Perigosa Afeição

Capítulo 14

O tempo está nublado, uma névoa flutua sobre o lago. Nicolly está sentada numa pedra, a mesma em que beijei o Ryan. Seus cabelos negros estão molhados e estendidos sobre sua camiseta branca, molhando-a também. Sua maquiagem preta escorre pelo rosto pálido e ela me encara.
- Demorou dessa vez...
-Eu...
- Tudo bem. Vamos direto ao que interessa... Você sabe onde fica a sala de arquivos?
- Ahn... Onde guardam os documentos dos alunos?
- Sim, exatamente. É lá que vai encontrar tudo o que precisa.
- Mas é proibido entrar, só... Funcionários.
- Ah qual é? Desde quando isso é problema para quem matou um gato? - Ela ri.

Acordo extremamente suada, meu travesseiro está ensopado. Prendo meu cabelo num coque e sento-me na cama. Olho para o lado e Jessica está me encarando, diz:

-Outro pesadelo?

- É... Como sabe que estou tendo pesadelos?

- Tirando o fato que você me acorda toda santa noite soltando gritos dormindo?

- Ah... Desculpa. O que está fazendo acordada? São 4h00min da manhã.

- Não consegui dormir. Então? Quer falar sobre os pesadelos?

- Eu não tenho certeza se é uma boa ideia. Você vai me achar louca.

- Eu já te acho louca. Fala logo!

- Tudo bem... Mas não conta para ninguém.

- Ok April...

-Certo... Lembra que lhe perguntei sobre a menina que morreu aqui?

- A Nicolly? O que tem ela?

- Tenho sonhado com ela. Ela... Sei lá... Acho que está falando comigo.

Jessica me olha com um olhar curioso por alguns instantes, como não diz nada, termino de lhe contar.

- O problema é que, eu nem nunca a vi, nunca nem ouvi falar sobre ela e os sonhos vieram do nada. Então descobri que ela morreu no lago, assassinada. E os sonhos... Os diálogos, são tão claros. Acho que estou enlouquecendo.

- Ou isso ou você escutou alguém falando sobre e ficou com isso na cabeça. Talvez tenha lido em algum lugar e não se deu conta do que se tratava. A morte dela foi bem... polêmica.

Sei aonde isso vai parar, mas não preciso de mais um problema no meu histórico, vão acabar aumentando meus horários com o psicólogo. A Jessica não acredita nessas coisas e até então, nem eu. Apenas concordo com ela e rolo na cama até pegar no sono de novo.

Acordo com uma voz rouca e masculina no quarto, John. Ele está conversando com a Jess, não abro o olho. Estou com preguiça de levantar e sei que estão prestes a sair,então continuo fingindo que estou dormindo.

Ouço a voz do Ryan, posso jurar que ele está sentado na minha cama. Alguém puxa minha coberta até o meu pescoço e me lembro que estou apenas com um baby doll. Abro levemente um olho e vejo que foi Ryan, ele está parado me olhando, mas logo sai com os outros dois.

Tomo um banho rápido e vou para a biblioteca, aproveitando que só tenho aula à tarde nas quintas feiras. Sento-me na cadeira e começo a minha pesquisa sobre a Nicolly.

Uma garota de cabelos roxos senta do meu lado e me olha com curiosidade. Me sinto imediatamente incomodada e sinto vontade de perguntar o que ela procura, mas antes que eu o faça ela me oferece um sorriso irônico e diz:

- Está ficando bem próxima do Scott, não é?

- Ele é amigo da minha colega de quarto, por quê?

Ela levanta e caminha na minha direção, chega bem perto do meu ouvido e sussurra:

- Porque mesmo que ele não reconheça, ele é meu. E eu lhe recomendo a se afastar. Pois raciocina comigo querida... Você matou um gato, mas é capaz de imaginar por que eu estou aqui?

- Deixa ela em paz Trisha...

Ouço um garoto dizer, ele tem cabelos loiros e um piercing no lábio inferior, além de um sorriso escandalosamente lindo. A garota se afasta rindo e ele ocupa seu lugar. Estende a mão se apresentando:

- Sou o Samuel Sanker.

- April.

- Prazer April, aliás... Saudação.

Ele abre um sorriso perverso, sinto um frio na espinha. Algo me diz que devo manter distância dessas duas pessoas que conheci nesses últimos dez minutos.

Excluo o histórico da minha pesquisa, não quero que ninguém saiba que estou desenterrando esse assunto. Ouço passos pesados na minha direção e vejo o par de botas de Ryan. Ele segura meu braço, fazendo-me levantar. Ele fuzila Samuel de um jeito tão intenso que me sinto incomodada por ele, que ao contrário só aumenta mais ainda o sorriso cínico.

- Vem April, a Jessica está te procurando.

Ryan me tira da biblioteca antes que eu possa ao menos questionar.