I

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Era de manhã, e o dia estava nublado. Olhei pela janela e vi as imensas árvores que se estendiam até o horizonte, apesar de não me importar muito, o local onde morávamos era perigoso, já tinha ouvido várias histórias tenebrosas sobre o bosque em que vivia, mas nenhum deles me fizera detestar o local.

-Anny, desça por favor!- Minha mãe gritou interrompendo meus pensamentos.

Desci as escadas devagar, e a cada passo a madeira rangia, me provocando um pouco de agonia.

Caminhei até minha mãe, que colocava doces em uma cesta, que eu costumava usar para colher frutas ou qualquer outra coisa que nela coubesse.

-Sua avó está doente...- Minha mãe disse forrando os doces com um tecido xadrez.- E quero que passe alguns dias com ela até que fique boa, e que leve estes doces para alegra-la.

Ela pegou meu velho capuz branco como neve com algumas rendas e o colocou sobre minhas costas, o que me aqueceria, já que a floresta e escura e fria.

Caminhei em direção a porta, que se abriu com um rangido, e encarei o extenso bosque a minha frente.

-Aconteça o que acontecer, não saia da estrada, vá direto para a casa de sua avó, e não fale com estranhos!- Ela beijou minha testa.- Agora vá, vá e se assegure que quando o crepúsculo chegar, já esteja na proteção da velha cabana de sua avó!

A porta se fechou atrás de mim, o vento soprou trazendo consigo algumas folhas secas que iam em direção ao bosque.

Dei o primeiro passo, depois mais outro e mais outro, assim começando a caminhada.

Caminhava sobre a trilha de terra, sobre a melodia dos pássaros que cantavam de forma tranquila e calma, fazendo o medo dentro de mim diminuir. O sentimento de paz foi se prolongando, até que começo a avistar outras trilhas, ao redor da que estava seguindo, porém as ignoro e continuo minha caminhada de forma tranquila, lembrando-se do que minha mãe avia me recomendado: "Aconteça o que acontecer, não saia da estrada, vá direto para a casa de sua avó e não fale com estranhos". Suas palavras me perturbavam a ponto de não deixa me desviar da trilha.

O tempo foi passando até que paro, e olho ao redor, além da estrada que seguia, avia mais três caminhos nos quais poderia seguir, todos em direções diferentes, estava confusa, e tensa, até que senti uma pequena brisa que balançou meus cabelos, e consigo trouxe um pequeno assobio, porém, parecia que queria me dizer alguma coisa, pois enterrado no barulho do vento, pode-se ouvir palavras.

"Siga a estrada com a terra mais vermelha..."

As palavras que o vento carregava eram claras e misteriosas. Comparei o a três caminhos e conclui o mais escuro e avermelhado. O caminho da esquerda, que a levava para o local mais escuro e tenebroso do bosque, onde suas árvores de pinheiro alcançavam os níveis mais altos comparados aos outros. Era onde se ouviam boatos que existia um lobo.

Não pensei em qualquer consequência, apenas segui pela estrada a fora, onde adentrei ainda mais na floresta, onde a luz e a paz ia diminuindo a cada passo que dava, e o medo ia aumentando.

O tempo passou e minha tensão ia aumentando, juntamente com a luz que com o tempo ficava cada vez mais fraca. Os altos, inúmeros e grossos galhos começavam a impedir os raios de sol a iluminar meu caminho. Por um segundo pensei em voltar, mas ao me virar, percebi que estava perdida, pois eram inúmeras estradas, todas que me levavam em direções totalmente diferentes e mais sombrias.

Voltei a andar, porém desta vez, caminhava mais devagar, esperando avistar alguém, que poderia me passar algum tipo de informação. Apoiei em uma árvore qualquer e olhei em volta. Conforme andava a estrada ficava cada vez mais mais escura e tenebrosa, despertando medo dentro de mim. Respirei fundo e foi então que percebi que a noite começará a cair. Olhei para a copa das árvores, e pude ver o céu alaranjado do crepúsculo, que começará a acontecer.

Engoli um seco, e retirei o tecido de cima da sesta, junto com os doces, avia uma pequena lamparina. Não pensei duas vezes, a peguei com cuidado e girei uma pequena manivela em sua parte inferior, assim fazendo o fogo surgir, e afastar a escuridão que estava prestes a surgir. Continuei minha caminhada, até que alguns arbustos começam a se balançar. Algo parecia correr a minha volta, e pelos vultos que via com muita dificuldade, poderia analisar que era algo grande, e não tinha uma aparência humana.

Me mantive parada para não chamar sua atenção, até que sinto ar quente soprar nos meus cabelos, junto ouço barulho de respiração forte. Meus músculos paralisam, minhas mãos tremem. Fico parada por um tempo com as esperanças de que a criatura fosse embora. Até que reúno coragem o suficiente para me virar e ver do que se tratava. Porém ao iluminar a o local, não vejo nada, apenas sinto a brisa soprar meus cabelos, me fazendo tremer. Olho ao meu redor e não vejo nada, apenas a vegetação natural do bosque, o que me trouxe alívio.

Me viro novamente e me deparo com uma criatura estranha, peluda e com uma aparência demoníaca. Pude reparar que estava abaixado, com sua face ao lado da lamparina, que na primeira oportunidade, assoprou a vela dentro da mesma, fazendo o breu voltar.

Deixei a lamparina cair, assim ouvindo o som de seu vidro se quebrando, mas não me importei. Apenas corro o máximo que consigo, podendo ouvir o passos fundos da criatura atrás de mim, com uma sede de sangue inexplicável.

Olho para trás e vejo grandes olhos brilhantes se movendo cada vez mais rápidos na minha direção. E não vejo quando meu pé se prende em uma raiz, me fazendo rolar por uma ladeira próxima.

Sinto meu corpo ser arranhado pelos galhos e espinhos largados no chão, e assim que paro me sinto tonta, sem forças para me levantar e voltar a correr.

Vejo a criatura se aproximar de meu corpo, mas a luz está muito fraca para identificar sua face.

Ele coloca um dos dedos sobre meu rosto e me encara com seus brilhantes olhos vermelhos vivos, até que fecho meus olhos. E bem, não sei o que aconteceu depois.

Continua...

O Lado Negro Da Chapeuzinho VermelhoOnde histórias criam vida. Descubra agora