5- Fobia

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Esse tempo todo eu estava comendo comida estragada viajando no tempo pensando que a comida estava boa?

Será que foi assim que eu sobrevivi todo esse tempo?

A comida quando não vem mais, demora muito mais tempo e tem vezes que eu chego a desmaiar de fome.

Meu corpo já não funciona muito bem, as vezes nem consigo ficar em pé por fraqueza, e quando consigo ficar em pé, meu corpo inteiro treme, como se fosse aqueles idosos com muletas.

Está cada vez mais tedioso aqui dentro, Rimo desapareceu e mais ninguém me visitou, e a única coisa que consigo fazer é ficar deitado na cama.

Está tanto calor que nem pelado não deixo de suar.

Cada vez mais difícil ficar aqui e sinto que não vou viver tanto. Algumas funções de meu corpo já não funcionam corretamente, meus dedos estão duros e meu intestino está uma bosta.

Maldito país.

Amaldiçoado país.

E Amaldiçoado aquele que criou essa maldita lei.

"Aquele que tiver feito assassinato, terá pena de morte, preso em uma solitária até a morte."

O que será que eles pensavam quando criaram isso?

Inúteis, malditos.

(...)

Fico deitado na cama olhando para o teto pela eternidade agora, não consigo mais ficar em pé.

Então apenas imagino fico imaginando coisas que sequer existem, como por exemplo, a vida feliz que nunca tive e que nunca terei.

Imagino tanta coisa que parece que minha alma sai de meu corpo e começa a ir para outros lugares fora desse cubículo.

Mas é tudo imaginação.

É tanta imaginação que vejo um mosquito passando pelos buracos na parede. Como é possível?

Será mesmo uma mosca ou é apenas minha cabeça?

Não, é bastante real. A mosca passa pelo meu ouvido e faz aquele barulho irritante de pequenas asas batendo.

De repente mais moscas apareceram, não apenas moscas, mas apareceram também abelhas, grandes e amarelas abelhas.

Apareciam uma, duas, três... Cinco de só uma vez pelos buracos.

Meu coração acelera. Fobia de abelhas.

"Você tem coragem de matar alguém e tem medo de umas simples abelhas?", a voz em minha cabeça dizia.

Mas não eram simples abelhas, elas eram estranhamente grandes.

Fiquei encolhido na cama debaixo da coberta, me cobrindo todo, até a cabeça.

Aquele barulho de mosca voando me encomendando demais, a vontade que eu tinha era socar as paredes até elas caírem e sair correndo até não aguentar mais. Mas a única coisa que eu podia fazer era sofrer ali mesmo.

Fico um bom tempo encolhido na cama até que o som desaparecesse, o que demorou mais ainda.

Ainda tremendo tiro o cobertor de minha cabeça para ver se a tortura tinha acabado e para minha surpresa claro que não havia acabado.

E sim piorado.

Me sento na cama e me vejo de frente com uma pessoa feita de moscas.

Sim uma pessoa feita de moscas, não era apenas uma e sim uma pessoa, uma pessoa.

A pessoa mosca fica parada me encarando (?) e eu a fito de cima a baixo, era um monte de mosca voando formando uma pessoa.

Fico a olhando de cima para baixo, apesar de ser perturbante era fantástico e estranho mas fantástico.

- Olá - a pessoa mosca diz.

Não deixo de me assustar, do um pequeno grito, como era possível.

Logo a pessoa mosca começa a se desfazer e a voar em minha direção milhares de moscas e abelhas, elas começam a me rodear, a rodear minha cabeça, fico tentando as afastar, mas eram muitas.

Sinto umas entrando em meus ouvidos, o que fez cócegas e logo estavam dentro de mim, era horrível a sensação.

Algumas também entraram pelo meu nariz, eu espirrava muito e esfregava o nariz e o ouvido, algumas saíram pela minha boca que consequentemente algumas entraram também.

Agora havia moscas até dentro de mim.

Por favor, alguém me ajuda.

Eu me debatia todo tentando afasta-las, mas em vão, porque eram muitas, muitas, muitas.

O barulho de tantas moscas voando era ensurdecedor, estava me deixando louco... Mais.

Como seria bom agora um lança chamas e botar fogo em todas essas maldições, inclusive em mim.

Mas não era possível mata-las, e nem a mim.

Uma pena, adoraria me matar.

Sinto as moscas voando dentro de meu ouvido e nariz.

Fechei meus olhos e apenas desejei que aquilo tudo acabasse, que aquela tortura toda parasse, que aquele barulho que tanto me incomodava parasse.

Eu estava todo arrepiado, todos os pelos de meus corpo estavam arrepiados e meu coração parecia que sairia por minha boca.

Eu implorava para que parasse, mas nada mudava.

Implorava cada vez mais e mais e mais...

Até que finalmente tudo fica silencioso novamente e vou abrindo os olhos aos poucos.

As moscas haviam sumido, mas agora a lâmpada havia quebrado e eu estava consumido na escuridão.

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