4- Porto Seguro

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As árvores são tão lindas, e é tão estranho que tenha uma nascendo aqui dentro, nesse cubículo pequeno. Crescendo um tanto que rápido.

Ou será mais uma peça da minha cabeça? Mais vestígios de que não me havia mais sanidade?

Não sei mais o que é real e o que não é.

Rimo não fala mais comigo, estou sozinho de novo.

A árvore que crescera era uma macieira, com grandes maçãs vermelhas e brilhantes, subo na árvore e pego a maçã mais bonita que acho.

Isso me lembra a época em que pegava maçãs para a vovó.

Quando ficávamos de férias, minha ma... Nos deixava na fazenda da vovó, era o melhor mês do ano, eu ficava longe daquela que me maltratava e ficava perto daquela que me dava amor. Vovó... Como sinto saudades de você.

A fazenda era gigante, não a casa, mas a área, tinha um grande espaço para os animais, mais um grande espaço para a horta e mais um grande espaço para a gente brincar, eu e mais dois primos.

Perto da área de brincar havia uma macieira, eu sempre gostei muito de maçã e a vovó fazia a melhor torta de maçã do mundo todo.

Eu me acabava de comer quando ela fazia, eu comia mais da metade e deixava apenas a pequena parte para meus primos, eles não eram tão fãs assim quanto eu.

Como eu tenho saudade dessa época. Quando eu não tinha problemas, quando eu ainda não havia matado ninguém, quando eu ainda era uma criança inocente que só queria comer a divina torta de maçã da vovó.

E agora aqui estou eu, preso em uma solitária questionando minha sanidade mental e lembrando dos momentos felizes que tive antes que eu morra.

Fico girando aquela maçã a admirando e lembrando da vovó.

Minhas mãos ainda doem um pouco por ter socado a parede, ainda tem o sangue na parede e em minhas mãos.

Sangue em minhas mãos...

O sangue de todas as pessoas que matei...

Todas elas estão em minhas mãos.

"Meu filho, não fique assim, tudo isso acabará um dia." escuto a voz da vovó na minha cabeça e começo a chorar lembrando de como sua voz era gentil e de como ela era gentil, simpática.

- Vovó...

Vovó era meu Porto Seguro, era alguém que eu podia contar, podia desabafar e chorar em seus ombros, ela era minha mã... A que eu nunca tive.

Dou uma mordida na maçã e a admiro, está deliciosa, fico a saboreando.

Me sento na raiz da árvore igual como eu fazia quando eu ficava na vovó e continuo comendo a maçã.

O vento em meu rosto, e o bafo.

Depois de um longo tempo Saboreando a maçã ainda sobrara um pedaço, me levanto da raiz da árvore e me sento na cama. Fico admirando a árvore linda que crescera aqui dentro desse minúsculo quadrado. Seu tronco bem marrom, sua folhas bem verdes e suas maçãs bem vermelhas.

Olho para a maçã em minhas mãos novamente e agora estava totalmente diferente.

A maçã estava podre, sua casca estava um vermelho amarronzado, a parte de dentro estava escura e também haviam alguns bichos andando por ele.

E não havia mais nenhuma árvore.

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