Todos meus erros, todos meus pecados, tudo de ruim que eu fiz, agora irei pagar. Na solitária. Por "tempo indeterminado", ou seja, o resto de minha vida.
Aqui é muito pequeno, é um quadrado, deve ter menos de 2 metros cada parede, um tanto que paredes bem gastas, com alguns rachados no teto e mofo, a pintura já não existe, é apenas cimento. Não há janelas, é iluminado por uma, não muito forte, luz pendurada no teto e a ventilação vem de buracos na parede, não é das melhores, mas não me fará morrer sufocado, eu espero.
Tem uma privada um pouco enferrujada na direita, uma cama de ferro com um colchão super fino, um cobertor e um travesseiro na minha frente e uma grande e espessa porta de aço atrás de mim. Na esquerda apenas a parede com alguns escritos nele, coisas do tipo: "Alguém me ajuda", "Me tirem daqui", "Isso é o inferno", todos escritos em sangue.
Eu não tenho nada o que fazer aqui, literalmente nada, a não ser andar em pequenos círculos, fingir pular corda, deitar, dormir, falar sozinho, socar a parede.
Eu ficarei louco aqui.
Eu morrerei aqui, eu tenho certeza.
Ouço barulho de grades, e logo um guarda vem entregar comida e água.
Uma comida nojenta e uma água suja.
Mas se não fosse isso eu teria que comer meu próprio cocô e tomar meu próprio xixi.
Pego o garfo e dou uma mexida na comida, é algum tipo de purê com várias coisas nojentas que sequer consigo distinguir. Coloco um pouco no garfo e venho com ela aos poucos à minha boca, me preparando psicologicamente.
"É tudo culpa sua, você cometeu os crimes, os pecados, agora conviva com isso, coma essa comida, porque você terá que se acostumar, comerá ela para sempre."
Tem gosto de comida vencida a décadas com queimado e mais um monte de coisa ruim que não consigo distinguir. Quase vômito na hora, mas eu seguro a comida dentro de minha boca, me forçando a engolir.
Pego um pouco de água, o que foi uma péssima ideia, a água tem gosto de esgoto.
Demora um tempo para eu conseguir comer toda a comida, mas aos pouco eu consegui.
"Conviva com isso"
Me deito na cama e fico olhando para o teto pensando em quanto tempo eu sobreviveria aqui, um mês? Dois meses? Talvez três meses antes de eu ficar louco? Uma semana? Só até amanhã? Ou hoje já é amanhã?
Eu não faço ideia de horas que horas é agora, e nem tem como saber.
Isso é uma tortura, tortura tanto física quanto psicológica, acho que não vou aguentar.
Fico mais um bom tempo só olhando para o teto pensando em meu tempo de vida, em meus pecados, em meus crimes, pensando em toda a minha vida e tudo de ruim que eu já fiz. E foi tudo isso que fiz em meu primeiro dia na solitária.
Eu segurei os meus olhos até não conseguir mais, afinal eu teria todo o tempo do mundo para dormir, me viro para a parede e durmo.
"Você é fraco."
"Psicopata, louco."
"Assassino."
"Conviva com isso"
(...)
Acordo com o barulho do guarda deixando a bandeja no compartimento da porta, era um simples pão com mortadela e um copo de água de novo.
Pego o lanche e do uma examinada. Tem bolor no pão, não muito, mas tem.
Como o pão com muito preparo psicológico e água com o mesmo gosto do último.
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Solitária
Short StoryDepois de ter sido jogado em uma solitária até a morte, não demora muito até que Adam comece a questionar-se de sua sanidade. Lutando para se livrar de seus demonios. Você Aguentaria?