5. Descobertas Inesperadas

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A melhor parte de ser estagiária é a carga horária. O salário pode ser uma boa porcaria, mas pelo menos consegue manter os meus vícios em chocolates e livros.

Principalmente, livros.

Como faço faculdade de Publicidade na parte da tarde, entro na gravadora às sete horas da manhã e saio ao meio dia.

Porém, essas 5 horas nunca me pareceram tão longas como naquela fatídica segunda feira.

Depois de contar o episódio do computador para o César, eu tive que elaborar uma enorme mentira: disse que o meu projeto estava no computador de Alberta e que havia sido excluído na formatação.

Quando ele me perguntou, o porquê que meu projeto estava no computador dela, tive que mentir novamente, dizendo que pedi para ela revisar o texto para mim.

César pareceu não acreditar em mim. Mas disse que iria mandar investigar o ocorrido com o computador dela.

Eu pude ver a decepção nos seus olhos e aquilo me entristeceu. Logo agora que a gente estava começando a melhorar o nosso relacionamento supervisor-estagiária.

Eu passei o resto do manhã, evitando-o, mas parecia que para todo lugar que eu iria, ele também estava.

Alguns minutos antes da reunião, Alberta me procurou e tentou fazer com que eu desistisse e apresentasse o meu projeto, mas eu já havia dito para o César que o perdi, então se apresentasse agora, eu teria que confessar que menti.

E não sei, mas por algum motivo, eu não queria decepcioná-lo de novo.

Porém, meu plano não deu certo.

Todos os outros 13 estagiários do turno da manhã apresentaram os seus projetos, quando chegou a vez de Alberta e o (meu) projeto foi exposto na tela, César ficou subitamente rígido. Ele olhou para mim, para o telão e para mim de novo, arqueando as sobrancelhas em um gesto de extrema surpresa. Eu dei os ombros e desviei o olhar.

Mas eu podia sentir o seu olhar queimando o lado direito do meu rosto, durante toda a apresentação.

Todos estranharam o fato de eu não apresentar nenhum projeto, mas eu não me importei com os olhares e risinhos - esses ultimos vindos da Camila.

No final, o (meu) projeto da Alberta foi o escolhido. César não fez nenhum comentário, mas eu podia sentir o olhar de desaprovação que ele me mandava.

Alguns estagiários cumprimentavam Alberta que sorria, mas eu a conhecia bastante e toda vez que ela me olhava, eu podia ver a tristeza e vergonha que ela tentava não demonstrar.

- Eu me sinto tão culpada!

Alberta disse, enquanto a gente batia os nossos cartões para registrar a nossa saída. Eu revirei os meus olhos.

- Para com isso, mulher! A sua apresentação foi incrível!

- Só porque o projeto era seu e você escreveu tudo o que eu devia falar!- ela protestou.

- Pelo amor de Deus, Alberta! - exasperei-me -Chega!

Ela me olhou assustada. Mas eu não me importei, aquele assunto já estava rendendo mais que devia.

- Eu já te disse que eu não me importo, está tudo bem! Agora vamos trocar de assunto!

Alberta assentiu, mas eu vi que seus olhos se encheram d'água pelo jeito que  falei com ela.

Eu me arrependi, mas não iria pedir desculpas. Só queria esquecer aquele assunto.

- Aqui! - eu digo, tirando os dois convites para o coquetel que César, me convidou e entrego nas mãos dela- Você não vai acreditar no que é isso...

Entre Versos & CançõesOnde histórias criam vida. Descubra agora