Meio copo

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  Beba de mim. Sinta o calor da minha alma entre os seus lábios. Sinta a falta de pudor, o cheiro da pele quente depois de um dia no sol. Passei o dia a me bronzear pra você, me bronzeei nas letras e nas declarações, cheguei até a mergulhar no mar de palavras, se sinta honrado pois não sei nadar.
  Beba de mim. Volte para casa embriagado com o sabor do meu conhecimento. Volte para casa viciado. Viciado no conhecimento insano e nas ideias de fuga. E mais, volte para mim, sua reabilitação.
  Beba de mim. Se perca no contorno das casas, e esqueça o caminho do lar, esqueça a estradas dos tijolinhos amarelos até seus problemas.
  Beba de mim. Beba até que escorra como o orvalho pela manhã. Contorne e adorne a sua boca enquanto o sol cresce no horizonte, para que se encaixe nos padrões, para que seja amado.
  Beba de mim. Por que toda aquela ilusão vai valer a pena quando for mergulhar de cabeça nesse copo de bom senso. Não vai se achar. Não é como se você quisesse afinal.
  Beba de mim. Cresça e encolha no tamanho do seu intelecto no seu próprio país de maravilhas. Deixe que eu seja seu baralho, suas cartas, para que eu te leve pro meu cassino, e jogaremos a noite toda, e perderemos tudo.
  Beba de mim. Quero que meu copo se esvazie. Se está meio cheio ou meio vazio, não justifica o meio em que estou vivendo. Em meio a uma vida vazia de tão cheia.

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PS.: A frase na imagem  é de minha autoria.

Crônicas De Uma Bela EstranhezaOnde histórias criam vida. Descubra agora