Capítulo 7

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O celular caiu da minha mão junto com os arquivos, porém nem o estrondo desses objetos contra o chão me fez acordar daquele pesadelo. Minhas pernas tremiam e tive que me obrigar a sentar antes que caísse também. Agachei-me pegando o celular primeiro e pondo-o de volta na orelha e tive que limpar a garganta umas duas vezes antes que conseguir falar algo. A voz tinha me escapado junto com a chance de me livrar daquele pesadelo.

— Como essa porra aconteceu? — controlei minha voz e respirei fundo. — Espere um segundo — alertei quando vi a porta de Noah se abrindo. Ele pareceu surpreso ao constatar que eu ainda estava ali e veio até a minha mesa.

— Você conseguiu falar com o detetive? — indagou.

— Oh, claro — respondi, forçando um sorriso. Seus olhos âmbar recaíram nos documentos espalhados no chão. Saltei da cadeira, pousando o celular na mesa e fui catar, sentindo minhas bochechas corarem. Era como se eu tivesse que fazer milhares de coisas ao mesmo tempo e não soubesse por onde começar. Empilhei-os e botei de volta no lugar. — Sua ruiva misteriosa logo irá aparecer, Noah.

Ele me deu um olhar sombrio, como se estivesse, não apenas me analisando, mas também tudo o que acontecia a minha volta. Cruzei as pernas digitando no meu computador como se fosse a coisa mais normal do mundo. Levantei os olhos castanhos e inocentes para ele, como se não tivesse notado que permanecia no mesmo local, me observando. Meus dedos coçavam para pegar o celular e gritar para Roman me explicar com detalhes o que havia acontecia. Só que em todos esses anos de existência, aprendi a ser paciente.

— Precisa de mais alguma coisa, Noah?

Ele continuou me olhando em silêncio até que balançou a cabeça.

— Não — forçou um sorriso. — Não fique até tarde no trabalho. Uma pessoa semana passada me aconselhou à sair e conhecer novas pessoas.

Sorri de volta.

— Está se oferecendo?

Isso o fez rir.

— Até amanhã, Brooke.

Ele pegou o casaco no cabide e foi em direção as escadas. Praticamente voei até o meu celular e me encolhi contra a minha cadeira, verificando que não tinha ninguém naquele andar. Qualquer pessoa normal ficaria apreensiva com a ideia de ficar sozinha em um andar escuro, porém depois de tudo que tinha visto, nada poderia me assustar. A arma guardada no fundo de minha bolsa afugentava os pensamentos sombrios.

— Pode abrir a boca — exigi. — Me explica como um anjo some.

Ele respirou fundo, arrastando sua cadeira de rodinhas de onde quer que estivesse e soltou o ar. Nesse curto tempo de silêncio, o barulho de arfar de folhas encheu meu ouvido enquanto minha mente era carregada para aquele momento em que seus olhos cinza estiveram perigosamente me averiguando. Por que ele não demonstrou desejo? Era por eu estar no meu corpo de Brooke? Coloquei os cotovelos na mesa e as têmporas nas mãos.

Nunca – nem mesmo em minha época humana – fui desprezava por nenhum homem. Diabos, até mulheres me desejavam. Ser súcubo só ampliou um charme que já me era natural, uma sedução quase irresistível. Pelo menos na prática, já que o Nephilim parecia imune. Se bem que ele não teria muita energia para me oferecer por conta de sua metade anjo. Por isso nunca me dava ao trabalho de ir atrás de criaturas sobrenaturais. Elas não tinham energia nenhuma á me oferecer.

Um leve alarme soou em minha mente, porém foi bruscamente cortado pela voz baixa e rouca de Roman. Era a primeira vez que eu o via realmente raivoso.

— Eu estava falando com ele sobre o seu novo trabalho e escutei um barulho estranho. Ele me pediu para esperar um pouco e ouvi vozes discutindo com eles. E parecia uma coisa séria. Só consegui entender já chega! Justiça! Coisas vagas, sabe? — assenti por mais que ele não pudesse ver. Suspirou. — O ponto é: depois da discussão, teve um estrondo e a linha ficou muda — imaginei-o dando de ombros. — Agora eu não sei o que fazer.

Trato DesfeitoOnde histórias criam vida. Descubra agora