Asher
Eu não conseguia tirar a imagem daquela menina da minha cabeça, não a conhecia, não sabia nem mesmo o seu nome, mas ela não saiu do meu pensamento por um único segundo. Eu sonhei com ela esta noite. Geralmente esqueço o que sonhei assim que acordo, só que desta vez eu me lembrava de tudo.
Primeiro eu a vi há certa distância, tudo o que eu conseguia enxergar eram os seus cabelos castanhos claros, que possuíam mechas em um tom acinzentado, que balançavam por causa do vento forte. Este mesmo vento fazia com que o seu vestido longo ficasse quase tão esvoaçante quanto suas longas madeixas. O vestido era vermelho vivo e fazia com que a sua pele extraordinariamente clara sobressaísse através do tecido.
Ela se virou e caminhava devagar na minha direção. Ela era ainda mais linda do que eu imaginava, parecia frágil e indefesa, porém eu pude ver, através da sua íris escura, uma chama em seus olhos, e a partir desse momento eu tive certeza de que essa menina, quem quer que fosse, sabia muito bem se defender sozinha.
A menina parou e sorriu. Sua boca se mexeu e, apesar de eu estar a metros de distância, consegui ouvi-la dizer perfeitamente: "Estou indo". Um calor inesperado percorreu o ambiente desconhecido e tocou minha pele, como se a simples miragem de uma estranha pudesse fazer meu corpo estremecer. Com as palavras ecoando sem fim em meus ouvidos eu acordei.
***
Ainda estava na mesma cama de sempre, em frente a outro beliche com garotos adormecidos, e rodeados por uma familiar bagunça de roupas e brinquedos.
Levantei ofegante, e completamente confuso, andei até a janela tentando não fazer nenhum barulho, não seria bom para o meu lado ter três meninos acordados e furiosos comigo. Debrucei-me na janela e repassei na cabeça o mesmo sonho, vinte vezes seguidas. Pena que eu não consegui decifrá-lo. A noite passada se repetia infinitas vezes na minha cabeça.
Um barulho alto me puxa do meu devaneio.
Quando o sinal que indica o fim da aula tocou, eu decidi que talvez aquele sonho tinha sido uma coisa boa. Pelo menos deu a oportunidade do meu cérebro ter um descanso daqueles pesadelos horríveis que vem me perseguindo a mais de um mês.
Todas as noites eu acordo sem conseguir respirar por culpa desses malditos sonhos, e são sempre as mesmas coisas, vultos pretos e sem feições que tentam me alcançar. Vai saber o que isso significa. No momento, tudo o que eu fazia era imaginar aquela menina mais uma vez. Para ser honesto, eu pensei nela umas quinhentas vezes, no mínimo, só nos últimos cinquenta minutos.
Recolhi o meu material com pressa ao perceber que não havia mais ninguém dentro da sala de aula, andei os corredores com pressa até achar o meu armário. Mal percebi quanto tempo havia passado, não tinha a menor ideia sobre o assunto tratado na aula que eu acabei de assistir, já era hora do almoço e meus amigos praticamente me arrastaram para a cafeteria do lado de fora do prédio. Eles conversavam sobre algum assunto relacionado a esportes, isso foi tudo o que consegui identificar da conversa porque a única coisa em minha mente era a imagem daquela menina do sonho. Mal sabiam eles que, enquanto os seguia para o nosso tradicional lugar no pátio, eu estava na verdade repassando o sonho de ontem à noite repetidamente na minha cabeça. E eu tinha que admitir, foi um sonho estranho pra caramba.
***
Dois dias se passaram desde aquela noite, mas não importa quanto tempo passou, ou quantas coisas eu faça para me distrair, eu não consigo tirar a imagem daquela menina da cabeça. E olha que eu até tentei estudar.
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Duelo de anjos
FantasyToda menina comum vai ao shopping, faz compras, e morre de tédio à tarde em casa, mas não é assim que as coisas funcionam para Lydia. Sua casa é sua escola, mas não é um colégio tradicional, ao invés de aula de matemática, ela tem aula de combate c...