O dia seguinte foi estranho. Ele entrou na faculdade. Foi recebido por June, Summer e Jessica que perguntaram por sua saúde. Ele as respondeu gentilmente, com sorrisos e um pacotinho de biscoitos para cada uma, que sua mãe havia assado no dia anterior, em agradecimento pelos seus cuidados. As três surtaram um pouco e June teve que ser levada para a enfermaria, mas Josh não pôde acompanha-la por precisar ir para aula. Em seguida encontrou seus três amigos, e passou reto por eles, mesmo tendo uma aula com Carver dali a cinco minutos. Não estava com a menor vontade de falar com eles depois da catástrofe do dia anterior.
Como tudo tinha passado de um conto de fadas surreal para o pandemônio silencioso, Josh nunca tivera muita certeza. Seus amigos nem ousaram rir, encarando-o atônito enquanto sua cabeça pendia no peito, a bochecha ardendo e avermelhando-se conforme os segundos passavam-se. Eles provavelmente aguardavam alguma reação ou outra explosão de drama, mas tudo que Josh fez foi subir as escadas e ir até seu quarto, quieto.
Carver tinha tentado falar com ele, mas não adiantava. Ele estava sem forças, triste pelo caos que se instalara e que ele não pudera evitar, não conseguindo nem mesmo culpar Lester e seus planos mirabolantes. Sabia que a culpa era toda sua, só precisava de tempo para entender o que faria a seguir. Iria se desculpar com Noelle? Não tinha certeza do por quê, no entanto. Não é como se tivesse feito algo errado. Só parecera um maníaco perseguidor, mas se provasse pra ela que não era, talvez tudo desse certo. Apesar de que ele talvez fosse, sim, um pouco.
Na faculdade, decidira se manter afastado dos amigos para que pudesse pensar melhor. A tagarelice de Marshal, a frieza de Lester e o semi-interesse de Carver não iam ajudar em nada. Nenhum deles parecia perceber que o seu futuro feliz com Noelle e os três filhos estava arruinado. Ela culpava a ele apenas, então ele por si só tinha que encontrar a solução daquilo.
Foi bem difícil seguir essa resolução quando descobriu que, além de Carver, Noelle também frequentava aquela primeira aula, entrando com um ar alegre enquanto conversava com uma ruiva, provavelmente uma amiga. Ela reparara nele, sua feição fechando-se subitamente, e fez questão de sentar-se no outro lado da sala. Como Carver havia se sentado longe também, em respeito ao desejo de Josh de ficar sozinho e sofrer em silêncio, o rapaz se viu abandonado em uma palestra de duas horas e meia em que rabiscara diversas carinhas chorosas no caderno. Queria pensar em um jeito de desculpar-se com a garota, mas era péssimo nisso. Realmente péssimo. Péssimo do tipo eu-nunca-fiz-isso-antes.
No entanto, passou as torturantes horas da palestra (quando não estava rabiscando carinhas chorosas) criando um plano de redenção para si mesmo, em que falaria com Noelle assim que possível e esclareceria todos os mal-entendidos que ele nem sabia exatamente quais eram. Ao fim da aula, o plano parecia bom, e ele saiu direto da sala para a cantina, analisando-o profundamente em busca de falhas – já que derrota não era uma opção. Só percebeu que estava acompanhado de seus amigos quando um riso escapou pelo nariz de Marshal, que estava lendo por cima dos seus ombros junto aos outros dois.
Fechou a cara junto com o caderno, guardando-o na bolsa enquanto os três sentavam-se ao seu redor. Eles já haviam comprado os lanches na cantina, o que Josh, focado em seu super-plano, havia esquecido completamente. Foi surpreendido porém, com Marshal lhe entregando um suco, Lester um sanduíche e Carver um bolo de pote. Olhando aquilo embasbacado, procurou no rosto dos amigos uma explicação para tal ato de bondade.
— Você está com um bico enorme desde ontem. E a gente se sentiu meio mal pela atitude da Noelle em relação a você. — Carver decidiu ser ele o porta-voz, sorrindo e erguendo o polegar positivamente para o amigo.
— Além disso, vai ser um saco se não pudermos mais ir na sua casa e comer a comida da sua mãe se você estiver bravo com a gente. — Marvel completou em um murmúrio, que mal foi ouvido pelo amigo. Com olhos lacrimejando – afinal, se não fosse dramático não era Josh – o rapaz perdoou os amigos e agradeceu a bondade no coração puro deles.
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Querido Estranho
Romance"Querido estranho, É, você não me conhece e ainda assim está recebendo uma carta de mim. Quem será que sou eu? Uma garota louca? Uma psicótica? Não se preocupe. Não sou traficante de órgãos e isso definitivamente não é um pedido para que você venha...