Capítulo 3

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Com esforço, puxei meu corpo para cima na barra e senti os músculos do meu braço reclamando. O suor deixou manchas por toda a minha roupa e fazia as minhas mãos escorregarem. Poderia parecer bobeira, mas gostava de malhar. Mesmo que pudesse ter o corpo que quisesse, queria ter a experiência do esforço. Deixei meus braços relaxarem e respirei fundo, preparando-me para outra.

— Então é isso o que você faz nas horas vagas?

Tomei um susto com a voz de Roman e acabei caindo no chão. Sorte que não foi de mal jeito. Meu corpo ainda estava dolorido mesmo tendo se passado uma semana desde a luta contra os lobos. Estava evitando andar por um tempo com o meu antigo rosto, temerosa de que eles estivessem me espiando. Além disso, ainda estava com a energia do cara do cassino, mesmo que já estivesse no estoque final.

— O que está fazendo aqui, Roman? — perguntei, me levantando e indo secar meu rosto na toalha. Quando fitei meu acompanhante, ele estava estudando meu corpo com toda a atenção do mundo. Botei as mãos na cintura, o encarando. — O que foi?

Ergueu seus olhos claros até os meus, fazendo minha pele coçar. Virei o rosto, me repreendendo por ter usado a energia com superficialidades. Agora a fome estava voltando e o fato de Roman ser metade humano não ajudava em nada.

— Prefiro você ruiva. — ele declarou, acabando com aquele silêncio constrangedor. — Esse corpo parece... perfeito demais.

Estreitei os olhos, dando um passo a frente.

— Ele não te atraí?

Seu meio sorriso fez com que meu rosto esquentasse por conta do comentário.

— Não disse isso. — ele se justificou. — É que esse corpo me lembra o quanto você quer ser humana. E o quanto está batalhando por isso. Confuso, não é? Acho que só gosto de você como Callisto. Esse corpo é bonito, mas o outro é...— ele pausou olhando-me dos pés a cabeça com os olhos azuis escurecendo de desejo. — Sexy — finalizou.

Eu estava com fome. Muita fome.

— Entretanto, infelizmente, não foi por causa do seu belo corpo que estou aqui. — ele acrescentou com a voz leve. Limpei a garganta algumas vezes, concordando com as suas palavras e bebendo água. — Temos outra missão.

— Imaginei que você não viria me trazer cartões de natal. — resmunguei e estendi minha mão, pegando a folha com o endereço. Franzi o cenho ao perceber que era a poucas quadras dali. — O que é dessa vez?

— Um demônio e uma humana. — disse vendo meu erguer de sobrancelha. — Você sabe tão bem quanto eu que demônios só se aproximam de humanos com um só objetivo: Pegar as suas almas. E antes que me pergunte, sim, essa garota é importante. Acho que é uma Nephilim também, só que não sabe .— deu de ombros.

Isso estava ficando mais interessante a cada segundo.

— Assim como você?

Assentiu desconfortável.

— Então não vou precisar atirar em ninguém, nem correr de um bando de pessoas querendo me matar e nem serei jogada em uma janela de vidro?

Isso o fez rir, liberando a tensão de seus ombros largos.

— Não posso garantir isso, Callisto. — tocou minha bochecha novamente com a ponta dos dedos, mantendo o meio sorriso nos lábios. Seus olhos faiscavam de humor. — Acho que você tem que se alimentar. Vai ter um dia que vou acabar correspondendo á esse olhar faminto e estarei fadado á danação eterna. Você não quer isso para mim, quer, Callisto?

Trato DesfeitoOnde histórias criam vida. Descubra agora