7- Passado

104 15 1
                                    

Sabe quando dizem que sua vida inteira passa diante de seus olhos quando você está prestes a morrer? Acho que é exatamente isso que está acontecendo agora.

Na roda estava cada um em ordem de morte, quem eu matei primeiro estava a minha frente e em sua esquerda (minha direita) a segunda e assim em diante.

O meu primeiro assassinato vem em minha direção e para na minha frente, bem colado em mim, seus olhos sem vida sem encontram ao meu e ele entra dentro de mim como se fosse um espírito possuindo alguém.

A lembrança começa a vir em minha mente, a lembrança de como o matei.

Eu tinha apenas sete anos.

Estava andando por um beco que tinha perto de uma padaria, eu sempre passava por ali para ir à minha casa depois da escola, que pouco tempo depois fui expulso de lá por ser esquisito e também por ter agredido um coleguinha, quando as vozes começaram a falar em minha cabeça.

Dizendo coisas incompreensíveis, era muito barulho, coloquei as mãos em meus ouvidos e comecei a balançar a cabeça desejando que aquilo parasse e gritava para que parasse, gritava o mais alto possível, mas era inútil.

Era irritante como aquilo não passava e ficava minutos e mais minutos, as vezes até horas, aquele um monte de voz na minha cabeça.

Eu não conseguia controlar minha raiva, eu dava soco na parede.

Eu era apenas uma criança de sete anos que não sabia controlar sua própria raiva.

Um homem que passava no beco no momento em que eu batia minha cabeça contra a parede parou e encostou em mim.

- Precisa de ajuda, garoto? - Ele disse gentilmente mas eu estava fora de mim, parei de bater minha cabeça e me virei pra ele.

- Me ajuda - disse com os meus olhos escorrendo lágrimas e minha cabeça sangrando um pouco.

Ele me pegou pelos braços mas eu os larguei de voltei com as mãos no ouvido, as vozes falavam mais alto agora.

"Mate-o, mate-o", as vozes diziam.

- Venha - o homem dizia.

O fogo em meus olhos havia se ascendido.

Pulei em seu pescoço e comecei o sufocar.

Uma criança de sete anos contra um homem de... O que? Vinte, trinta anos?

Obviamente ele era mais forte que eu, logo me jogou longe e saiu correndo.

Pego um cano quebrado que estava no chão, estava com uma parte com ponta fina.

Seria fácil mata-lo.

Ele podia ser mais forte, mas eu era mais rápido, vou em sua direção e cravo a parte de ponta fina em suas costas ele cai de joelhos, o viro de barriga para cima e continuo encravando o cano em sua barriga, pescoço.

Seus olhos já não haviam mais vida mas mesmo assim eu continuava a fazer o mesmo gesto, repetidas e repetidas vezes.

Até que as vozes pararam.

Então volto para o centro do círculo e agora havia menos um assassinato no círculo, menos um de mais de cinquenta, o segundo assassinato era minha ma... E eu assistia como eu havia a matado.

O terceiro assassinato era minha mulher.

(...)

Depois de muito, mas muito mesmo, tempo assistindo os meus assassinatos percebo que eu comecei a obedecer mais as vozes e matar por prazer, eu estava gostando de matar, era como se toda a energia da pessoa que eu matava fosse para mim e me deixava mais forte.

No final do tormento de ter que reviver tudo o que fiz eu já estava exausto.

Estava ofegante e me arrependido por tudo o que fiz.

Realmente arrependido.

Pensando em todas as famílias que destruí, todas as vidas que destruí, as lágrimas começam a escorrer pelas minhas bochechas.

- E agora você chora? - Minha esposa disse. - Depois de tudo o que fez, agora está arrependido? Tarde demais... Adeus, Adam.

Todos se reúnem em círculo de novo e eu fico no meio chorando feito criança, mas como minha mulher dissera... Tarde demais.

Solitária Onde histórias criam vida. Descubra agora