Capítulo 2

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Indo ao que importa. "Havia este rapaz", acho que é assim que começa todas as histórias de amor fracassadas...
Ele era alto, moreno, encorpado, com um brilho no olhar e um sorriso que fazia qualquer rapariga se apaixonar. Mas eu não era qualquer uma, nem ele era qualquer um.
Não me lembro do dia em que o conheci era simplesmente mais um no grupo de raparigas e rapazes com quem eu andava. Quer dizer: sim reparei que era bonito mas era só mais um rapaz bonito entre muitos. Mas não foi apenas mais um...
O tempo passou e o Lourenço tornou-se algo mais pra mim , trocávamos insultos, brincadeiras, comentários, encontrões. Mas não passava disso. Não éramos chegados, não saíamos juntos, não sabíamos praticamente nada da vida um do outro. Era apenas o que era, um toca e foge que não atava nem desatava.
Eu não tinha coragem de ir falar com ele. O que aconteceria se eu por acaso confessasse a minha atração e ele não sentisse nada? Ele afastava-se e ficaria um ambiente estranho no nosso grupo de amigos e isso era algo que eu não estava disposta a deixar acontecer, antes disso preferia morrer na expectativa do que poderíamos ter sido se algum dia tivesse tido coragem de arriscar. Possivelmente o maior erro da minha vida, pois não há pior sentimento do que aquele que não pode ser expressado, que morre sufocado.
Embora não me lembre bem de como o conheci, não esqueço o dia em que o vi com outros olhos.
Tínhamos ido jantar fora... só os dois? Claro que não, como referi não éramos assim tão próximos. Todo o grupo tinha ido: a Rita, a Matilde, o Ricardo, a Sara, o Miguel e nós os dois. Sim éramos um grupo grande, muito unido e deveras divertido, mas como a vida tudo leva, esse bando também é passado.
Nesse jantar, por coincidência do destino acabámos sentados um ao lado do outro. Eu metia conversa e ele respondia mas era difícil de perceber se estava interessado em mim.
Enquanto esperávamos pela refeição decidimos jogar ao jogo do telefone estragado, sim infantil, mas quando se está aborrecido é sempre uma melhor opção do que tirar mais selfies.
Quando ele segredou ao meu ouvido podemos dizer que ou o telefone já estava mesmo estragado ou ele tinha dito: eu gosto de ti.
Parei, afastei o ouvido da boca dele voltei a cara e encarei-o, os olhos dele cor de caramelo fixavam nos meus, brilhantes e imóveis, o mundo parara de girar, tudo naquele momento breve era sobre nós os dois, eu quase podia sentir o coração dele a bater e o meu a saltar-me da boca.
-Jessica? Despachas-te? Quero acabar o jogo ainda hoje.- voltei-me, era o Ricardo já impaciente com a minha demora.
Eu não queira saber do jogo, portanto inventei uma frase qualquer e segredei-lhe rapidamente.
O jogo acabou. Acontece que a frase original era: "Eu quero Ice Tea", o que por coincidência tem o mesmo som da frase que o Lourenço me disse. Havia voltado à estaca zero. Se calhar aquele momento que eu pensei que tinhamos tido, não foi real, tratou-se apenas de passar a mensagem num jogo idiota do qual eu nem gostava.

Silêncio FatalOnde histórias criam vida. Descubra agora