V

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Frio.
Era o que sentia, dormir no chão frio sem cobertor, com o corpo cheio de feridas, e os olhos cheios de lágrimas. Cubro meu rosto com minhas mãos e choro. Tento ser silenciosa, mas suspiro alto. Horas se passam e continua impossível conter as lágrimas. Foi então, que me lembro das palavras do "Lobo".

"No futuro... Apenas espero que não esteja muito distante..."

Suspiro mais uma vez, e me assusto quando o caçador resmungo de sua cama.

-Pare com isso se não quiser ser punida novamen...- A voz some antes que possa terminar a frase.

Fecho os olhos e me forço a parar de chorar, coloco a mão sobre minha barriga, onde tem um grande ferimento aberto, acaricio o ferimento até adormecer. Onde vivo um lindo sonho onde volto para casa, vejo minha avó e minha mãe, sendo a pequena garotinha inocente novamente... Sendo feliz e me esquecendo tudo o que aconteceu, mas acordo rapidamente com uma dor no estômago, o caçador avia me chutado para que acordasse.

-Fiz uma lista do que terá de fazer.- Ele joga um papel gasto contra mim.- Hoje poderá sair, mas não ultrapasse a cerca!

Ele sai.
Me levanto e pego a lista, e não era muito curta, eram tarefas difíceis, des de limpar a casa ate banhar o cachorro que nunca avia reparado que vivia ali.

Sai da cabana e fui fazer o que me mandaram, lavar, limpar, alimentar os animais, tirar as folhas do quintal e etc.

Já era final de tarde, quase escurecendo e ainda estava só naquela casa, para a minha sorte. Peguei um balde d'àgua no poço e fui em direção a uma pequena casa canina, era bem simples.

Bati palmas com a esperança de tirar o animal de dentro de seu abrigo, mas tudo o que ouvi foi um pequeno rosnado que indicava que o animal não queria ser incomodado.

-Vamos lá, não vou te machucar!

O animal saiu da casinha e veio em minha direção, para a minha sorte estava acorrentado, do contrário me mataria na primeira mordida.

Me aproximei cuidadosamente, tentando acaricia-lo, mas na primeira oportunidade me arrancou uma mordida. Me afastei com minha mão sangrando, tentando não gritar de dor. Os latidos do animal ficaram cada vez mais altos me deixando tonta.

-Para... Para por favor...

Caio no chão, o mundo parecia girar devagar, então apago completamente. Não me lembro de mais nada.

Acordo no dia seguinte, com minha mão e meu tronco enfaixados. Passo a mão sobre as ataduras da minha barriga que estão ensanguentadas, sinto uma leve dor.

Olho pela janela e vejo que já é dia, o oposto de quando fui banhar o "monstro" do lado de fora da cabana.

-Pode tirar o dia de folga hoje.- A voz do caçador interrompe meus pensamentos.- Mas não pense que irá dormir dentro de casa hoje. A escolha é sua.

Paro pensativa, queria dar uma resposta mas não sei o que escolho, se for trabalhar hoje, provavelmente terei de dar banho naquela fera, e não quero ser mordida de novo, mas se tirar o dia sem fazer nada, dormirei do lado de fora, como um cão sem dono.

-Por que me ajudou...?- Pergunto.

-Porque é impossível que você cumpra suas tarefas desmaiada ou machucada do jeito que estava.

-E quando eu vou pra casa?

-Eu já disse que quando me pagar, eu irei te levar até lá.

-Então me deixe ir... Encontrarei a casa de minha avó sozinha...

Disse me levantando e indo em direção a porta. Antes que eu pudesse abri-la, uma mão pesada fez com que a porta se fechar violentamente. Seu olhar era de fúria, parecia que iria me bater novamente, mas não baixei o tom, o encarei com ignorância, seus olhos pretos penetravam minha alma, por mais que eu odiasse aquele homem, eu tive pena, não era um olhar severo, mas sim triste.

Mas ignorei, não iria baixar a guarda nem mesmo por um segundo, não quero viver a base de trocas, não quero viver o dia todo com medo do que aquele monstro pode fazer comigo, não quero viver sempre machucada e correr o risco de isso se repetir no dia seguinte. Quero ir para casa, e esquecer tudo o que aconteceu.

-Eu disse... Não precisa me levar para casa, eu mesma vou!

-Não, não vai... Volte para aquela cama, do contrário, dormirá na casa do cachorro!

-Não!- Eu o desafiei.- Não precisa mais me ajudar, o que significa que não preciso mais lhe pagar nada, eu vou pra casa e você não pode me impedir!

Não passou nem mesmo um segundo depois que terminei a frase, quando meu rosto virou violentamente quase quebrando meu pescoço, causado por um tapa.

-Você ainda não entendeu não é?- Ele disse com um sorriso irônico.- Você não vai sair daqui!

Meu coração para, tenho vontade de chorar, mas respiro fundo.

-Não pode, e nem vai me prender aqui para sempre...

-Sim você vai...-Ele agarrou meu braço e me arrastou até uma parte subterrânea da casa.

Ele me jogou no chão ao lado de duas correntes, onde prendeu meus braços.

-Você não vai mais sair daqui...- Ele passou a mão sobre meu corpo com um sorriso desagradável.- Não será mais minha empregada, viverá aqui em baixo com os ratos agora, terei todo o prazer de te animar a noite!

Ele saiu, e tudo fico escuro, as algemas me apertavam, era o fim pra mim, não sairia mais daquela casa tão cedo.

Então aceitei que fizesse o que quisesse comigo, desisti de lutar pela minha dignidade.

Naquela noite, fui abusada novamente, e isso se repetiu, na noite seguinte, e na seguinte até completar um mês presa neste inferno, mas não me importava mais.

Até porque, ficarei aqui... Para sempre...

Continua...

O Lado Negro Da Chapeuzinho VermelhoOnde histórias criam vida. Descubra agora