4. Coisas Estranhas

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Quando eu tinha 6 anos, me lembro da minha tia Catarina chegar em casa chorando muito. Nós estávamos jantando e meus pais me mandaram para o quarto. Como uma criança curiosa que era, eu fiquei ouvindo atrás da porta. Ela chorava demais, meus pais tentavam indagar a ela o que havia acontecido, mas ela só conseguia balbuciar: " Uma tragédia... uma tragédia!"

Eu não sabia o que essa palavra significava, mas depois de um tempo, meu tio Augusto, marido de tia Catarina chegou. Ele tinha uma expressão pesada e triste, mas explicou para os meus pais o que havia acontecido: meu primo Guilherme, apenas dois anos mais velho que eu e a quem considerava um irmão, desapareceu naquela tarde, enquanto estava tomando um banho de cachoeira com alguns dos nossos primos mais velhos.

O corpo dele havia sido encontrado, cinco quilômetros do lugar onde ele havia desaparecido.

A partir daquele momento, eu associei a palavra tragédia às piores coisas do mundo.

Eu apenas me lembro de jogar uma nota no balcão da cafeteria e sair correndo em direção ao prédio da gravadora, sem me preocupar com os olhares assustados de Ulisses, Renata e Elisa. A minha amiga precisava de mim.

Enquanto eu corria para chegar até Alberta, eu só conseguia pedir a Deus: Por favor, que não tenha acontecido nada de mal com o senhor e a senhora Cavalcante!

Carlos e Andressa Cavalcante eram os pais de Alberta. Eles eram como se fossem os meus segundos pais, eles me ajudaram muito quando... quando aquilo aconteceu.

Eles me apoiavam mais que os meus próprios pais.

Alberta e eu nos conhecemos desde o primário. Eu a conhecia tão bem, como a mim mesma. Ela era a pessoa mais animada que eu conhecia e tinha um coração de ouro.

Então, ouvi-la chorar partiu o meu coração. Se alguém tivesse feito algo para ela, iria sentir toda a minha fúria.

Como eu fiz na oitava série com aquele namoradinho nojento dela.
Ele tentou forçá-la a dormir com ele, mas quando minha amiga disse não, ele pegou a garota a gente mais odiava no colégio e a beijou na frente de toda a escola. Alberta começou a chorar e ia sair correndo, porém eu a impedi. Fui até ele e dei um soco no seu nariz, seguido de uma joelhada nos países baixos.

Digamos, que Rodrigo Dumond nunca mais foi o mesmo.

Cheguei na gravadora em tempo recorde e me dirigi para o banheiro feminino do terceiro andar, quinta cabine, eu sabia que ela estaria ali.

- Alberta! - gritei, quando entrei pela porta do banheiro, parando na frente da quinta cabine.

Ela saiu de lá de dentro. Os seus lindos olhos azuis estavam vermelhos e inchados, seu deliniador havia escorrido pelo seu rosto de porcelana. Seus cabelos loiros, pareciam um balaio de gato. Alberta correu para os meus braços e me abraçou apertado.

- O que aconteceu, Beta? - digo, passando as mãos pelos cabelos dela, para acalmá-la.- Por que você está chorando?

- Apagou tudo, Ju...- disse, chorosa - Apagou tudo!

Eu olhei para ela confusa.

- Apagou tudo, o quê?!

- Meu computador...- ela disse, sofrida.- Hoje de manhã, eu cheguei e tinha um rapaz do informática mexendo nele.

Ela pausou, para assoar o nariz.

- Todo o meu trabalho estava lá, Ju! Como eu vou fazer agora?! - ela continuou.- Até os meus projetos para panfletos que o César pediu estavam lá... Ele vai me demitir!

Uau! Isso era um problema!
Mas algo estava errado nessa história. As formatações dos computadores eram programadas. Você tinha que pedir para o pessoal da informática para fazerem isso e mesmo assim, eles marcavam uma data para que casos como esse, do funcionário perder documentos importantes, nunca acontecesse.

Entre Versos & CançõesOnde histórias criam vida. Descubra agora