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Hoje o dia amanheceu nublado, não tínhamos mais um horário certo, o tempo se tornara algo irrelevante para nós, mas foi antes do meio-dia quando nós ouvimos de longe o som que parecia mais com aspirador-de-pó. Eram eles, os diretores e a presidente da O.A.N (Operação Arca de Noé).

Antes do colapso total, muitas arcas já haviam partido, e agora restavam mais duas. Não sei ao certo quantas pessoas foram salvas, quantas morreram ou ainda estão aqui para morrer, mas as arcas possuem um tamanho enorme, e se eu bem me lembro do tamanho de um campo de futebol, uma arca é do tamanho de três.

Uma aeronave surgiu no horizonte, era achatada, e não possuía asas como os aviões que haviam antes, nem hélice como os helicópteros de antigamente, era prateada e haviam janelas ao redor. Quando se aproximaram mais, pude observar que havia escrito N.A.S.A e abaixo escrito O.A.N. Eles desceram num campo aberto, bem ao lado da nossa comunidade.

Todos nós fomos até a aeronave para ver de perto, e uma porta se abriu descendo até o chão formando uma rampa. Lá de baixo pude enxergar a silhueta de cinco pessoas, e quando desceram, pude vê-los melhor. Eram cinco homens, três vestiam jalecos e dois usavam uma roupa escura e portavam algo na cintura, acho que eram armas. Não haveria necessidade de usar algo maior ou mais poderoso, já que não havia riscos de um ataque ou algo assim, seria besteira. Também havia uma mulher, com cabelos ruivos e uma expressão feliz, mas na verdade aquele olhar não me alegrou muito.

Eles se aproximaram e pararam bem na nossa frente. Reparei que a mulher segurava uma prancheta nas mãos e que os três homens de branco seguravam algo nas mãos, era como os leitores de código de barras, só que maiores.

A mulher começou a falar.

– O meu nome é Yana, e eu sou presidente da O.A.N (Operação Arca de Noé), qual acredito que todos já ouviram falar, não é?!

Ninguém respondeu nada, continuamos em silêncio ainda estupefatos com a aeronave.

– Chegou o tempo de "recrutarmos" os novos jovens que integraram a Arca, a penúltima que enviaremos para nosso novo lar. – ela prosseguiu, enquanto andava com os braços para trás, olhando para cada um. – Já passamos pelas outras comunidades, e está aqui é a última do nosso trajeto, então breve estaremos partindo.

Ela parou na minha frente e me olhou fundo nos olhos, eu não sabia o que fazer, pensar ou dizer, fiquei completamente sem graça, espantado com seu olhar, parecia que ela podia olhar minha alma ou ler meus pensamentos, ela me deixou totalmente hipnotizado.

– Infelizmente não são todos que poderão partir, sabem disso, e além da nossa seleção aqui, os recrutados passarão por provas que irão dizer se estão aptos e merecem partir, não aceitaremos qualquer tipo de gracinha, ou então acabaremos com suas chances ali mesmo. – ela prosseguiu a conversa, ainda olhando para mim.

Ela desviou o olhar, e seguiu para junto dos outros que vieram com ela. Eles tomaram o lugar dela e ela voltou para dentro da aeronave.

Eu ainda estava distraído, lembrando-me daquele olhar penetrante. Não faço ideia do que ela viu em mim, e pela primeira vez, em muito tempo, eu fiquei assustado.

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A ArcaOnde histórias criam vida. Descubra agora