7. Alucinação

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Continuação do Capítulo 5 - Descobertas Inesperadas.

Por Juliana

Depois da confusão inicial feita pelo anúncio de dona Eliza, ficou combinado que ela e Renata iriam para a delegacia acompanhar as buscas pelo paciente fujão, enquanto Ulisses e eu, ficaríamos no Café até o caminhão da entrega chegar e depois nos juntaríamos a elas.

Fico feliz por ter sido considerada de confiança o bastante para tomar conta de loja na sua ausência, apesar de nos conhecermos à apenas alguns meses.

Meu rosto está dormente de tanto sorrir, quando me despeço do último cliente que estava no Café e seguindo a instrução deixada por Renata, tranco a porta e coloco a plaquinha de "Fechado".

Renata nos disse para fechar a loja na primeira oportunidade que ela ficasse vazia, para evitar que novos clientes entrassem.

O clima de tensão e preocupação que emana de Ulisses era tão forte, que eu tive a vontade de abraçá-lo, mas não sabia como ele reagiria. Afinal, eu era quase uma estranha para ele.

Ouço o barulho de um copo quebrando, seguido de outro. Ulisses resmunga baixinho, enquanto tenta catar os cacos que estavam dentro da pia, onde ele lavava a louça.

Ele se vira para pegar um pano, mas esbarra com o braço em uma bandeja cheia de xícaras que caem no chão fazendo um grande barulho, espalhando cacos de porcelana e resto de cafés no chão da cozinha.

- Mais que merdaaa! - ele grita, irritado.- Agora vou ter que limpar isso tudoo!

Suspiro. Está na hora de intervir.

- Ei, deixa comigo, Ulisses! - digo me aproximando. Mas ele finge não me ouvir e continua catando os cacos do chão.- Deixa eu te ajudar?!

Ele resmunga baixinho e continua catando, até que um caco corta o seu dedo e começa a escorrer um pequeno filete de sangue pela a sua mão.

É a gota d'água.

- Agora chegaa! - digo irritada, puxando ele pelos ombros largos e forçando o seu rosto na minha direção, mas fico chocada com o que vejo: Ulisses estava chorando. Sem pensar duas vezes, puxo ele para um abraço apertado.- Ei, vai ficar tudo bem, Ulisses! Não precisa chorar, eles vão encontrá-lo e ele vai estar bem!

Passo as mãos pelas suas costas em um gesto de conforto, ele me aperta de volta. Se alguém chegasse agora, seria uma cena bem incomum: uma mulher do meu tamanho, acalentando um homem como Ulisses, com o dobro do minha altura. Mas eu tenho que me lembrar que ele tem apenas 15 anos, ainda é um menino.

Um menino preocupado e com medo do que possa ter acontecido com o seu irmão mais velho.

Ficamos assim por um tempo, até que sinto os seus braços afrouxarem da minha cintura, porém ele não me solta.

- Obrigada por estar aqui, Juliana! - ele diz, ainda abraçado comigo.- Eu não sei o que faria sozinho nessa situação!

- Está tudo bem, - digo, constrangida - eu não fiz nada demais. Eu só...

Nem consigo concluir a frase, pois Ulisses me encara com aqueles olhos cor-de-mel. Ele segura meu rosto com uma mão e a outra segura a minha cintura.

Ele só tem quinze anos.... Ele só tem quinze anos... Tenho que repetir essa frase na minha cabeça, forçando meu coração a parar de bater tão acelerado.

- Eu falo sério, Juliana! - Ulisses dá ênfase no meu nome.- Você não tem noção do quanto tem feito por nós, pela Renata... Fazia anos que eu não via a minha irmã sorrir, não depois do que aconteceu com ela....

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