Capítulo 4

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Minha mente trabalhava em uma velocidade surpreendente enquanto imaginava as situações perigosas em que Andie poderia estar metida. Ela era atraída para a morte, estava na natureza dela, assim como eu era atraída pela luxúria. Só que diferente de mim, Andrômeda era um artigo raro de uma coleção. Tanto por ser uma banshee, quanto por ser neutra, não se envolvendo em nenhum assunto com o céu e o inferno.

Dirigia velozmente pelas ruas de Las Vegas sem me importar com as inúmeras multas de trânsito que chegariam em breve à minha porta. Não sentia remorso por ter abandonado Noah em um momento difícil e assustador como a apresentação de um projeto inovador aos investidores. Ainda mais sem o auxílio de meu decote.

Praguejei ao relembrar das roupas que estava usando. Há vinte minutos elas pareciam as mais aceitáveis em uma reunião importante, agora eram totalmente incômodas. Estacionei em frente a Universidade de Nevada, a UNLV, sem me preocupar por ter parado na vaga de deficiente. Tirei os saltos, jogando-os por cima do ombro para banco de trás e saí apressada carregando minha bolsa, digitando furiosamente o número de Andrômeda.

— Onde você está? — indaguei entrando e sendo olhada por todos com uma mistura de confusão e desejo. Com minha aparência de uma mulher de vinte e cinco anos, todos deveriam pensar que eu era uma formada ou professora substituta.

— No porão. — ela respondeu sussurrando. Parecendo ler a minha mente que ecoava a pergunta: mais que porra ela foi fazer no porão?, acrescentou em voz baixa: — Não posso ficar gritando a plenos pulmões pelos corredores. — escutei-a engolindo a seco e reclamar em seguida. — Se você soubesse o quanto minha garganta está doendo...

Desacelerei os passos, percebendo que sua voz estava mais equilibrada mesmo que ainda estivesse baixa. Só o sensor de perigo ainda estava disparado em minha mente. Andie só gritava daquele jeito por um motivo. E além de descobrir qual era esse motivo, eu teria que consertar as conseqüências que ele havia causado.

— Não desligue. — eu disse indo até a escada de incêndio. O único som que enchiam as paredes era dos meus pés descalços contra a escada. — Você sabe se... tem algum morto ou a pessoa sobreviveu?

Ela ficou em silêncio por um tempo, considerando. Até que suspirou.

— Eu não sei. — ela respondeu irritada. — Não sabe o quanto é frustrante ter essas habilidades e não ter um manual de instruções para me auxiliar. Mas eu tenho certeza que se a pessoa não estiver morta, está bastante ferida. — estalou a língua. — Isso tudo é por minha causa, não, Faye? Eles estão atrás de mim.

— Eu não sei. — repeti sua resposta não gostando que estivéssemos cercadas por tantas dúvidas. — Só sei que você irá se acostumar. — dei uma risada amarga. — Você tem que se considerar sortuda. Não tive ninguém do meu lado para me salvar quando tinha algum problema com os meus poderes. Tive que aprender a me virar sozinha.

Conseguia escutar o sorriso em sua voz.

— É, sou sortuda. — ela admitiu. — Onde você está?

— Aqui. — respondi desligando o celular e indo de encontro á ela.

O porão estava tremendamente escuro, sendo iluminado apenas por uma lâmpada que emitia uma luz precária. Nas paredes, tinham fileiras de armários de ferro enferrujados. Andie estava encolhida ao final deles, abraçando suas pernas e pressionando-as contra o seu peito. Tinha marcas arroxeadas embaixo de seus olhos escuros e seus lábios estavam pálidos. Além do corpo trêmulo. Abaixei-me ao seu lado e toquei seu ombro, percebendo o quanto estava trêmula. Realmente tinha me enganado ao pensar que ela havia se acalmado.

Trato DesfeitoOnde histórias criam vida. Descubra agora