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As minhas pernas estavam travadas, e não conseguia sair do lugar. O esforço que eu fazia era em vão, e a única coisa que acontecia era uma súbita dor em minha perna que eu não sabia explicar. Se era algo psicológico? Provavelmente, mas o fato era que eu tinha que sair daquele ponto o mais rápido possível.
Peni estava me olhando como se eu fosse a sua única salvação, e eu dava razão a ela, pois não tinha mais sua mãe para te proteger, e minha única salvação lá era meu pai, que agora eu não fazia ideia de onde podia estar.
Encontrá-lo! Esse foi o pensamento que me destravou e enfim consegui me mover dali, e então os corredores foram se tornando nossa única chance, isso se eu encontrasse o lugar certo, não é?
Porra! Onde foi que eu tinha me metido? Onde eu meti meu pai? Era para estarmos lá em casa, e apesar de tudo, talvez, ainda podíamos estar vivos, e se estivéssemos ainda nos restaria um bom tempo até nossa morte. Agora ela estava ainda mais próxima naqueles corredores de metal frio.
Os corredores iam se multiplicando, de forma que eu não conseguia entender muito bem como aquele lugar podia ser tão grande assim. E então eu pensei e deduzi que eu não estava andando em linha reta, estávamos andando em círculos, e eu tinha que tomar um rumo diferente.
Peni voltou para meu colo, e agora eu tinha que andar mais depressa. Era um teste e eu tinha que pensar, não adiantava tomar decisões precipitadas.
Alguns passos depois eu tive uma grande surpresa, e descobri que as decisões pensadas não iriam rolar.
O chão se abriu e revelou uma armadilha de espinhos de ferro, afiados e pontiagudos, prontos para atravessar até mesmo o corpo de alguém que estivesse com a melhor roupa resistente possível ou um brutamontes gigante.
Estávamos ali para sofrer, e a as chances de sobreviver se tornaram ainda mais curtas. Então uma pergunta me veio como um estalo: Será que eles faziam isso com todos ou eles descobriram que eu e meu pai estávamos ali de penetra?
Eu segurei Peni com força e num reflexo eu saltei, e parei nas pontas dos pés, passando por um fio de ser estraçalhado por aquelas farpas mortais. Peni estava de olhos fechados, e segurava em minha roupa como se aquilo a pouparia se caíssemos.
– Não se preocupe, ainda estamos vivos. – eu disse, olhando o rostinho assustado daquela garotinha.
Ela abriu os olhos, mas ela não olhou para mim, e sim para trás.
– O que está olhando?
Eu me virei antes que ela pudesse me responder.
Uma parede de metal desceu do nada trancando a passagem de volta, e então algo me passou pela cabeça.
Eu tinha que correr!
– Se segura! – disse a ela, mas Peni já estava presa a mim há muito tempo.
Minhas pernas tomaram uma força que eu não conhecia, e então corri com a pequenina no meu colo. Parede por parede foi se fechando atrás de nós, de modo que se ficássemos lá, estaríamos presos, ou pior, já poderíamos estar mortos.
Conseguimos chegar a outro corredor extenso, escuro e apertado, faltava pouco para ter que andar de lado, meus ombros quase se encostavam nas paredes enquanto caminhava.
Eu estava ofegante, correr com alguém no colo não é fácil, ainda mais se nunca foi de praticar esportes como eu, nunca fui preparado para nada, mas até que mandei bem. Era isso ou morrer, e não podia facilitar para eles, e ainda tinha Peni, que está 100% confiada em mim, não posso decepcioná-la, é só uma criança.
A medida em que prosseguíamos, percebi que as paredes estavam ficando mais apertadas, tive que colocar Peni no chão, mas ela não deixou minha mão nem um segundo. Podemos seguir até que enfim encontramos uma claridade no final daquele corredor apertado, e ao ter uma visão melhor, o novo corredor em que fomos parar havia apenas uma fonte de luz que descia como um feixe de luz azulada, e iluminava um objeto que parecia flutuar sob a luz.
Era uma arma!
Uma CX 30, como estava escrito em sua superfície metálica escura, com filetes luminosos que corriam até a ponta da arma. Um revolver diferente do que já tinha visto, e provavelmente nada de bom viria dali.
Não estava lá em vão, então eu peguei, e ao encostá-lo percebi que havia uma densidade naquela luz, eu podia sentir um leve calor quando enfiei minha mão debaixo do feixe. Era como se a luz pudesse ser sentida como algo sólido.
Tecnologia de outro mundo?
Não podia ficar perdendo tempo com aquilo, então eu me aprecei e mesmo sem saber como usar aquilo, eu segui com Peni.
Realmente, minha visão estava uma droga, mas mesmo assim eu pude enxergar à frente, uma silhueta escura, parada a uns 5 metros de nós.
Estávamos em uma encruzilhada!
Quando consegui focar melhor na silhueta que se aproximava lentamente, percebi que era um soldado.
– Pai? – eu perguntei, mas minha voz saiu num sussurro quase inaudível.
Não obtive resposta, e a única coisa que eu ouvi foram os passos pesados de metal que ficavam mais altos.
De repente, silencio.
O soldado levantou uma arma comprida e parecida com o revolver que eu segurava, com filetes luminosos parecidos, que também iam até a ponta da arma. Ouvi um zumbido, e então minhas pernas tomaram vida própria, com Peni de volta em meu colo, corri antes que um feixe de luz avermelhado me atingisse, passando próximo a minha orelha. Era uma arma a laser? Eu não queria ficar para descobrir o que aquilo fazia, então eu agradeci a minhas pernas por serem mais espetas do que eu.

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A Arca
Fiksi IlmiahDepois de muitas guerras e eventos causadores de uma cadeia de desastres naturais, o mundo está à beira de sua extinção total. Restam menos da metade da civilização, agrupados em comunidades sustentáveis para tentar sobreviver ao caos. Para...