A complicação

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Depois de pensar muito no que iria fazer, decidi me encontrar com Abby e confessar que havia escondido os meus sentimentos por não ter coragem nem de confessá-los nem ao Adam, decidi que me abriria para a minha melhor amiga e decidi que juntas encontraríamos uma saída.

Tinha marcado com ela de nos encontrarmos no Scada Café, onde costumávamos ir após assistir um filme no shopping.

Tomei um banho de água quente para ver se aliviava a pressão, mas de nada adiantou. Vesti meu vestido preto com flores azuis, meu colete jeans e meu tênis branco. Amarrei meu cabelo em um rabo de cavalo, pus a pulseira que Abby me deu de presente e fui. Tínhamos marcado às 17:00 na mesa que sempre usávamos, mas cheguei cerca de uma hora antes, porque não aguentava ficar em casa. Estava nervosa demais para ficar olhando para o celular e para o teto.

Comecei a andar pelo shopping, observando as liquidações nas lojas, os casais que andavam por aí e os grupinhos de amigas, sempre unidas, que passeavam juntas.

Decidi comprar uma casquinha de sorvete. Continuei a observar todo o ambiente, e depois de 30 minutos andando, resolvi me sentar em um lugar privilegiado da praça de alimentação.

Eu tinha agora, uma vista de toda a cidade. Via carros indo e vindo. Pessoas andando para todos os lados. Fumaças saindo das fábricas a periferia da cidade. E então, naquele instante, meu problema com a Abby e o Adam pareceu pequeno. Pequeno o bastante para ser esquecido. E justamente no momento que eu encontro uma paz, senti uma mão repousando no meu ombro:

- É lindo, não é? - era Adam.

Adam não podia estar lá. Não naquele dia. Toda a calma que eu tinha conquistado foi por água abaixo.

- É, é sim. O que você tá fazendo aqui?

- Sabia que aqui é um local público? Qualquer pessoa pode vir ao shopping para passar uma tarde, para ver um filme, fazer compras, esperar um namorado...

Sim, ele estava jogando verde.

- Sim - olhei no relógio, 16:47, ainda tinha um tempinho antes da Abby chegar - mas tem gente que parece se atrasar sempre - quis entrar na brincadeira.

- Ah, lógico. Minha namorada também ama se atrasar. Ela está atrasada há 15 anos, sabia? Nunca chegou.

Sua risada pareceu fazer o nervosismo dar lugar a calma. E agora, eu estava em paz novamente.

- Mas, no sério, o que você tá fazendo aqui? - perguntei

- Vim com uma primos, mas eles encontraram umas amigas e foram ao cinema com elas. Nem digo que já sei o que vai rolar...

- É, eu também não - rimos juntos - Você deveria esperar a sua namorada na frente do cinema. Vai que ela aparece hoje e você não está lá para recepcionar ela?

- Quem sabe, não é? Mas por enquanto eu prefiro ficar aqui. Ela saberá onde me encontrar, caso apareça hoje.

Continuamos a nossa conversa sobre os assuntos mais aleatórios que eu pude imaginar. Desde cosmos até comida preferida. Ficamos um bom tempo ali, rindo, juntos. Juntos.

- E você? O que faz aqui?

- Ah, eu? Eu... Eu vim me encontrar com a Abby. Temos uns assuntos para tratar.

- Sua melhor amiga, não é?

- Sim... Ao menos eu espero que seja depois de hoje.

- O que aconteceu? - ele pareceu se importar, mas ao perceber que eu não queria comentar sobre o assunto, se calou.

Um silêncio acabou por se instaurar entre nós dois. Estávamos ali, observando a cidade juntos. Comecei a pensar que lutaria por ele. Que o que eu mais queria naquele momento era pertencer à ele. Ser a sua namorada. Mas Abby me puxava para baixo, como um peso que não deixa um balão subir.

CLEAN [Projeto 1989]Onde histórias criam vida. Descubra agora