A Arca

04

Foi um choque gigantesco, primeiro por saber que um dia irei perder minha visão e depois por não ser escolhido para embarcar, mas meu pai pareceu muito mais chocado com isso do que eu.

– Não é possível, deve haver alguma maneira, uma cura? – perguntou meu pai, desesperado.

– Meu caro Senhor, sinto muito, não há mais recursos aqui para tratar isso, ele vai ficar! – respondeu com uma voz mais severa e empurrou meu pai para o canto com brutalidade.

Eu não me contive, e pulei em cima dele, dando socos no capacete, mas sabia que nada daquilo iria adiantar muito, mas eu estava com raiva, e não pararia até que ele me fizesse parar.

Ele tirou uma pistola da cintura, e eu desci de suas costas imediatamente, temendo pelo meu pai.

Ele se virou para mim e se aproximou com pressa, e apontou a arma na minha testa.

– Acha que pode fazer o que bem entende? – ele perguntou.

– E você acha que pode? – eu rebati a pergunta, e ele empurrou minha cabeça com a arma na minha testa e fiquei encostado na parede, sem saída.

Eu fechei meus olhos com força, só estava esperando o tiro, mas ele estava demorando muito para fazer qualquer coisa. Então abri os olhos e o homem estava em pé à minha frente com a arma ainda na mão, mas ele a deixou cair. Foi então que percebi, quando ele tombou no chão, que havia uma faca cravada em seu pescoço. Meu pai o havia matado.

Ele estava paralisado, não estava acreditando no que havia feito, e eu também estava embasbacado com a atitude dele, mas não o julguei, afinal, ele me salvara.

– Mas o que foi que eu fiz? – se perguntou, colocando as mãos na cabeça, com seus olhos arregalados, mirando para o homem morto.

– Pai, não se preocupe, vamos dar um jeito nisso! – eu respondi para tentar confortá-lo, e realmente havia uma ideia do que fazer naquele momento, mas eu não sei se daria certo, talvez fosse suicídio, mas não podia deixar as coisas daquele jeito, tinha que tentar alguma coisa.