Eu Sou Mãe

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Muitos dizem que ser mãe é uma das melhores coisas que podem acontecer com você. Mas isso pode mudar. Ser mãe não é uma coisa boa quando seu namorado não assume o filho, alegando traição, não quando sua família se envergonha de você e seus pais te excluem, não quando seus amigos te abandonam e estranhos te olham torto, não quando você não tem a ninguém para se apoiar. Ser mãe, definitivamente, não é bom quando você tem 15 anos.

Para muitas adolescentes, a forma mais prática e rápida seria o aborto. Mas eu não abortei, nem poderia o fazer. Eu, diferente de muitos outros, tenho vergonha na cara para assumir meus erros e suas consequências.

Erro. Não acho certo pensar no meu filho como erro. As pessoas costumam dizer presente, dádiva... A gravidez era para ser um momento mágico, em que eu choraria de alegria e teria apoio. As coisas não foram assim comigo. Então, quando penso no meu filho, penso como uma consequência, a chave para abrir uma nova porta, uma nova etapa da minha vida. Eu só não sei se esse caminho é bom, ou se vou superar essa etapa.

Outras adolescentes abandonariam, existem muitos orfanatos onde moro. Mas eu já tive medo de ser abandonada, e não quero ser eu à abandonar. Mas eu realmente não sei como as coisas vão ser após o nascimento.

O nascimento, o provável dia mais importante na vida de uma mãe. Mas não de uma mãe adolescente e sem suporte. Eu passei as últimas horas em uma maca, me preparando fisicamente e emocionalmente para o que vem a acontecer. Meus pais não vem, eles só me deixaram aqui e disseram que voltariam pra me pegar, eu acho que isso passa com o tempo, nem o pai da criança, eu nem o vejo mais depois que contei a ele, e meus amigos, arrisco dizer que não tenho mais. Então sou eu e eu mesma, dentro de uma sala com um médico e duas enfermeiras, e entre ter uma desconhecida segurando minha mão e me encorajando, e minha mãe, bem, mesmo depois do que ouvi, ainda prefiro minha mãe.

O médico estava me explicando o procedimento, eu concordava e pensava que estava pronta. E então estávamos prontos, o coração acelerado, o suor, a dor aumentando...

Eu não sei por quando tempo eu fiquei de olhos fechados e fazendo força, mas eu só parei quando ouvi o choro, aquele choro manhoso, e eu abri os olhos. Meu filho estava ali, no colo de uma enfemeira, enrolado em uma toalha branca, chorando alto, com o cordão umbilical cortado e os olhos fechados.

A primeira vez que peguei um bebê no colo, eu tinha 9 anos, e eu não tive tanto medo e receio quanto estou tendo ao pegar o meu. Tão pequeno e coberto de sangue, ainda que com a toalha, me sujava um pouco. E tudo ali, naquele momento parecia certo, e todos la fora, que me julgavam, eles pareciam não existir, porque agora, bem, agora eu sei como uma mãe se sente, sei como é bom ser mãe, como emociona e alegra. E nunca, ninguém vai sentir essa sensação, até que pegue seu próprio filho no colo. Porque agora eu não segurava um erro, não segurava uma consequência, ali naquele momento eu segurava meu presente.

E eu entrei naquele hospital sendo uma adolescente de 15 anos grávida, eu saí sendo uma mulher de 15 anos. Eu saí sendo uma mãe.

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