9. Segundas Chances

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Por Ricky Valentim

A brisa suave toca o meu rosto e refresca a minha pele aquecida pelo sol. O barulho das ondas quebrando na praia era o único som que se ouvia.

Eu sabia que a encontraria aqui. Mas apesar de tanto tempo separados, uma calma letárgica corria nas minhas veias, me impedindo de ficar ansioso.

Eu estava em paz.

Afinal, eu estava em casa.

Nossa casa.

Respiro fundo e sinto o cheiro salgado de mar invadir meus pulmões.

Abro meus olhos lentamente e lá estava Fernanda na minha frente. Ela não havia mudado absolutamente nada, desde a última vez que a vi, continuava linda.

Sorrio para ela.

Seus cabelos soltos e seu vestido branco esvoçante, balançando suavemente com a brisa.

Tão linda que parece uma deusa.

Porém seus olhos verdes penetrantes me encaravam indecifráveis.

- Por que você parou de cantar?- ela pergunta.- Eu amo o som da sua voz... Continue tocando...

Só então percebo que eu estava com um violão no colo. Passo as mãos por ele, porém mais que eu tocasse nas cordas, elas não faziam barulho nenhum.

- Acho que a minha inspiração se foi com você...- falo, desistindo de tentar tocar o violão

- E a sua inspiração também servia para te ajudava a cortar o cabelo ou fazer a barba?- Fernanda diz, sentando do meu lado.

Sorrio passando as mãos pelo meu queixo peludo, ela sempre odiou barba e meus cabelos já estavam batendo nos meus ombros,outra coisa que ela detestava.

- Ricky, meu amor...a sua inspiração existia antes de mim e vai continuar após... - ela continua, puxando o meu queixo para encará-la.- Está aí em algum lugar, você precisa reencontrá-la!

- Eu sei...- suspiro.- Mas eu não consigo sozinho...

- E quem disse que você está sozinho? - Fernanda passa as mãos pelas cordas do violão extraindo som.- Você tem muito talento... Mas tem um defeito horrível...

- E qual seria ele? - digo sorrindo, pois já sabia o que ela iria falar.

- Você não acredita em si mesmo...

Fernanda sempre me dizia isso. Quando eu tentava concluir uma música e não conseguia, ou quando estava para entrar no palco e o nervosismo fazia parecer que meu coração sairia pela a boca, "Acredite em si mesmo! Você é capaz!", ela sempre me dizia.

- Vem aqui!- colocando o violão na areia, faço um sinal para ela sentar no meu colo.

Fernanda se aconchega no meio das minhas pernas e ficamos abraçados. Meu rosto está entre os seus cabelos e aspiro o seu delicioso perfume.

Só quando o primeiro soluço escapa dos seus lábios, eu percebo que ela estava segurando para não chorar.

Seguro o seu queixo para ela olhar para mim e vejo os seus olhos cheio d'água. Abraço-a bem forte.

- Está tudo bem agora... Eu estou em casa...

- O que você fez, Ricky? - Fernanda me pergunta, agora com lágrimas escorrendo pelo rosto.- O que você fez?

Entre Versos & CançõesOnde histórias criam vida. Descubra agora