Finalmente ela sumiu. Graças a Deus, graças a mim que consegui falar a maldita palavra.
Eu estou muito magro, muito mais de quando eu cheguei aqui, minhas clavículas aparecem de mais e meu rosto estou parecendo Michael Jackson.
- Rimo? - O chamo.
Ele não responde.
- Rimo, por favor fala comigo - eu implorava.
- Ele não vai lhe responder.
Eu reconheço essa voz. E não curto ela.
- O que? Todos os meus demônios resolveram me assombrar?
- Parece que sim - meu primeiro assassinato dizia.
Ele estava com a cara toda amassada de porradas com sangue saindo até de seus olhos sentando no mesmo lugar em que minha ma... Estava.
Ele se levanta e vem em minha direção, vou me afastando a cada passo que ele dá, mas o lugar é extremamente pequeno.
- Você sabe que não tem salvação né? Você sabe que nunca será perdoado? Sabe que morrerá aqui?- Sei muito bem disso - Digo, as lágrimas escorriam em meus olhos.
- Tudo o que você fez, nunca sairá as cenas horríveis que você protagonizou de sua cabeça. E você sabe muito bem do que estou falando - ele diz apontando para o próprio rosto.
Droga, droga, droga, droga. Eu me odeio.
- Tchauzinho, só vim para lhe falar isso mesmo.
(...)
Desisto de usar roupa, além delas estarem super sujas estão super grandes do tanto de peso que perdi, a calça já não cabe mais e a blusa cabe três de mim. Me dispo totalmente, tiro as meias que já estavam todas rasgadas, a calça que não tive nenhum esforço para tirar porque ela já caia sozinha, a cueca e a blusa, ninguém vai me ver mesmo, então não faz diferença.
Não está frio, pelo ao contrário está muito abafado e os buracos não ajudam em nada.
- Rimo? - O chamo novamente.
Ele não responde de novo.
- Já disse que ele não vai aparecer.
- Você de novo não - digo.
- Sabe que ele não existe né? Assim como eu.
- Para! - Mandei e me virou de costas para ele.
- Estamos apenas lhe contando fato, querido. - Não era a voz do meu primeiro assassinato e sim a voz de quem eu mais temia, a pessoa que eu mais temia.
As lágrimas agora jorravam de meus olhos.
- Não pode ser - digo fungando. - Eu estou louco - concluo.
- Vire-se e me veja, querido. Não sentiu saudades?
Não, não, não, não. Eu batia a cabeça na porta fazendo um grande barulho.
- Vá embora, não quero lhe ver.
- Olhe, querido. Olhe para sua esposa que você tanto amou.
Emy... Me desculpe por tudo, me desculpe, por favor. Foram as malditas vozes, essas malditas vozes que nunca sumiram, mentirosas, MENTIROSAS. Por favor, Emy. Me perdoe.
Queria muito conseguir dizer essas palavras a ela, mas o nó em minha garganta não permitia.
Eu a amava tanto.
- Você me matou, Adam. O mínimo que você pode fazer é olhar para mim - sua voz era rígida.
Me viro devagar com os olhos fechados e vou abrindo aos poucos.
O que vejo não me agrada nem um pouco.
Minha mulher estava sentada ao lado de meu primeiro assassinato, ambos com os rostos todos machucados e buracos de facas nas roupas cheias de sangue.
E tudo começou a borrar, as lágrima não me deixavam me ver mais nada.
Uma onda de raiva me atinge. Raiva por não ter conseguido me controlar, raiva por eu ter feito o que fiz, raiva por estar aqui, raiva por ter nascido.
Começo a socar a parede, a socar com toda minha força, porque era isso que eu fazia quando estava com raiva, dava soco nas coisas ou nas pessoas.
- Vai nos matar agora? - Os dois disseram em uníssono em tom rígido. - Igual você fez da última vez?
Eles estava parados na minha frente com os olhos totalmente sem vida me encarando, me jogo para trás com o susto e medo.
- Você não teve medo quando nos matou - disseram juntos.
As lágrimas não paravam de escorrer por meu rosto.
- Agora é nossa vez de lhe matar.
Os dois tiram uma faca do bolso de trás e vem em minha direção, não tinha para onde eu correr, apenas me joguei para o lado e me escondi debaixo da cama.
- Desista, não tem para onde você fugir - eles diziam as mesmas palavras que eu disse quando os matei.
Eu tremia, de novo.
O meu primeiro assassinato se abaixa e me encara de novo com seus olhos sem vida.
- Saia daí.
Me arrasto pelo chão para sair de debaixo da cama e me levanto evitando ao máximo não os olhar.
- Vocês não são reais - eu dizia tentando me convencer.
- Somos e bem reais.
Um deles me ataca com a faca mas me esquivo.
- Somem daqui! - Gritei e me sentei no chão segurando os dois joelhos.
E os dois sumiram.
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Solitária
Short StoryDepois de ter sido jogado em uma solitária até a morte, não demora muito até que Adam comece a questionar-se de sua sanidade. Lutando para se livrar de seus demonios. Você Aguentaria?