Capítulo 4

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Decido ir para o quarto pouco tempo depois. Está sendo mais difícil do que pensei, as pessoas daqui são muito diferentes de mim, este não é o meu lugar.
Quando abro a porta, enormes olhos castanhos me olham com curiosidade. Minha colega de quarto é bem bonita, está deitada em sua cama. É uma morena de cabelos grandes ondulados, com um piercing no lábio e uma tatuagem discreta no pulso. Ela levanta e se apresenta como Jessica Parker. Oferece-me um sorriso enorme. Digo:

- Sou April Lewis.

- Seja bem-vinda ao inferno April. Ela ri. - Então, o que fez para chegar até aqui?

- Matei um gato.

Ela olha séria para a minha cara por alguns instantes e depois começa a rir descontroladamente. E fala:

- Você está brincando não é?

- Uhn... Na verdade não.

- Cara isso não existe. Você não pode estar aqui por isso. Eu coloquei fogo na garagem do meu namorado e tentei castrar ele porque ele me traía. Além disso fui presa pichando o muro da igreja e atirei uma pedra no carro de um velhinho e você está aqui porque matou um gato?

 Eu olho incrédula para a garota em minha frente que ri da minha expressão. Esse definitivamente não é o meu lugar. Ela se senta na cama e me olha esperando uma resposta.

- Na verdade, acham que tentei matar minha irmã e o meu padrasto também. Mas foi uma armação do babaca... E o gato comeu meu rato de laboratório, ele merecia um enterro justo.

- Que gato filha da puta. Ela sorriu. - O babaca a quem se refere é o seu padrasto?

- Sim, ele é um cretino, mas minha mãe não enxerga... Está apaixonada...sabe como é?

- Sei sim, coloquei fogo na casa de um.

Eu sorrio junto com ela, que começa a me contar da vida dela, enquanto eu faço de conta que escuto. Minha mente vagueia sobre como tudo mudou tão rápido e o quão difícil vai ser ficar aqui.

O sinal toca e Jessica me chama para o refeitório, é a hora do almoço. Estou indo na direção da cantina, pegar o meu prato, quando devido a minha mania de olhar para baixo enquanto ando, esbarro em alguém e vejo sua bandeja cair no chão. Quando ouço sua voz, já sei quem foi.

- Você está brincando comigo garota?

Ryan está parado na minha frente, e sua cara parece que vai explodir de tão vermelha. Olho para ele e respondo:

- Não te vi, foi mal. Pode pegar minha comida se quiser.

- Porra nenhuma! Já falei para não se meter comigo!

- Não estou me metendo com ninguém. Já disse que foi um acidente. Agora vamos parar com isso, foi só uma bandeja, pode pegar no meu lugar.

- Foda-se você com sua comida.

Ryan colocou o dedo na minha cara e meu sangue ferveu. Ele é um babaca e acha que pode humilhar os outros e se colocar por cima das pessoas. Odeio esse tipo de gente. Seguro seu braço e o agarro com as pernas jogando-o no chão, num golpe chamado armlock voador, do jiu jitsu.

- Me deixa quieta e eu vou fazer o mesmo. Ficaremos bem assim, não quero confusão idiota.

O refeitório inteiro começou a gritar e ouço as cadeiras batendo no chão num tumulto imenso. Os amigos de Ryan estão rindo da sua cara e ele está roxo de raiva, o solto e caminho para pegar minha comida. Sua mão segura meu ombro e meu instinto é lhe dar um murro. Mas me controlo e o encaro.

Seu olhar é desafiador e ele suspira antes de me dizer:

- Só não acabo com você porque é uma garota. Mas espero que isso não se repita ou não vai ficar por isso mesmo!

- Sou uma garota? Não estou recuando de nenhuma briga, é o que você quer? Não tenho medo de você !

Ele me encara bem perto de mim, sinto sua respiração no meu rosto e o suor formando no seu cabelo. Ele me odeia, posso sentir e todos parecem temer ele, mas ele não me intimida como deveria.

Depois do que parece um longo tempo me encarando, ele dá meia volta, derruba uma cadeira e se retira do refeitório pisando duro. E eu, bom, decido ir para o quarto depois de perder o apetite.

Perigosa AfeiçãoOnde histórias criam vida. Descubra agora