VIII

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***

Já era noite e a chuva continuava a cair. Estava em uma velha cabana agradável, a minha frente uma mesa cheia de doces e guloseimas que me deram água na boca aliás estava faminta, o que me manteve viva nos últimos meses não era considerado comida. Devorei tudo em um piscar de olhos. Não me importava se estava sendo educada ou não, a comida era deliciosa e meu apetite era imenso.

-Sei que mesmo depois de tudo que fiz pra você até agora ainda pode ser difícil acreditar em mim... Confiar em uma pessoa que se encontra no meio da floresta.- Ele disse com sua voz rouca.- Não teve boas experiências...

O olhei com desconfiança.

-Como sabe de tudo isso?- Pergunto dando um gole a uma xícara de chá. Que por sinal estava deliciosa.

-Existem coisas que precisa saber antes disso... Mas prometo lhe contar tudo.- Seu tom ficou sério, e seu sorriso se desfez.- Não poderá seguir em frente sem saber.

-Então comece... Cansei de segredos!

Ele fez um sinal positivo com a cabeça e retirou um livro de uma prateleira ao lado da mesa. Ele tinha uma aparência antiga, e suas páginas amareladas brilhavam com o dançar das chamas de uma pequena vela ali perto.

-Primeiro, precisa saber do que são as criaturas que viu até agora.- Ele abriu o livro.- A criatura que te ajudou, e a criatura que te perseguiu naquela noite, eram Demônios!

Meu corpo congelou, fui ajudada por um demônio, uma criatura misteriosa, mas que me livrou de minha morte mais de uma vez.

-E o caçador?- Pergunto com a voz trêmula.

-Tobias...- Ele disse triste.- Ele foi apenas mais um de seus fantoches, não era ele quem fazia aquelas coisas...

-Mas se realmente não quisesse, ele não teria feito!- Bato com minhas mãos na mesa despertando toda a sua atenção para mim.- Se foi "fantoche" de alguém foi por livre e espontânea vontade. Ninguém diz o que você tem que fazer, você simplesmente faz porque quer!

Ficamos em silêncio, meus músculos travaram, por algum motivo fiquei constrangida. Me sentei na mesa novamente.

-D..desculpe.

Ele me encarou por um tempo, provavelmente tentando absorver o que eu avia acabado de falar.

-Sei que lhe fez coisas horríveis e desumanas...- Ele finalmente quebrou o silêncio.- Toda a inocência de um ser tão jovem e puro, mudar uma vida para sempre!

Eu o encarei com meus olhos verdes e arregalados, minhas olheiras os deixavam fundos, me fazendo ser assustadora, sei disso por ter um pequeno espelho já gasto perto de mim, durante todo o tempo que estive ali, me avaliava diante dele, por mais que odiasse o que via, não posso fugir do que do que realmente sou... Do que eu me tornei.

-Mas nunca mude pelas coisas ruins que acontecem na sua vida!- Sua voz emitia uma ponta de esperança.- Pessoas boas, sofrem pelo simples motivo de serem boas, tem de provar sua pureza e sua bondade, que realmente são pessoas felizes. Vamos mudar ao longo da vida, isso é um fardo que todos carregamos, mas poucos crescem, evoluem e continuam a ter o mesmo sorriso que tinham antes de criarem espinhos, essa é a preciosidade da vida, pessoas que sofrem, machucam, caem, mas nunca deixam de dar um sorriso sincero, em um galho de espinhos, sempre haverá uma rosa que floresce firme e forte.

Quando percebi, chorava aos gritos, suas palavras eram tão sinceras e confortantes, que me deu vontade de viver, de poder acordar de manhã em um dia qualquer e ajudar minha mãe com seus afazeres, visitar minha avó nos fins de semana, ser uma pessoa feliz. Por um instante, esqueci tudo de ruim que aconteceu comigo.

Continua...

O Lado Negro Da Chapeuzinho VermelhoOnde histórias criam vida. Descubra agora