Capítulo 10 - parte I

88 12 22
                                    

— Problemas familiares — Noah resumiu. Assenti, lembrando-me vagamente como era confuso tratar desse assunto. — Algumas notícias me pegaram de surpresa e não soube como lidar. O problema é que todos da minha família tentam me defender e eu realmente odeio quando me escondem as coisas — desabafou irritado.

— Se o seu chefe era tão insaciável como você diz... — Roman começou e deu outra tragada. Cruzei os braços, batendo o pé no chão demonstrando minha impaciência. Ele gesticulou para o meu corpo. — Então, por que você ainda está faminta, Callisto?

— Contate um detetive particular e encontre essa mulher. — Noah me estendeu papel e caneta com a ordem silenciosa que eu anotasse sua descrição. — Ela é baixa, talvez 1,60 de altura ou menos. Pele bem clara e o corpo cheio de curvas — ele suspirou olhando pela janela, preso em seus pensamentos. — Os cabelos ruivos, longos e ondulados. Ah, olhos verdes. Verdes da cor que uma esmeralda deveria ter, porém nunca possuía.

Se eu estivesse com uma das mãos soltas, com certeza estaria batendo com ela em minha testa por tamanha a minha burrice. Todos os sinais estavam na minha frente esperando que eu os decifrasse. Apostava que Roman tinha juntado as peças primeiro. Os olhos âmbar de Noah eram quase uma cópia perfeita do que eram os de Jade, porém estavam carregados de raiva. E o M oculto em seu nome... Apostava que era de Masterson. A falta de energia depois de nossa longa noite de sexo era uma dica expressiva do que eu estava lidando.

— Eu... — abri minha boca sem saber o que dizer. Meu corpo estava tenso por conta do choque. — Eu não senti a sua presença.

Ele deu um passo altivo na minha direção, deixando que seu rosto fosse iluminado totalmente pela luz precária do local. Pelo canto de meu olhar percebi o sorriso satisfeito de Howard enquanto observava a cena se desenvolvendo. Noah me analisava como se estivesse se contendo para não me sufocar com suas grandes mãos – que no momento estavam fechadas em punho. Eu estava presa em um estado quase catatônico, o que me impedia de sentir medo.

— Nunca me transformei — ele respondeu com a voz cortante.

Para qualquer pessoa que não entendia do assunto, aquela resposta não bastaria. Porém todos os presentes tinham experiência o suficiente no mundo sobrenatural para saber que quando alguém nascia com os genes dos lobisomens, só tinham a presença perceptível após a primeira transformação, o que ocorria depois da primeira morte. Só que, por mais que ele não fosse de fato um lobisomem, ainda me bloqueava como se fosse um. Por isso não consegui capturar sua energia quando transamos. Não tive ousadia o suficiente para ficar aliviada em constatar que Noah nunca tinha matado ninguém porque isso poderia mudar nos poucos minutos a seguir.

As palavras de Howard se voltaram contra mim com força e minha cabeça doeu com a quantidade de informação que recebi. Eu não estava totalmente errada quando os vi no bar do hotel e deduzi que estavam fazendo um pacto. Muito menos que Howard havia achado Noah através de mim. Isso tinha sido verdade. O demônio tinha ouvido e olhos em todo lugar. Foi como tirar doce de uma criança achar um elo entre mim e o lobisomem que nunca havia matado ninguém, fazendo dele uma alma boa para se barganhar.

Quem não gostaria de se vingar da pessoa que havia matado a sua irmã?

Meus olhos pareciam estar presos nos dele, enquanto avaliava a situação mentalmente. Não precisei de mais nenhum segundo ou argumento para perceber que ele sabia de tudo. Incluindo a minha identidade falsa. Na verdade, ele sempre deve ter desconfiado. Por mais que seu lado de lobisomem não fosse perceptível para mim, algo dentro dele deve ter alertado que eu não era cem por cento humana. E, além disso, não seria nenhum esforço para Howard abrir a boca sobre minha identidade verdadeira.

Trato DesfeitoOnde histórias criam vida. Descubra agora