O Outeiro da Vida

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Bicicleta, velocidade, dores, histórias, ganhas e perdas.
Passando por um bosque verdejante onde os pássaros cantam,
As pessoas praticam seus exercícios e
Logo ao lado as crianças brincam em um parquinho bonito,
Ao fundo a senhora dá de comer aos pombos.

O meu contentamento é desmedido,
Como a vida mudou...
Mas o infortúnio se faz presente quando vejo o tempo correr
E para acompanhá-lo
Eu tenho que abrir mão de tantas coisas,
Eu, um dia eu gostaria de cumprimentá-los por tal feito,
Dar um abraço ao menos,
Nestes que ajudam a colorir a vida, que seguram na mão da
história
E a ensina a caminhar, a ficar mais leve e sempre prosseguindo.

Os dias passam, as pessoas mudam e os gostos também,
A saúde não se sustenta, hora boa
Hora ruim.
A deslumbrante primavera, as flores desabrochadas, o aroma é
bom,
O vento vindo de encontro ao meu rosto,
E mais uma vez vejo as pessoas ali, os idosos estão a praticar
Seus exercícios, as coisas estão diferentes, os sorrisos em seus
rostos vetustos surrados pela idade sumiram,
A senhora que alimentava os pombos se foi,
Mas não se sabe para onde... E eu não a cumprimentei.

A Primavera se foi, o verão e o outono em seguida o seguiu,
Seja bem-vindo inverno,
O ar gélido está entrando, indo para os pulmões,
É difícil de respirar até, mas o frio me faz bem.
Mais uma vez eu vou passando pelo bosque, como é lindo...
Hoje eu vou cumprimentá-los, levá-los para uma caminhada,
Ou até comer uma pipoca.

Mas para onde foram eles que carregaram consigo toda a alegria
Deste bosque,
E as crianças?
Os exercícios, onde estão todos vocês?
Por que adiamos o que tivemos anos para fazer e os ignoramos?
A falta de tempo é o álibi.

A invisibilidade não existe, mas o descaso sim,
Fingir não ver, querer e não fazer,
A solidão dói e o esquecimento também.

Por que não me abraça?
São pelas rugas,
Pela falta de movimento,
Das mãos tremulas
Dos olhos cansados e da audição escassa?

É... Parece que no fim as coisas mudam,
E mudam, cada vez mais olhando para frente,
Só para frente, acabamos por esquecer o que realmente tem
valor,
E que o valor que isso tem não se compra, não se empresta,
É uma vela que se acende ao limiar de todo o nascimento, porém,
no final,
Quando toda parafina se acaba e sobra o último sopro de
Vida, o arrependimento não a estende,
A lágrima de arrependimento não ajuda em nada,
Ao contrário, acabam por apagar a chama que resta
E então, vá, tente outra vez,
Faça o que não fez
Não deixe que mais uma estrela se apague infeliz,
Não deixe morrer no peito o que a terra há de comer um dia.

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