A única coisa que vejo, e a escuridão, não me mexo, e sinto uma sensação estranha, não mexo um músculo, até que tenho a liberdade de abrir um dos olhos.
Me encontro em uma sala fechada, com um pequeno buraco na parede, bloqueado por uma grade, e a minha frente uma grande porta de madeira, que por sua aparência, parecia bem resistente. Caminho até a mesma, onde na ponta dos pés, olho através de uma pequena janela, no alto da porta, vejo o mesmo que me sequestrará. A primeira vista, parece um ser humano normal, mas ao olhar de perto, seu corpo é coberto por pelo, orelhas longas no alto da cabeça, garras afiadas e dentes enormes. Sua aparência me trás terror, brotando dentro de mim a vontade de gritar, mas seria inútil.
A criatura parece perceber minha presença, pois me encara com seus olhos vermelhos, abre um sorriso assustador, ergue o dedo e pede silêncio.
Me afasto da porta tentando esquecer a o que acabei de ver. Me sento novamente na pequena cama de palha na qual estava deitada quando acordei, e encaro minhas mãos, que agora estão molhadas de suor. Olho ao meu redor inúmeras vezes tentando encontrar uma saída. Mas todas as tentativas são falhas.
O tempo passa, e o local vai ficando cada vez mais escuro, até que pela pequena janela pode-se avistar o sol se escondendo atrás de imensas montanhas no horizonte alaranjado do crepúsculo. Fico fascinada pela visão que tive, pois de minha casa, as copas quilométricas das árvores me impediam de ver o por do sol de forma nítida.
Abro um pequeno sorriso, e uma lágrima cai de um de meus olhos, pois meu fim estaria próximo. Até que uma luz forte me cega por alguns segundos. Mas não era uma luz qualquer, era de algo metálico, que refletiu totalmente a luz do sol em meus olhos, mas que não estava do lado de fora do quarto.
Revirei mais uma vez os olhos em volta do quarto até que vejo, um pequeno brilho em baixo da palha na qual sentava. Ergui meu braço para tocar o tal objeto, mas no momento em que encostei no mesmo, senti seu metal gelado em meus dedos, mas ao mesmo tempo, senti meu dedo arder, e vi o claro líquido vermelho cair sobre meu colo.
Retiro a palha que cobria o objeto, e vejo um machado. Um pouco de esperança se ascende dentro de mim. Seguro machado com as duas mãos, e pelo seu peso, parecia a arma perfeita para escapar. Sua lâmina era como a de uma faca que acabara de ser retirada das mãos de um ferreiro, pronta para o uso.
Fiquei tanto tempo apreciando o machado que os segundos pareceram horas, e até mesmo dias. Mas meus pensamentos foram interrompidos por um barulho vindo da imensa porta a minha frente.
Rapidamente escondi minha arma por baixo de meu capuz, e encarei a criatura que era revelada aos poucos. Ele caminha lentamente até mim, seus passos eram profundos, e suas longas unhas se chocavam com o chão frio de pedra a cada passo. A tensão passará a ser tão grande que, me faziam querer correr daquele lugar horrível, a sensação de querer acordar de tentar convencer a mim mesma de que nada daquilo era real. De que tudo não se passava de um mero sonho. Mas era inútil, pois a criatura se aproximava cada vez mais, com um sorriso que ia de orelha a orelha estampado em seu rosto. E seu olhar, um olhar profundo e aterrorizante.
A criatura não para de caminhar até que esteja perto o suficiente para me arrancar uma mordida, mas ele apenas se abaixa para que fique na minha altura.
-Não precisa ter medo, jovem criança...- Ele disse com uma voz falha, que a cada palavra parecia ter a garganta arranhada.
Ele ergueu seu braço e alisou meu rosto. Meu corpo tremia, minhas mãos suavam e meu coração estava acelerado.
-O..o que você quer?- Eu disse com a voz trêmula.
-Apenas saber o que uma jovem como você, faz para caminhar no bosque durante a noite.- Ele disse ainda com um sorriso no rosto.- Por acaso, já ouviu histórias sobre...
-Você! Sim, mas nem tudo o que se lê em um velho livro de fábulas deverá ser levado com tanta importância!- Eu disse com uma voz forme, mas meu coração ainda estava acelerado.
-E uma pena que me veja como a besta da floresta...- Ele disse caminhando até a pequena janela no lado esquerdo do quarto.
Ele parecia distraído, seus olhos eram fixos nas montanhas ao horizonte, cercado por imensas árvores de pinheiro.
Me levantei e caminhei até estar perto o suficiente para lhe cravar o machado. Mas ainda não era o suficiente.
-Sim... Talvez seja uma pena!- Ele se virou assustado para a minha direção. Rapidamente peguei o machado e lhe cortei a garganta.
Seu sangue manchou as paredes de pedra. E também meu capuz branco como as nuvens agora, respingado de vermelho. Naquele momento, parte da minha inocência parecia ter sido arrancada de mim. Não via o mundo da mesma forma. Ver a criatura caída no chão, sem expressão, me deixou com medo, do que eu mesma seria capaz de fazer daqui pra frente.
Caminhei até a porta e peguei minha cesta que estava do lado de fora do quarto, e continuei minha caminhada, e assim segui. Com as esperanças de chegar viva na casa de minha avó.
Continua...
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O Lado Negro Da Chapeuzinho Vermelho
Povídky"'Cuidado com o Lobo, não saia da estrada' Essas palavras ecoavam na minha cabeça, era impossível não esquece-las... Se eu as tivesse dado mais atenção, nada disso teria acontecido... E se eu te dissesse que Chapéuzinho Vermelho, nunca chegou a casa...