Se depara com uma imensa porta aberta e mesmo assim se reprime a ficar horas e horas escondido observando pela janela desejando sair, mas com medo do que virá depois, medo das pessoas, das decepções, medo de ser perdido, medo de perder, lançado numa estrada longa demais, numa rede difícil de escapar, tem medo dos labirintos, medos dos contratempos, medo da primeira dança, da primeira apresentação, medo de ter que dizer que ama, medo de dizer que ama, medo de perder as chances, medo de ter tanto medo a ponto de perder a vez, medo de tudo. Não o culpo, seus conhecimentos borbulham na sua mente e sua alma entra em erupção, tanta coisa para lidar entre quatro paredes que o mundo parece tão longe, tão misterioso quanto quando chorou pela primeira vez ao enxergar sua mãe depois de seu nascimento, mas diferentemente de quando era um bebê entendia o mundo, não era desconhecido, na verdade o conhecia bem.
Encontrei-o destruído, o golpe fatal veio do seu próprio punho, a dor foi sentida pouco a pouco até ir se espalhando por toda sua consciência, se via no chão deitado na lama de sua existência, as vãs palavras que engoliu, engasgadas impediam que gritasse por ajuda, seu pedido mudo que transparecia em suas feições humilhadas e mutilações pelo corpo e alma, não alcançava quem poderia o socorrer, seus olhos mantinham-se vidrados e fixos nos piores momentos, nas piores condições, nos piores destinos, a insanidade alia-se ao medo, a tristeza à realidade. Mas, como poderiam salva-lo de si mesmo? Como poderiam fazê-lo vomitar de vez todas as injúrias que ouvira? Como o levantar se nem ele mesmo o queria? Como arrancar a dor, de quem se prende a ela?
Perguntas que não serão respondidas, vida que não quer ser salva mesmo que desejem resgatá-la. Palavras não são tão eficientes, motivações não são eficazes, sensibilidade e mansidão nunca foi tão inútil como desta vez, e por ora nem o amor pode obrigá-lo a enxergar.
Fingir que o entende, tentar o método das consolações, dizer que pode sentir sua dor e lamúria, salientar que ele pode ser forte, ou odiá-lo por simplesmente não conseguir decifrá-lo de nada adiantaria, correria atrás do vento, falaria para o nada, pediria as paredes. Apenas calei-me e ouvi tudo, vendo-o sangrar, chorar, espernear, se contorcer e gemer por feridas abertas, murros e chutes que o moía ainda mais. Era um pedaço de carne, um pedaço de homem, exposto, esquecido, humilhado. Ao contemplar o seu estado em decomposição, eu chorei, ele não estava ao meu alcance, sofria tanto, pois se fazia marionete de suas próprias emoções, das pessoas que o rodeavam, das exigências, das palavras ruins esfregadas em seu rosto, dos pedaços de si que só encontrava em outras pessoas, do seu medo e dos outros, da distância, do ódio, da loucura.
Acreditava que esse era o fim, em meio a seus objetivos embargados, suas chances perdidas, seus sonhos e amigos desviados, afinal acreditamos que podemos tudo, terminar a faculdade, vencer os vícios, enterrar os pais, casar, morrer velhinhos, quando na verdade a vida é uma esfera cheia de voltas tortas e intermináveis, um montante de nada, cheio e derramando de coisas extremamente vazias...ou pior, incertas, e isso ele sabia, via que todas essas perseguições dos outros e de si mesmo poderiam matá-lo de uma vez, e por se ver preso a sua paixão achava que esse fosse um dos motivos. Impotente, incapaz era como eu me sentia, estado que não posso comparar ao estado dele, eu não saberia como falar-lhe afinal não saberia pedir que ele deixasse para trás o que o incomoda, que saísse desse lugar enlameado que se encontrava e que deixando-me limpar suas feridas, tentasse repousar até recuperar-se....não saberia, não sabia como pedi-lo simplesmente para acreditar no Deus que poderia curá-lo, em um Deus que o espera de mãos estendidas.
Não sei como vou alcançá-lo, diante dele minhas palavras são só palavras. Mas se for dizer tudo mais que eu tenho para dizer trata-se do que acredito. Repito quantas vezes for necessário, Deus existe. Mesmo com tanta dor em nós, com tanta dor no mundo ele existe, não foi ele que fez isso, fomos nós, foi o homem que decidiu ser independente e estragou tudo. Portanto posso dizer que Jesus, o filho de Deus, também sofreu. Isaías 53-5 na bíblia diz " Mas ele foi ferido pelas nossas transgressões e moído pelas nossas iniquidades, o castigo que nos traz a paz estava sobre ele e pelas suas pisaduras fomos sarados". Isso me faz perceber a pequeneza da minha dor. Não podemos sozinhos, quando Deus criou o mundo, ele viu que era bom, mas o homem preferiu sua própria vontade, preferiu andar sozinho, isso o fez cair, Deus não desistiu e enviou seu filho para morrer na cruz por ele, mas o homem quis novamente andar sozinho e vem caindo.
Ele não me deu ouvidos, mas a palavra de Deus não volta vazia. Não posso dizer que entendo o que ele sente, mas posso dizer que estou aqui, e pedirei ao meu Deus por ele . Estamos todos aqui, rodeados de decepções, quedas e fracassos, perdemos, ganhamos, erramos, somos seres humanos, mas sempre há esperança enquanto há vida, a minha esperança eu encontrei no Deus em que sirvo, o amor por ele, e amor dele por mim, me faz ter fé. Essa é a palavra que me preenche.
Notas finais:
Foi um texto diferente, não me levem a mal se mudei um pouco minha forma de escrever nesse texto, ou se fui muito dramática. Mas esse livro, são relatos, tudo que vem passando em minha cabeça, obrigado por acompanharem, e me perdoem a demora.
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Relatos do meu subconsciente
PoetryUm tanto quanto delicadamente apresento-lhe poesias transparentes e textos do âmago do meu ser. Seja bem vindo(a) aos Relatos do meu subconsciente consciente.