por sinal, subitamente saíra do limbo e agora digitava furiosamente no celular, impedindo que Josh visse a tela. Não que Josh estivesse preocupado em ver a tela quando havia Noelle ao seu lado perguntando como seria melhor organizarem as partes do trabalho. Ele estava bastante feliz que caíra num grupo com ela. Talvez se rolasse uma aproximação, ele pudesse pergunta-la sobre a carta anônima.

— Ei, Josh. — Marshal disse de repente, chamando a atenção do casal. Ele ainda olhava a tela do celular, como se estivesse lendo o que falaria a seguir. — Por que não fazemos o trabalho na sua casa? Se nos juntarmos vai ser mais fácil do que ficar mexendo por internet, não?

— Por que você está falando nesse tom monótono? Sua atuação é péssima, Coel. — Josh riu, aproximando-se para ver o celular, sendo impedido. Arqueou as sobrancelhas e Marshal lançou vários olhares nervosos para Noelle. — Noelle não vai ficar confortável na casa de um desconhecido. — falou, mas virou-se mesmo assim para ela para saber o que ela achava.

— Eu não me importo, na verdade. — sorriu, gentil. Josh adorava cada vez mais o sorriso dela e gostaria que ela parasse de dispará-lo sempre, ou ele não conseguiria se focar mais nas coisas. — Se não for incômodo para você, claro.

— Marshal e meus outros amigos sempre vão direto em casa. Acho que meus pais nem ligam mais. — deu ombros, secretamente imaginando que os outros dois dariam um jeito de aparecer ali. Do jeito que Marshal estava falando, quase lendo no telefone, tinha quase certeza que o plano não havia sido dele. Marshal nem ao menos gostava de trabalhos em grupo.

Mesmo assim, ao encerrar do horário letivo, o trio saiu junto, sem nem ver sombra de Lester e Carver. Foram direto para o carro de Josh, onde Marshal deixou Noelle sentar à frente enquanto discutia com ela que sorvete de maracujá era claramente melhor que de passas ao rum e o motorista se perguntava como aquelas eram as duas únicas opções quando se existia sorvete de chocolate, o melhor de todos. Em poucos minutos e quase nenhum trânsito, estacionaram na garagem de Josh, não sem antes Noelle encarar estupefata a casa dele.

Foi só ao bater a porta do veículo que o pânico súbito o acometeu: Noelle. Em sua casa. Se ela fosse mesmo N.B, reconheceria a construção da imagem desatualizada e de má qualidade do Google de onde tirara o endereço aleatório para sua carta de Natal? Se acabasse por espiar o jardim, o reconheceria mesmo sem a vista panorâmica? Seria realmente uma coincidência estúpida do destino que sua mais nova colega de classe seria a mesma que lhe enviara uma carta anônima?

Percebendo que seria ali a hora em que descobriria tudo, Josh virou-se boquiaberto num grito silencioso para Marshal, que para sua surpresa encarava-o com o olhar divertido e um sorriso maligno de orelha a orelha. Percebeu, com uma admirável lerdeza, que tudo aquilo havia sido arquitetado, provavelmente por Lester (porque Josh sabia que Marshal não tinha capacidade para tanto).

Temendo o momento que passaria por aquela porta, com Noelle encarando-o ansiosamente como se esperasse seu convite, Josh tentava pensar em algum jeito de evitar aquela situação constrangedora. Ele nem ao menos sabia se elas eram a mesma pessoa, a perspectiva de descobrir por si só já o assustava o suficiente. Não precisou aguardar muito mais; a porta que dava acesso à sala abriu-se subitamente e Josh se viu encarando a cabeleira de Carver. O que diabos Carver estava fazendo a porta de sua casa, Josh não tinha a menor ideia.

Querido EstranhoOnde histórias criam vida. Descubra agora