XIV

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Cai no chão complemente imobilizada, uma dor imensa dominava meu corpo. Atrás de mim, podia ouvir passos, que lentamente se aproximavam de mim, seu cheiro, me era famíliar, muito familiar. Comecei a ficar ansiosa, tentar me virar e ver quem era, mas foi inútil.

-Olá, Anjo.- Sua voz doce e feminina ecoava pelos corredores.- Sua desobediência, me custou caro...

Aquela voz, era evidente, doce, calma, as canções tão conhecidas pelo bosque, e tão amadas por quem quer que as ouvissem.

-M..mãe...?!- Eu sussurrei ainda em choque.

Não estávamos cara-a-cara uma com a outra, mas pude ouvir uma pequena risada vinda de si quando descobri quem era. Com isso, ela caminhou até mim, não pude acreditar no que vi, em meus olhos brotaram lágrimas, e meus pulmões passaram a encher com mais dificuldade. Seu rosto deformado, com a marca de agarras vindo do olho esquerdo e terminando no pescoço, suas roupas sujas de sangue, e sua pele pálida, quase roxa, e seus olhos, amarelos e sem vida, chegava a dar medo.

-M..mas, você morreu...- A frase foi dita com dificuldade.

-Sim... Mas quando um humano morre nas mãos de um demônio, viramos demônios também!- Seu tom de voz continuava doce, porém de uma forma diferente, ela me deu medo naquele momento.

-Mas eles eram... Diferentes, eram demoníacos e...

-Ficarei daquela forma também, é só uma questão de tempo, todos podemos ser corrompidos, o tempo faz isso por nós.- Ela tirou seu braço de baixo de sua blusa, onde cresciam pelos e garras.- Passei bastante tempo no inferno, e voltei, para te buscar, pequena!
-Não ouse, não vou virar um demônio!- Levantei o tom.- Eu vou te matar, assim como fiz com os dois!

-Você os matou? Tem certeza? Logo eles irão voltar, não se mata demônios, eles apenas voltam do inferno, estão condenados a viver da forma mais repugnante possível, e não podem acabar com isso, será assim pela eternidade.

-Então, você quer que eu fique como você... Um demônio sujo...

-Não minha querida, apesar de ser sua culpa.- Ela carregava um peso na voz.- Eu ainda te amo pequena, e é por isso que faço isso, para o seu bem!

Ela pegou o machado que ficará no chão. E o ergueu,com seus olhos cheios de lágrimas, ela o deixou cair, não senti dor, não senti nada, foi algo distante. Me senti mais leve, seus gritos ecoavam pela casa e pela floresta, gritos de dor, de alguém que morreu da forma mais crueu e mesmo assim, nunca deixou de amar, alguém que sacrificou a quem amava, pois sabia que não sobreviveria sozinha, ela fez a coisa certa.

Fechei meus olhos, e descansei, sem poder me mexer ou falar, sem poder dizer que a amava.

"Mas quando um humano morre nas mãos de um demônio, viramos demônios também!"

Não virei um demônio, ela não me matou com suas mãos, mas sim com um maxado, meu próprio maxado.

Demônios não passam de almas atormentadas, que tiveram uma morte triste e dolorosa, os próprios humanos os criam, são suas memórias tristes e pesadas, e assim como os vivos: Eles nascem, eles crescem, vivem e morrem...

The End...

O Lado Negro Da Chapeuzinho VermelhoOnde histórias criam vida. Descubra agora