Capítulo 8 - Borboletas Mortas

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–Ela sempre fazia coisas desse tipo, gritava com ela e brigava por coisas irrelevantes... – Falei, sentindo minha garganta doer, me levantei ainda falando e fui até a pia, meu cabelo estava um desastre igual minha vida.

Eu moro em lares adotivos desde que que tenho seis anos, vou passando de casa em casa, morando em várias, pois as famílias sempre me rejeitam, nunca querem garotas caladas e tímidas, sempre ficam com as extrovertidas e alegres, mas daquela vez foi diferente, me mandaram para uma casa da qual eu realmente não gostaria nem se quisesse, eu tinha uma irmã linda e isso amenizava um pouco mas não tanto para que pudesse aguentar Margaret gritando nos meus ouvidos.

–Eu ainda me lembro dela brigando conosco por coisa sem sentido, essa mulher é doente. 

(N/A: O que está em negrito são lembranças)

"–Não coma assim, você parece um animal – Ela falou com um maldito sorriso de ironia no rosto.

–Desculpe – Falei já sem pensar, nada nunca está bom para Margaret, até com sua filha ela age dessa maneira."

–Um dia Amy chegou em casa com o corpo encharcado de tinta branca, ela era bastante atormentada na escola. – Falei colocando pasta sobre a escova. 

"–Mãe? Eu ganhei uma convocação porque uma garota colocou tinta no meu armário... – Amy tentou explicar, tinta branca pingava do seu cabelo até o carpete cinza.

–Aposto que você fez de novo! Sempre me causando problemas... – A garota subiu correndo as escadas e entrou no próprio quarto, deixei o prato com aquela comida nojenta na mesa e andei até a sala, Margaret subiu atrás dela e eu ainda pude ouvir o trinco da porta se fechando, aquele maldito trinco..."

–O que aconteceu depois disso? – Chris perguntou ainda de pé ao lado da porta e eu suspirei, não quis me lembrar, mas os gritos dela ainda soavam vivos na minha mente, como se ela estivesse presa no próprio inferno e não pudesse sair.

–Ela a espancou, eu ouvi os gritos de Amy mesmo da garagem, eu não sei o que tinha na cabeça dela, talvez ela descontasse a raiva dela, Nunca entendi. – limpei meus lábios. – Eu devia ter feito alguma coisa. Bem que eu tentei. Mas o que isso me rendeu?

Machucados, hematomas, falta de sanidade.

Nunca me senti tão mal quanto naquele dia, mais tarde ela veio brincar comigo com um sorriso no rosto, mas o que ela tinha era arranhões em seus braços. 

Quando terminei, sai do banheiro e os dois me seguiram, desci as escadas mais lentamente do que nunca e caminhei até a porta, abri a mesma e me sentei sobre os degraus. Eu me sentia um lixo.

[...]

Fiquei tanto tempo pensando, que quando notei já era quase meio dia.

–Ei, Charlie... –Chris se sentou ao meu lado depois de um tempo na varanda e eu sorri tentando disfarçar meu constrangimento, eu queria ficar sozinha mas não me importei dele estar ali comigo. Nem sabia mais o porquê de eu não me importar.

–Antes que pergunte, eu estou bem. Eu só preciso pensar. Eu tenho que parar de chorar feito uma idiota como se isso fosse resolver algo –Soltei um riso abafado e me praguejei por deixar com que parecesse tão falso quanto poderia.–Só fiz isso há muito tempo e ainda me sinto idiota por isso.

Lembrei-me da noite em que papai e mamãe morreram, eles haviam saído para um restaurante, era o aniversário de mamãe, eu estaria esperando em casa com a velha babá que dormia, eu havia comprado um bolo para comer quando os dois chegassem, lembro de ter ficado a noite inteira esperando, mas eles não vieram, não vieram pois estavam ocupados morrendo em uma curva a dois quilômetros da nossa casa, ocupados gritando enquanto o carro derrapava na estrada molhada e caia pelo maldito penhasco.

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